02 abril 2017 às 00h46

Campeonato passa por Alvalade

António Tadeia

Aextraordinária importância do Benfica-FC Porto de ontem percebe-se num detalhe que é um pormaior. É que nas últimas dez épocas só uma equipa conseguiu sagrar-se campeã nacional sem ser a melhor do minitorneio a três entre os grandes do futebol nacional: foi o Benfica de Rui Vitória, a quem a limpeza com que se foi livrando de todos os pequeninos que se lhe atravessaram no caminho chegou para ganhar a Liga de 2015-16, mesmo sendo o pior desse minicampeonato, com uma vitória e três derrotas. O empate de ontem não vem mais do que confirmar esta tendência: mesmo tendo mantido a liderança na tabela segura por um ponto e por inerência a maior dose de favoritismo, para ser campeão é muito provável que o Benfica precise de assegurar o sucesso neste minicampeonato, o que conseguirá desde que pelo menos não perca com o Sporting em Alvalade, no final deste mês.
Terá sido a consciência desse facto, associada à noção de que essa era a melhor forma de explorar as fragilidades do FC Porto, que levou o Benfica a baixar linhas e a entregar o controlo do jogo aos portistas depois de desbloquear cedo o resultado, com um golo de penálti de Jonas. Essa opção estratégica, no entanto, acabou por conduzir os dragões a um cenário de domínio territorial que lhes permitiu acabar melhor a primeira parte, começar ainda melhor a segunda e a chegar com justiça ao golo do empate, por Maxi Pereira. Até final, com um misto de coragem coletiva e do brilho de Casillas, o FC Porto suportou o assédio do Benfica e deixou o campeonato em aberto. Na verdade, porém, isso já se tinha percebido: ganhasse quem ganhasse, mesmo tendo em conta a enorme vantagem psicológica que um bom resultado no encerramento do confronto direto entre os dois candidatos colocava em cima da mesa, não ia haver campeão. É que outro aspeto em que a Liga anterior acabou por revelar-se atípica foi a forma como os dois sprinters que a discutiram até ao final - o Benfica de Vitória e o Sporting de Jesus - acumularam sucessos nas derradeiras jornadas, tendo a equipa encarnada chegado ao tricampeonato muito em função do embalo que lhe garantiu a vitória sobre os leões em Alvalade, em março. O normal, desta vez, é que tanto um como o outro acabem por perder pontos até ao final, o que faz com que as margens existentes entre ambos se tornem exíguas e que aquilo que os dois treinadores têm vindo a defender - que a Liga vai jogar--se, como reforçou Rui Vitória, "ponto a ponto, golo a golo" - é mesmo verdade e não apenas conversa de circunstância para tirar pressão de cima do clássico.
Até ao final da Liga, tanto o Benfica como o FC Porto têm três jogos em casa e quatro fora. Daqui, ninguém sai em vantagem. Mas a coisa complica-se quando se coloca na lista o nome dos adversários e, apesar da viagem a Alvalade para defrontar o Sporting pesar no calendário que resta aos tricampeões nacionais, sobram duas ideias: a de que dificilmente os dois repetirão o épico sprint final protagonizado pelos dois candidatos na época passada, após o dérbi de março, e a de que, apesar de tudo, o que falta ao Benfica é menos complicado do que o que falta ao FC Porto. Sim, o Benfica terá a deslocação mais complicada, mas o FC Porto não tem nenhuma saída que possa apresentar-se como menos tensa - até o único jogo que têm em comum, que é a viagem a Moreira de Cónegos, parece mais facilmente ultrapassável pelo Benfica, que lá vai já para a semana, do que pelo FC Porto, que por lá passará no último dia, quando o resultado pode vir a ser questão de vida ou de morte para os comandados de Petit.
De resto, enquanto o Benfica passa pelos terrenos dos tranquilos Rio Ave e Boavista, para os quais a Europa não parece ser já possibilidade, ao FC Porto restam idas a Chaves - onde já caiu para a Taça de Portugal - e aos terrenos de Sp. Braga e Marítimo, equipas seriamente apontadas a uma qualificação europeia e para as quais a perda de pontos pode fazer toda a diferença entre o sucesso e o fracasso. Depois, é verdade, ao FC Porto restam partidas mais fáceis em casa. Pelo Estádio do Dragão passarão os já tranquilos Belenenses e Feirense, bem como o Paços de Ferreira, que teria até à penúltima jornada para assegurar a fuga a uma descida que seria uma enorme surpresa, enquanto o Benfica terá nas receções aos possivelmente europeus Marítimo e V. Guimarães duas partidas complicadas, sobretudo se a equipa confirmar a perda de fulgor que se lhe viu nas últimas semanas.
Vamos ter campeonato até ao fim.