Desportos
26 junho 2019 às 21h02

"Expetativas superadas". Esta já é a melhor participação de Portugal nos Jogos

O ouro de Fu Yu no ténis de mesa na quarta-feira foi a 11.ª medalha da comitiva portuguesa em Minsk, superando as dez de há quatro anos em Baku. Marco Alves, chefe da missão nacional, admite que foram superadas as expectativas e lembra: "Estes Jogos ainda não acabaram..."

David Pereira

A comitiva portuguesa presente nos Jogos Europeus de Minsk já fez história, ao garantir esta quarta-feira a 11.ª medalha, no caso uma de ouro através de Fu Yu, no ténis de mesa - ganhou na final à alemã Ying Han. Ou seja, está batido o recorde de 10 medalhas alcançado em Baku 2015, na primeira edição dos Jogos Europeus.

À medalha de Fu Yu junta-se outra de ouro, de Carlos Nascimento, nos 100 metros; e cinco de prata, alcançadas por: equipa de judo na prova mista, ciclista Nelson Oliveira (contrarrelógio), ginastas acrobatas Bárbara Sequeira, Francisca Maia e Francisca Sampaio Maia, em combinado e no exercício dinâmico, e Fernando Pimenta em K1 1000. Na prova de equilíbrio, as ginastas ainda conseguiram uma medalha de bronze, também alcançada pela judoca Telma Monteiro (-57 kg), pela estafeta mista dos 4x400 metros (Ricardo dos Santos, Cátia Azevedo, João Coelho e Rivinilda Mentai) e por Diogo Ganchinho nos trampolins.

Esta quinta-feira vão haver quatro finais para a canoagem: David Varela/Emanuel Silva/João Ribeiro/Messias Baptista em K4 500 (08.20), K4 500 Joana Vasconcelos/Teresa Portela/Francisca Laia/Francisca Carvalho em K4 500 (09.05), Hélder Silva em C1 200 metros (12.20) e Emanuel Pimenta em K1 5.000 (14.30).

Marco Alves, chefe da missão portuguesa nos Jogos Europeus, admitiu ao DN que as onze medalhas já alcançadas superam as expectativas com que a comitiva partiu para Minsk. "Depois de avaliarmos a competitividade que prevíamos para estes jogos, apontávamos para um total de medalhas semelhante às que conquistámos em Baku, ou seja, a rondar as dez, mesmo sem o triatlo e o taekwondo, modalidades em que subimos ao pódio, mas que não fazem parte do calendário destes Jogos de Minsk", começou por dizer, lembrando depois que "estes Jogos ainda não acabaram"...

Na prática, Marco Alves considera que Portugal ainda pode "conquistar mais medalhas", mas não só. "Há todo um conjunto de classificações meritórias, pois à semelhança dos Jogos Olímpicos, são atribuídos diplomas até ao sexto lugar, e neste momento já temos seis", explicou, enaltecendo que esta prestação dos atletas portugueses "é muito meritória" e "é um marco de qualidade no contexto europeu, onde estão presentes 50 países".

O chefe da missão portuguesa lembra que os Jogos Europeus estão apenas na segunda edição, é por isso "muito jovem", mas que surgiram num contexto muito próprio: "Há muito que a Europa reclamava por uns Jogos Olímpicos à escala continental, tal como acontece noutros continentes. Trata-se de um evento com todo o envolvimento característico de uns Jogos Olímpicos e que já conseguiram nesta edição trazer atletas de diversas modalidades para alcançarem o apuramento para Tóquio 2020. Nesse sentido, os Jogos Europeus estão cada vez mais importantes no planeamento dos atletas."

Em vésperas do início dos Jogos, José Manuel Constantino, presidente do Comité Olímpico de Portugal, tinha desejado uma participação ao nível de a de há quatro anos. "Podem não ser as 10 medalhas, haver diferentes distribuições. Podem ser menos e as posições mais valiosas, podem ser mais e a distribuição ser inferior. Mais do que a quantidade, gostaríamos de manter o nível quase igual nas posições de pódio, finalista e top 16", referiu na altura o dirigente, agora satisfeito com os resultados: "Superaram as nossas expectativas."

José Manuel Constantino mostrou-se "naturalmente satisfeito" por acreditar que as pontuações obtidas em Minsk podem ter superado as da primeira edição, em Baku, em 2015.Ainda assim, o presidente do COP "espera que [estes resultados] sejam inspiradores para os dias que ainda faltam".

Tiago Brandão Rodrigues, ministro da Educação, também tinha expressado no último sábado bastante otimismo com a comitiva portuguesa, numa altura em que Portugal tinha conquistado três medalhas. "O que o Governo espera, e é isso que transmite sempre aos atletas, aos treinadores, ao Comité Olímpico de Portugal, é que cada um dos atletas se possa superar e possa fazer melhor do que fez em campeonatos similares anteriores, que cada um dos atletas se possa verdadeiramente superar e trazer para Portugal o máximo que possa verdadeiramente dar", afirmou.

