Um helicóptero da polícia roubado por cinco homens de uniforme, mas só um com o rosto descoberto. Pelo menos 15 tiros disparados do ar contra uma festa no Ministério do Interior e da Justiça e quatro granadas lançadas contra o Supremo Tribunal. Um vídeo a reivindicar a ação na rede social Instagram, onde o piloto - o inspetor da polícia Óscar Pérez - diz querer "devolver o poder ao povo democrático" e apela aos venezuelanos que se oponham à "tirania" de Nicolás Maduro. Um "ataque terrorista", segundo o governo. Uma montagem destinada a justificar uma maior repressão no país onde há mais de três meses há protestos diários, para os opositores.."Parecia um filme. Algumas pessoas dizem que foi uma montagem, outros que foi verdadeiro...", resumiu o presidente da Assembleia Nacional, Julio Borges, da oposição. "Estão a acontecer milhares de coisas e eu sintetizo-as de uma maneira: um governo que está decadente e a apodrecer e um país que está a lutar por conquistar a sua dignidade", acrescentou..As autoridades procuravam ontem encontrar Pérez, havendo relatos de que o helicóptero terá sido abandonado em Higuerote, na costa das Caraíbas. Ninguém ficou ferido na ação que decorreu ao final da tarde de terça-feira. O piloto foi rapidamente identificado pelo ministro para a Informação, Ernesto Villegas, como sendo Óscar Pérez, um inspetor do Corpo de Investigações Científicas, Penais e Criminais, ao qual pertence o helicóptero roubado da Base Aérea Francisco de Miranda. Pérez é também um ator (ver texto secundário) e disse em vídeo não pertencer a um grupo político.."São ataques terroristas dentro da ofensiva de insurreição por extremistas da direita venezuelana com o apoio de governos e poderes estrangeiros", segundo o comunicado, que dizia que as granadas usadas eram de origem colombiana e que o piloto estaria a ser investigado por ligações à CIA. "Este é o tipo de escalada armada que eu tenho vindo a denunciar", disse Maduro, anunciando ter mobilizado toda a Força Armada "para defender o direito à tranquilidade"..O presidente revelou que o piloto trabalhou para o ex-ministro do Interior e da Justiça Miguel Rodriguez Torres, que Maduro acusa de ligações à CIA. Este negou qualquer envolvimento com o caso e apontou também para a hipótese de ter-se tratado de uma montagem. "Não estou convencido com o incidente com o helicóptero", afirmou à Reuters. "Foi um espetáculo barato. Quem ganha com isto? Só Nicolás por duas razões: para dar credibilidade à sua conversa de golpe de estado e para acusar o Rodriguez", referindo-se a si próprio..Para os críticos do presidente, a ação com o helicóptero serviu para desviar as atenções de o facto de vários deputados terem sido cercados por gangues na Assembleia e de o provedor para os direitos humanos, aliado de Maduro, ter agora poderes antes atribuídos só aos procuradores. Mais cedo o presidente dissera que "aquilo que não conseguirmos fazer através dos votos, faremos através das armas". Há três meses que os venezuelanos protestam diariamente contra o presidente, exigindo eleições gerais - pelo menos 75 pessoas já morreram. Maduro respondeu aos protestos convocando uma Assembleia Constituinte, para mudar a Constituição.