Luto

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Agora são dias de luto. Depois teremos o tempo de apuramento de responsabilidades. Sem confundir culpa e responsabilidade. Sem confundir apuramento de responsabilidades políticas e demissão/culpabilização da atual ministra (que, inevitavelmente, terá de ser substituída). Porque "Não há rigorosamente nada de novo a dizer. Já tudo foi estudado, explicado e escrito na última década e meia. Houve comissões para todos os gostos e feitios. E foi feito muito trabalho sério. Faltou tudo o resto. Faltou pôr a tratar de incêndios florestais quem percebe de floresta. Faltou integrar prevenção e combate. Faltou ordenamento. Faltou pensar no longo prazo. E adiou-se o mesmo de sempre: fazer da floresta uma prioridade, fazer de um terço do território nacional uma prioridade" (lido no Público, 18 de junho). Porque o Caramulo (onde morreram vários bombeiros) já foi há quatro anos. Porque o Presidente da República comprometeu-se em 2016: "Marcelo vai estar atento às medidas para fazer face às consequências dos fogos." Porque a incompetência e o desleixo não podem encontrar justificação na meteorologia (dizia o Bloco de Esquerda, e bem, em 2013). Porque não me assusta concluir que os responsáveis são deste e dos anteriores governos, e das mais variadas autoridades que impediram o desenvolvimento das políticas corretas nos últimos 20 anos. Porque quando morrem 62 pessoas há um Estado que fracassou a sua missão mais genuína - proteger os seus cidadãos. Porque Portugal merece o seu primeiro inquérito sério e responsável, daqueles que nunca teve, um inquérito em que "ir até às últimas consequências, doa a quem doer", não seja uma piada. Porque a ponte de Entre-os-Rios caiu em março de 2001, mas o Estado ainda não tinha cumprido cabalmente as suas obrigações em 2015. Porque basta de abraços, beijinhos e conversa fiada. Porque, manifestamente, não se fez tudo o que se podia fazer para evitar esta tragédia. Porque Portugal não precisa de mais consensos manufaturados para que tudo fique sempre na mesma. Mas hoje são ainda dias de luto. Depois chegarão os dias da verdade!

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