Alarme dispara: Portugal em risco na Europa

Mau arranque de época faz perigar terceira vaga na Liga dos Campeões. Paulo Fonseca, que derrotou Sporting de Braga, ajuda a analisar as razões
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Portugal entrou nas competições europeias desta época a ostentar no cartão-de-visita o quinto lugar no ranking da UEFA, só abaixo das quatro grandes potências do futebol europeu - Espanha, Alemanha, Inglaterra e Itália. Mas a desastrosa entrada em cena nesta temporada dos clubes nacionais nos palcos europeus, em contraste com o inédito título da seleção no Europeu de França, já fez o futebol português cair dois lugares em apenas dois meses e acionou os sinais de alarme. Com Rússia e França a escaparem na tabela, Portugal corre o sério risco de perder uma vaga na Liga dos Campeões em 2018-19.

Paulo Fonseca foi o último treinador a derrotar uma equipa portuguesa na Europa, na quinta-feira, ao serviço dos ucranianos do Shakhtar Donetsk, e contra o seu anterior clube, Sp. Braga, na Liga Europa. Conhecedor profundo da realidade do futebol nacional, aceitou partilhar com o DN algumas explicações para esta queda portuguesa.

Para o treinador, Portugal está a sofrer um ajustamento à realidade, após épocas de sucesso extraordinário. "Penso que no passado os treinadores portugueses fizeram milagres face ao investimento. Estivemos muito à frente no que concerne ao treino e se calhar agora já não estamos; e temos de ser realistas em relação a isso", diz .

De facto, durante os últimos cinco anos, Portugal habituara-se a essa honra de ocupar o lugar do melhor país da classe média do futebol europeu, logo atrás das ligas mais endinheiradas. Desde aquela época excecional de 2010-11 que teve uma inédita final europeia 100% portuguesa em Dublin (FC Porto-Sp. Braga) que o futebol português alimentou esse estatuto.

Fê-lo também, sobretudo, com excelentes campanhas nessa prova uefeira - o Sporting esteve nas meias-finais da Liga Europa em 2011-12, o Benfica foi às finais em 2012-13 e 2013-14, o próprio Sp. Braga de Paulo Fonseca chegou aos quartos-de-final na época passada. Nesta temporada, com os três grandes na fase de grupos da exigente Liga dos Campeões, os resultados têm sofrido. E na Liga Europa sobra o Braga, depois de Rio Ave e Arouca ficarem pelo caminho.

"O facto de as nossas três equipas mais fortes estarem na Liga dos Campeões, onde os adversários são mais fortes, não ajuda, claro. Por alguma razão fizemos tantos pontos na Liga Europa, com finais e meias-finais. Cada vez vai ser mais difícil termos bons resultados na Champions", refere Paulo Fonseca, lembrando que os "orçamentos consideráveis" de Benfica, Sporting e FC Porto são "pouco ou nada" comparados com a maioria dos adversários na prova milionária. "O Benfica jogou com Besiktas e Nápoles, ambos clubes com maior orçamento. O FC Porto empatou com o Copenhaga, OK - uma boa equipa -, mas o Leicester tem um orçamento muito superior. E do Sporting, que perdeu com o Real Madrid, nem vale a pena falar", exemplifica.

Além disso, acrescenta o técnico, há a evolução de países emergentes, do Azerbaijão a Israel. "A diferença vai diminuindo porque nesses países há clubes com investimentos assinaláveis, com dinheiro para contratar bons treinadores e jogadores."

A realidade mostra que Portugal tem uma vitória em oito jogos desde que arrancaram as fases de grupos da Liga dos Campeões e da Liga Europa desta época. No ranking 2016-17, ocupa apenas o 17.º lugar. No acumulado dos últimos cinco anos, que é o que conta para definir o número de equipas com acesso às provas da UEFA em 2018-19, caiu para sétimo, atrás de França (5.º) e Rússia (6.º), que abriram vantagem de cerca de dois pontos (46 332 para a Rússia, 44 665 para Portugal).

Ora, de acordo com as regras em vigor (há alterações em curso a implementar em 2018-19, ver caixa), quinto e sexto classificados do ranking têm direito a três vagas na Liga dos Campeões, duas delas de entrada direta. O sétimo já só tem direito a uma equipa (o campeão) com entrada direta e uma outra com acesso à 3.ª pré-eliminatória. É esse o risco que paira nesta altura sobre Portugal, que precisa de uma notável recuperação nas próximas jornadas para o evitar.

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