Instabilidade do Rio serve de lição para a escolha das próximas sedes
Não foi este Brasil que ganhou, em outubro de 2009, o direito de organizar os Jogos Olímpicos de 2016: foi um país bem diferente do caos económico, político e social em que a nação brasileira está agora mergulhada. A promessa de uma festa grandiosa, nos primeiros JO realizados na América do Sul, corre sérios riscos de sair gorada, entre os atrasos nas obras, a ameaça da poluição e toda a instabilidade que afeta o dia-a-dia brasileiro. Porém, enquanto é cedo para tal balanço (a competição decorre oficialmente de 5 a 21 deste mês, embora o torneio de futebol feminino arranque já hoje), o Comité Olímpico Internacional já tira uma lição de toda a conjuntura: será preciso ponderar bem antes de voltar a entregar o maior evento desportivo mundial a um país emergente, dizem os seus dirigentes.
Antes do Rio 2016, a intenção declarada do Comité Olímpico Internacional (COI) era transformar os Jogos numa festa cada vez mais universal, abrindo a porta à possibilidade de a Índia e os mais pujantes países africanos virem a organizar o evento nas próximas décadas. Porém, todos os problemas surgidos no Brasil levam o organismo a recuar na ambição. "O Rio tem sido o maior desafio que já enfrentámos. Talvez tenhamos de pensar melhor antes de ir para o último continente [ao qual falta acolher os Jogos Olímpicos]. Temos de ter garantias de que vai ser um sucesso", afirma o norueguês Gerhard Heiberg, membro do COI e responsável máximo pela organização dos Jogos Olímpicos de inverno Lillehammer 1994, citado pelo The Wall Street Journal.
Quanto ao Rio 2016, o sucesso ainda não está garantido. "O caminho foi longo e difícil para chegarmos até aqui. Foi um grande desafio. Não é exagero admitir que o povo brasileiro passou por períodos muito particulares. A crise política e económica no país não tem precedentes", reconheceu o presidente do Comité Olímpico Internacional, Thomas Bach, na segunda-feira, no discurso de abertura do congresso da organização, na cidade brasileira. No entanto, esse percurso tortuoso funciona como um ensinamento.
"A lição é de que muitas coisas podem mudar em sete anos", sublinha o canadiano Dick Pound, outro dirigente veterano do COI. No Rio de Janeiro, mudou a conjuntura económica, política e social, com o Brasil a ser abalado pela maior recessão em décadas, por uma instabilidade política permanente (o julgamento do processo de destituição de Dilma Rousseff, presidente atualmente suspensa de funções, começa no dia 29) e por sucessivos casos de corrupção. E, como consequência, as obras do Rio 2016 derraparam (nos prazos e nos custos): há linhas de transportes por concluir, falhas nos acabamentos dos locais de alojamento dos atletas e focos de poluição já irresolúveis na baía de Guanabara (palco dos desportos aquáticos).
Agora, a cautela vai imperando nas escolhas do COI, como já estivera patente, nos últimos anos, na atribuição da organização dos Jogos Olímpicos de verão de 2020 a Tóquio (Japão) - bateu Istambul (Turquia) e Madrid (Espanha) - e dos Jogos Olímpicos de inverno de 2022 a Pequim (China) - derrotou Almaty (Cazaquistão). Antes delas, Pyeongchang, na Coreia do Sul, vai acolher os JO de inverno de 2018.
A edição de verão de 2024 - cuja cidade anfitriã será anunciada em setembro de 2017 - voltará aos palcos mais tradicionais do evento: a Europa ou a América do Norte. As candidatas são Budapeste (Hungria), Los Angeles (EUA), Paris (França) e Roma (Itália). Quanto aos países emergentes de África e Ásia, terão de esperar, provavelmente, para lá de 2028...