A verdade é que as expectativas do máximo dirigente português foram superadas em termos de quantidade, com Portugal até ao momento a chegar às 11 medalhas (há possibilidade de chegar a mais) e com um 8.º lugar no medalheiro da prova - dois ouros, cinco pratas e quatro bronzes.

Há quatro anos, no Azerbaijão, na primeira edição dos Jogos Europeus, Portugal chegou às 10 medalhas e terminou no 18.º lugar do ranking. Nesse ano de 2015, a comitiva lusa conquistou três ouros, quatro pratas e três bronzes. João Geraldo, Marcos Freitas e Tiago Apolónia (ténis de mesa), Rui Bragança (taekwondo) e Telma Monteiro (judo) conquistaram ou ouro; João Silva (triatlo), Fernando Pimenta (2 medalhas em K1 1000m e K1 5000m, canoagem) e João Costa (tiro) foram prata; Júlio Ferreira (taekwondo), Ana Rente e Beatriz Martins (trampolim sincronizado feminino) e futebol de praia conquistaram o bronze.

Ajustes em relação há quatro anos

Até ao dia 30 de junho, a Bielorrússia protagoniza o ajuste do evento a uma realidade mais sensata, depois da bitola alta colocada há quatro anos pelo Azerbaijão, quando o regime azeri tentou a validação internacional através de um acontecimento em Baku a fazer lembrar os Jogos Olímpicos, com um forte investimento em infraestruturas e um grande aparato festivo.

A primeira edição decorreu ao longo de 17 dias, contudo, o programa foi agora ajustado para somente 11: os seis mil atletas em competição na estreia diminuíram para quatro mil, que se aplicarão em 200 eventos de medalha, face aos 253 de há quatro anos.

Da mesma forma, os 20 desportos passaram a 15, sendo que, de alguma forma, 10 das 13 modalidades do programa de Minsk que também estarão em Tóquio 2020 têm aqui uma etapa que conta para o apuramento para o Japão.

Dessas 10, há três que atribuem vagas diretas, nomeadamente o tiro, tiro com arco e no ténis de mesa. Minsk 2019 tem uma importância redobrada para várias modalidades, uma vez que serão Europeus para a canoagem, para o judo, para o badminton e para o pugilismo, o único desporto dos quatro que não conta com portugueses

Minsk surgiu como uma espécie de plano B, após a Holanda ter anunciado, ainda em 2015, a desistência de organizar a prova em 2019. Metade dos 125 milhões de euros orçamentados seriam suportados pelo governo e não havia a garantia por parte do comité olímpico local de que o executivo assegurasse essa parcela.

Depois de algumas cidades não terem materializado em candidatura o interesse revelado, a polaca Cracóvia parece não ter rival e deve ser formalizada como a cidade organizadora dos III Jogos Europeus, em 2023, decisão a anunciar após a assembleia geral dos comités olímpicos europeus que vai decorrer sábado em Minsk.

Os Jogos Europeus, cuja segunda edição está a ser realizada em Minsk, Bielorrússia, têm ainda vários desafios para se enraizarem na elite do desporto internacional, principalmente em termos competitivos e financeiros. "A sustentabilidade futura tem ainda muitos passos para percorrer. A sustentabilidade financeira e a sustentabilidade no quadro competitivo internacional", considerou o presidente do Comité Olímpico de Portugal, antes do início das provas.

José Manuel Constantino explicou que "algumas federações europeias torceram o nariz a esta competição", recordando que em 2018 sete se uniram em europeus conjuntos, nomeadamente em Glasgow, com a natação, ciclismo, golfe, ginástica, remo e triatlo, enquanto Berlim ficou com as provas de atletismo, no mesmo projeto conjunto.

"O problema que aqui se põe é da disputa do mercado desportivo. Para algumas federações internacionais não interessa sobrecarregar o quadro competitivo com eventos dos quais não retiram benefícios financeiros. Fazem algum braço de ferro com os Comités Olímpicos Europeus. É um desafio que não está vencido. Não sei o que vai ser no futuro", advertiu na altura o líder do COP.

"Contrariamente aos Jogos Olímpicos de verão e inverno, já consolidados, todos estes eventos vivem alguma instabilidade, quer das cidades organizativas, quer da capacidade de sustentar essas candidaturas, quer a sua continuidade", exemplificou.

José Manuel Constantino entende, por isso, que Portugal tão cedo não se vai aventurar num desafio destes: "Não creio que se esse problema se possa colocar a Portugal nos próximos anos. Não vejo o país com condições para poder candidatar-se a uma organização desta natureza. De todo".

"Tem a ver com o grau de desenvolvimento desportivo, das infraestruturas, os custos elevadíssimos e o país tem outras prioridades do que candidatar-se à organização com esta escala e dimensão, mesmo tratando-se dos Jogos Europeus", justificou.

Com Lusa