Ronaldo 'stop'. Porque é que a máquina parou (outra vez)?

CR7 esteve imparável até há uma semana, quando uma lesão na coxa veio agitar os fantasmas da seleção, a mês e meio do Euro
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Era um futebolista non-stop - o único jogador de campo totalista na liga espanhola (34 jogos/3060 minutos seguidos em campo), só com um minuto de paragem na Liga dos Campeões (substituído aos 89", contra a Roma). Contudo, há uma semana, quando acabou o jogo em Villarreal, Cristiano Ronaldo agarrou-se à coxa direita e entrou em modo stop. A máquina parou, após quase um ano sem descanso, a jogar no limite: falhou os jogos seguintes, incluindo a visita ao Man. City, anteontem, para as meias-finais da Champions. E ainda não é certa a gravidade da lesão nem quando regressa - reavivando, em ano de Europeu, os fantasmas do Mundial 2014.

Nem os jornais desportivos espanhóis mais próximos do universo madridista se entendem quanto ao estado de Cristiano Ronaldo. O diário Marca garantiu que os exames realizados ontem de manhã permitiram descartar a existência de uma rutura no bíceps femoral (músculo da coxa), tese subscrita pelo Real Madrid. Enquanto isso, o As revelou que o avançado português sofreu uma microrrutura, que será tratada com células estaminais (para regenerar o tecido danificado), à margem da equipa médica do clube madrileno - Ronaldo prefere voltar a confiar no fisioterapeuta Joaquín Juan (que trabalha com o basquetebolista Pau Gasol), tal como em 2014.

Assim, mantém-se a incerteza quanto ao prazo de recuperação. Parece certo que CR7 vai falhar a visita à Real Sociedad (sábado) e até o jogo da segunda mão das meias-finais da Liga dos Campeões (quarta-feira, 4) permanece uma incógnita. "Don"t worry, be happy", publicou Ronaldo nas redes sociais. "Ele está bem. Não está a 100%, mas está a 80%. Julgo que na semana que vem já estará a 100%", disse a mãe do jogador, Dolores Aveiro, na apresentação da edição em espanhol da sua autobiografia Madre Coraje.

Ora, se aos adeptos merengues interessa que o avançado, de 31 anos, esteja em condições de jogar a meia-final e a final da Liga dos Campeões (28 de maio), se o Real Madrid se apurar, para os portugueses a preocupação é outra: o Euro 2016 (início a 10 de junho). A imagem de um Ronaldo incansável e imparável até abril, e depois travado por uma lesão, veio agitar os fantasmas do que aconteceu há dois anos - quando o português, afetado por uma tendinose rotuliana e por uma rutura de fibras na coxa esquerda, chegou em forma debilitada ao Mundial 2014 e não foi capaz de evitar a eliminação precoce de seleção nacional.

No entanto, Domingos Gomes, antigo médico do FC Porto e da UEFA, considera que não há motivos para preocupação no seio da seleção. Salvaguardando que se baseia em suposições, devido à falta de informação sobre o caso, o clínico acredita que Ronaldo pode recuperar rapidamente. "Neste tipo de músculos, neste local de que se fala [face posterior da coxa] o repouso tem benefícios muito importantes e associando-o a terapias modernas [como o uso de células estaminais] é provável que melhore claramente", aponta.

Domingos Gomes elogia a "maturidade" do madeirense, do treinador e dos médicos do Real Madrid, ao decidirem que era melhor não forçar, se não estava a 100%. Na verdade, essa paragem, após a partida com o Villarreal - falhou os jogos com o Rayo Vallecano (sábado) e o Manchester City (anteontem) - foi o descanso de toda a época de CR7, pelo Real Madrid. O internacional português só não tinha estado no encontro com o Cádiz para a Taça do Rei, confirmando que é mesmo uma máquina imparável: nas últimas cinco temporadas, entre as maiores figuras do futebol mundial, ninguém somou tantos minutos como ele, ao serviço do clube (ver tabela). E só Messi se lhe aproxima.

Tanto jogo nas pernas - mais de 47 jogos/4000 minutos por época de 2011/12 a 2014/15 -não é, por si só, causa das lesões. "Parece que está na moda dizer que os jogadores se desgastam muito, mas eles sabem quando parar", regista Domingos Gomes. "Para uma lesão do género da que se fala, basta um pequeno desvio na trajetória, por exemplo um píton que fica um bocadinho preso na relva", explica.

Assim, quanto mais se joga mais se fica exposto ao risco - é o caso do avançado do Real Madrid, um jogador insaciável, em permanente caça de recordes. "Ele tem um carácter forte e quer sempre mais", lembrava ontem a mãe, Dolores. Não é algo que os adeptos do Real Madrid e da seleção já não soubessem: e por isso fazem figas para que a paragem seja breve. Com Rui Frias

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