Havia uma aposta ainda mais ousada do que a do Leicester ser campeão inglês: Donald Trump chegar à Casa Branca. Eu sei que é indecente comparar um feito humilde e valoroso, sem consequência maior do que alguns comas etílicos, com a entrega do maior poder do mundo a um boquirroto. Mas eu junto as duas improbabilidades para lembrar que só um punhado de fãs arriscou algumas libras, na mira de as multiplicar por 5000, e que um partido, que governou a América mais de metade do último meio século, não viu Donald Trump chegar. Adivinhar ventos não é próprio nem de frequentadores de pubs ingleses nem da elite conservadora americana. Até ontem, o número de governadores e congressistas do Partido Republicano que apoiavam Trump não era metade dos apoiantes de Ted Cruz. Com os resultados de Indiana, a escolha do candidato republicano está feita, será Trump, e não foi a que o establishment do partido quis. Isso seria o menos não fosse esse incómodo partidário poder vir a ser americano e, portanto, mundial. Nesta semana, pela primeira vez, uma sondagem nacional (da Rasmussen Reports) punha Donald Trump (41%) à frente de Hillary Clinton (39%) caso sejam eles os candidatos presidenciais em novembro. Quer dizer, aquela forma de Trump disparatar, sem receio de ofender, é mais do que uma tendência política. Melhor seria darmos conta do que leva a sociedade a dar-lhe ouvidos. Porque surpresas simpáticas é melhor só contar no futebol.