Política dissimulada

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A Assembleia da República voltou ontem a dar um exemplo de que os interesses partidários, frequentemente, se sobrepõem aos interesses do país. Como bem lembrou o líder parlamentar do PSD, PCP e Bloco simularam uma divergência profunda com o governo, à espera que os sociais-democratas salvassem a medida negociada na concertação social. A simulação era tão evidente que os partidos (Bloco e PCP) que quiseram chumbar a descida da TSU mostraram grande incómodo por terem o apoio do PSD à sua iniciativa parlamentar.

Simulação maior, ainda assim, foi a do próprio PSD, que fez de conta que o seu voto contra era genuíno. Como se não tivesse defendido o mesmo no passado, baixando a TSU para compensar os empresários pela subida do salário mínimo nacional. Como se não estivesse a dizer igualmente que considera o aumento excessivo, como se não fosse defensor de uma compensação para as empresas.

No final do debate, os lobos socialistas, com pele de cordeiro, acabaram tosquiados. Sabemos, porque Marcelo Rebelo de Sousa não simulou ter estado ausente deste debate, que foi o Presidente da República que obrigou o governo a não tomar decisões unilateralmente quanto à subida do salário mínimo. Pressionados por Belém, simulando uma aproximação às teses do PSD, os socialistas esperaram por um voto que nem sequer tentaram negociar. Foi o governo que chegou a afirmar que o salário mínimo aumentaria mesmo sem haver acordo na concertação social.

E agora, que não há descida da TSU, comunistas e bloquistas simulam que o plano B a ser apresentado pelo governo não é uma compensação à subida do salário mínimo. Eles estão contra qualquer compensação e, por isso, não poderiam apoiar nenhuma medida nesse sentido.

É claro que esta forma de fazer política (neste episódio só escapou o CDS) não ajuda nada na relação com os eleitores. Houve demasiada tática, demasiada incoerência, demasiada soberba. Passou a ideia de que a maioria dos deputados estava mais interessada no passa-culpas do que em resolver os problemas.

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