Marcelo admite que PSD ainda não é alternativa clara ao PS
Marcelo Rebelo de Sousa resolveu acabar de uma penada com os apelos à dissolução do Parlamento e à convocação de eleições. O Presidente da República rejeitou a hipótese de usar a "bomba atómica" na sequência da demissão do ministro Pedro Nuno Santos. Pelo caminho, ou melhor a caminho do Brasil para a posse de Lula da Silva, deixou claro que ainda não vê no PSD de Luís Montenegro, ou à direita, uma alternativa clara de poder.
"Não pode haver eleições todos os anos" e é "preferível que o Governo governe e governe cada vez melhor", disse Marcelo aos jornalistas no aeroporto de Lisboa.
"O povo votou há oito meses, não votou há muito mais, estamos numa guerra e crise económica e financeira. Em terceiro lugar, não é claro que surgisse uma alternativa evidente e forte imediata ao que existe", sustentou o Presidente. "O experimentalismo não é a coisa melhor para a saúde das democracias", acrescentou, ao mesmo tempo que projetava a possibilidade de o PS voltar a ganhar mais umas legislativas antecipadas com maioria relativa. "A dissolução [da Assembleia da República] é uma arma atómica de que dispõe o Presidente da República. Não pode usar a arma atómica todos os anos, até por uma razão muito simples: imagine que usa a arma atómica e que o povo português confirma o partido no Governo, com maioria absoluta ou sem maioria absoluta. Já viu a posição em que deixava o Presidente da República? Não a vai utilizar para o ano ou para o ano seguinte, ou o ano seguinte", argumentou. Até porque, continuou Marcelo, "dissolução significa três meses, mais coisa menos coisa, de paragem do país".
O que poderia ter gerado incómodo no maior partido da oposição foi assumido como uma leitura correta por parte do Presidente da República. O comentário ao diagnóstico de Marcelo foi feito pelo secretário-geral do PSD, que apontou a leitura presidencial como "muito cristalina" e "compaginável" com a "atitude desastrosa do governo".
"É verdade que não é líquido qual seria o resultado eleitoral, por isso é que diz que não deve entrar em experiencialismos, sem ter certezas quem poderia ganhar", nota o social-democrata, apontando o PSD como "o único partido que tem vindo a subir consistentemente nas sondagens". "O PSD está a fazer um trabalho de reconciliação com o eleitorado. É importante lembrar que o PSD não ganha desde 2013 - ganhou em 2015, mas não teve condições para governar", disse Hugo Soares, à Rádio Observador, acrescentando ainda que "o país sabe que de um lado tem um PSD unido, coeso e que representa um novo caminho e nova força para o país e do outro um governo em total degradação."
Além do argumento da imprevisibilidade do resultado eleitoral em caso de novas eleições, Marcelo aduziu outros para não considerar a hipótese de novas eleições antecipadas, como aconteceu quando o Orçamento do Estado para 2022 chumbou no Parlamento. "Não podemos, cada vez que há remodelações ministeriais, substituições de equipas, mesmo que por problemas porventura mais sensíveis para uma parte da opinião pública ou a opinião pública em geral, estar a recorrer à dissolução", defendeu.
E apesar do Presidente afastar completamente um cenário de crise política, a conferência de líderes vai reunir-se extraordinariamente na terça-feira para discutir o "agendamento e organização" da moção de censura ao Governo da Iniciativa Liberal e apreciar os requerimentos de PSD e Chega para um debate de urgência sobre as demissões no Governo.
Entretanto, o ministro das Finanças quebrou o silêncio para reiterar que não teve nenhuma "relação com a decisão" da indemnização de 500 mil euros da TAP a Alexandra Reis, a secretária de Estado do Tesouro demitida na passada terça-feira. E mostrou-se irritado ao associarem o nome da sua mulher ao caso, já que é ex-assessora jurídica da companhia aérea. "A minha mulher no momento em que o acordo é feito não se encontrava na empresa [TAP] pela simples razão que se encontrava de licença de maternidade pelo nascimento da nossa filha, que nasceu em dezembro", frisou.
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