Puigdemont acusa Madrid de suspender autonomia catalã

Rajoy defendeu as detenções e buscas de ontem com o cumprimento da lei e chamou quimera impossível ao referendo
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"O governo da Catalunha foi hoje objeto de uma agressão coordenada pelas forças policiais do governo espanhol com o objetivo de impedir que os catalães se possam expressar em paz e liberdade a 1 de outubro com o propósito de suspender o governo catalão". Foi assim que ontem Carles Puigdemont, presidente da Generalitat, reagiu à detenção de 14 elementos ligados ao governo catalão e buscas a dezenas de locais em Barcelona relacionados com o referendo independentista de 1 de outubro (1-O).

Rodeado pelos membros do Conselho Executivo da Generalitat, Puigdemont apelidou a ação de ontem como "repressiva e intolerante", garantindo que o referendo vai realizar-se. "Nós, cidadãos, estamos convocados para o 1-O para defender a democracia face a um regime repressivo e intimidatório. E temos de dar uma resposta massiva e cívica. Temos de nos preparar para responder com as únicas armas que temos, a resposta cidadã e a atitude pacífica e civilizada que nos tem caracterizado", afirmou.

Nas primeiras horas da manhã de ontem, a Guardia Civil apreendeu cerca de dez milhões de boletins de voto em Barcelona, tendo detido 14 pessoas ligadas à Generalitat, incluindo o número dois do vice-presidente do governo catalão, e levou cabo 41 operações de buscas em dependências do governo. "Foram feitas por decisão do juiz para que se cumpra a lei", declarou o primeiro-ministro Mariano Rajoy, no Parlamento, à tarde.

Ao final do dia, Rajoy fez uma declaração na qual afirmou que "nada pode pretender estar acima da lei. A polícia está a defender os interesses de todos os cidadãos, incluindo dos catalães". "A desobediência à lei por parte de um poder público é contrária à democracia. Votar só é sinónimo de democracia quando é feito de acordo com a lei. Não se pode votar para incumprir a lei, pode votar-se para mudá-la", prosseguiu o chefe do governo espanhol.

Na sua curta declaração, Rajoy deixou ainda um recado a Carles Puigdemont: "Aos governantes da Generalitat recomendo-lhes que cessem as suas atividades ilegais. Sabem que este referendo não pode ser celebrado. Agora não é mais do que uma quimera impossível". Mas também um aviso: "Garanto-lhes a minha determinação em fazer cumprir a lei sem renunciar a nenhum dos mecanismos do nosso Estado de Direito".

Centenas de manifestantes juntaram-se à porta da sede da Generalitat, empunhando Estreladas (a bandeira da Catalunha independentista), entoando palavras de ordem como "Fora forças ocupadoras" ou "Onde está a Europa?" e empunhando cartazes que pediam "Democracia" e "Votar para ser livre". O Departamento de Economia, onde foram realizadas buscas, também foi palco de protestos. Ao final do dia, a Guardia Urbana de Barcelona estimava que estavam 40 mil pessoas à porta deste local.

A sede da CUP (Candidatura de Unidade Popular), um dos partidos independentistas, esteve durante horas cercada pela Polícia Nacional, com centenas de populares a impedirem a entradas das autoridades, que acabaram por abandonar o local ao final do dia sem conseguir cumprir o seu objetivo.

Na Porta do Sol, em Madrid, centenas de pessoas começaram a juntar-se ao final do dia, exigindo o "direito a decidir". Lá estavam também vários políticos, como Pablo Iglesias, líder do Podemos, e Alberto Gárzon, da Esquerda Unida.

Barcelona defende consulta

O Barcelona FC tomou ontem posição sobre a realização do referendo, "na sequência dos eventos dos últimos dias, e especialmente hoje, em relação à situação que se vive na Catalunha". O clube de futebol afirma que "fiel ao seu compromisso histórico com a defesa do país, da democracia, da liberdade de expressão e do direito de decidir, condena qualquer ação que possa impedir o exercício pleno destes direitos".

Neste sentido, o Barcelona decidiu manifestar "o seu apoio a todas as pessoas, entidades e instituições que trabalham para garantir estes direitos", garantindo que o clube "continuará a respeitar a vontade da maioria do povo da Catalunha, expressada sempre de uma forma cívica, pacífica e exemplar".

Duas dezenas de ordens profissionais catalãs defenderam, num comunicado conjunto, que os cidadãos da Catalunha possam exercer os direitos democráticos, entre eles os de voto e expressão. E rejeitaram "o procedimento autoritário e repressivo do Estado", dando o "seu apoio ao direito a decidir dos cidadãos da Catalunha". Já os reitores das universidades públicas catalãs condenaram "os episódios coercivos da liberdade de expressão que tiveram lugar estes dias", defendendo o "diálogo" como a única forma "de entendimento em democracia".

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