Um palco de 24 metros, 14 patamares e 23 jovens de nove países para falarem da sua Cruz, do seu sofrimento, nos dias de hoje, das inquietações, da solidão, da intolerância, do individualismo, dos horrores da violência, da pobreza, da saúde mental, da exclusão, da guerra, da injustiça, da opressão..Uma hora de encenação com jovens portugueses, espanhóis, italianos, franceses, australiano, nigeriano, colombiano, filipino e brasileiro. Uma hora cheia de simbolismos na representação da Via Sacra, ao fim da tarde desta sexta-feira. Antes, o Papa tinha levado também uma hora para fazer um trajeto de poucos quilómetros, entre a Nunciatura Apostólica e a Colina do Encontro, no Parque Eduardo VII, devido à multidão que o aguardava para o saudar - e neste dia, segundo o Vaticano, com mais pessoas, mais de 800 mil, em vez do meio milhão da véspera..Mas perto das 18.30, a euforia deu lugar ao silêncio para se ouvir a mensagem do Papa, mais curta do que o habitual, de forma a dar lugar aos jovens. Afinal, eles são o presente e o futuro, a partir da Jornada Mundial da Juventude de Lisboa, que termina este domingo..A Via Sacra começa com uma Cruz levada pelos jovens até ao altar-palco, simbolizando o sofrimento de Jesus e dos homens. Começam por carregá-la, mas a Cruz vai ficando cada vez mais pesada, como que a representar também o peso dos pecados de toda a Humanidade, afinal era isso que Jesus iria assumir..Quando cai pela primeira vez, a primeira quebra, aparece a Mãe, a quem pede ajuda; Maria ajuda-o a levantar-se, conforta-o, mas Cristo continua a carregar a Cruz, procurando o caminho. Por fim, os soldados procuram alguém para o ajudar a carregar a Cruz e escolhem Simão Sirene, que o olha nos olhos e lhe pergunta: "O que queres de mim?" Mas ajuda-o. Aqui chegamos à sexta estação da Via Sacra, com uma outra mulher a ajudá-lo; Verónica limpa-lhe o rosto, pouco pode fazer por ele, mas faz e Cristo agradece..Na sétima estação, Jesus cai pela segunda vez, quando o injuriavam e pisavam, o que simboliza tudo o que nos pode deitar abaixo, a descrença, os medos, mas Jesus levanta-se e perdoa quem o injuria. A oitava estação é sobre os outros, com a dor dos outros, e os jovens pedem a Jesus: "Que a minha dor esteja preocupada com os outros e não comigo. Jesus, que eu seja como Tu.".Segue-se a terceira queda de Jesus, a terceira queda de cada um, há quem pense que não aguenta mais, mas Jesus levanta-se com propósito firme. Na décima Estação, Jesus é despojado das vestes, sofre e os soldados estão mais preocupados em repartir as suas roupas, simbolizando o que tantas vezes está ao lado de cada um e não é visto. A 11ª estação é a morte de Jesus. Os soldados pregam-no na Cruz e o que diz ele? "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.".Na 12ª estação, Cristo morre na Cruz, sozinho, é a solidão; depois é descido da Cruz e entregue à Mãe. Por fim, na 14ª estação, Jesus é colocado no sepulcro, pelos amigos mais próximos, estão a fechá-lo, uma porta que se encerra, outra virá a seguir, a de esperança no futuro..Os jovens chegam ao fim da Via Sacra. No Parque Eduardo VII ouvem-se palmas, gritos, ovação, e "muita emoção", diziam alguns peregrinos. O momento tinha sido de "união", referiam outros. Francisco dá a bênção, desejando a todos que estejam prontos para o futuro. "Para que com sabedoria e força estejam prontos para manifestar ao mundo a vossa atitude e força", disse..Depois, todos os jovens que participaram na Via Sacra são chamados ao Papa, que cumprimenta um a um, que fala com cada um, provavelmente, e como dizia o padre jesuíta José Maria Brito, como que a mostrar-lhes que está com eles, que fará o caminho do futuro com eles..Mas para este caminho, o Papa tem vindo a pedir nestes dias, e esta sexta-feiravoltou a fazê-lo, que os jovens sejam protagonistas, que se questionem, que se inquietem, que olhem para o lado e mudem de atitude, que "deixem de se conectar só às redes sociais e se conectem a Deus" para serem "sementes de mudança"..Na mensagem escrita diz isto mesmo , dizendo-lhes que "Jesus é o caminho", que é "o caminho do amor" e "ninguém tem maior amor do que quem dá a vida pelos seus amigos". E lembra que na Via Sacra "Ele avança com a cabeça descoberta. A morte, o vento, o insulto: tudo Lhe cai em cima sem nunca abrandar o passo"..E o que é que Jesus espera?, questionou o Papa. Espera "abrir janelas", espera que estes jovens sejam capazes de "reacender a luz da beleza em todos nós, tornar-nos sentinelas da esperança, capazes de ousar novos passos na escuridão da noite, de não nos amolgarmos no passado, de não nos deixarmos amedrontar pelo futuro"..Enquanto Francisco regressava à Nunciatura, no recinto permaneciam muitos dos que ali tinham chegado há horas, diziam estar a "explodir de energia e de emoção", incapazes de se moverem. Outros falavam em esperança renovada..O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que tinha chegado cedo ao recinto, pelas 16.30, comentava no final, junto ao presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, ter presenciado um "momento excecional, no texto, na música, no coro e intérpretes". Marcelo dizia mesmo que esta Via Sacra tinha sido o reflexo do que o Papa tem andado a dizer: "Tem dito que cada um conta, que todos contam e é isso que as instituições, nomeadamente a Igreja e as políticas, têm de fazer, olhar para os problemas reais das sociedades reais e para cada pessoa"..O Presidente referia-se ainda à guerra, que foi tema também da Via Sacra, e dos horrores da violência, sublinhando que a Igreja tem um "papel forte no mundo", podendo atuar. "Quando há guerra a Igreja intervém pela Paz e está a fazê-lo no caso da Ucrânia"..De manhã, o Papa esteve na Cidade da Alegria e confessou três jovens, seguiu para o bairro da Serafina, onde falou da pobreza e de como "a caridade com amor concreto" é fundamental, voltou à Nunciatura para receber representantes de todas as religiões em Portugal e almoçou com dez jovens, que lhe colocaram questões e pediram orientação (ver página 9)..Mas os olhos já estão postos em Fátima, onde já está tudo pronto para o receber: a partir das 03.00 de hoje, já não é possível passar de carro junto ao Santuário de Fátima. A essa hora, já a GNR cortou o trânsito para os peregrinos poderem circular à vontade. E a GNR estima que o Santuário possa ultrapassar as 270 mil pessoas, chegando às 500 mil..A organização da JMJ já disse que este será um momento muito forte da vinda de Francisco a Portugal, embora só ali vá estar duas horas. Sai às 08.00 de Lisboa, de helicóptero, devendo regressar depois das 10.00, e estará na Capelinha das Aparições para rezar o terço com doentes, pessoas com deficiência, reclusos e com jovens de várias nacionalidades..Depois, vai benzer a primeira pedra do novo edifício da Santa Casa da Misericórdia de Fátima. É a primeira vez que um Papa vai a Fátima fora das épocas das Aparições, sem ser em maio ou em outubro , mas esta sexta-feira realizou-se a Procissão das Velas e muitos já tomavam o seu lugar no Santuário para hoje poderem assistir à oração do Papa Francisco.