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Internacional
25 agosto 2022 às 05h00

Polémica com vídeo de violação marca início da campanha em Itália

Giorgia Meloni, favorita nas sondagens, foi criticada pelos adversários por partilhar o vídeo, entretanto apagado pelas redes sociais.

O vídeo da alegada violação de uma ucraniana de 55 anos por um requerente de asilo de 27 anos da Guiné-Conacri, nas ruas de Piacenza, foi divulgado no domingo à noite num site de notícias italiano. Mas rapidamente se tornou numa arma eleitoral.

O vídeo foi partilhado nas redes sociais pela líder dos Irmãos de Itália, Giorgia Meloni, com a promessa de "restaurar a segurança" nas cidades quando a direita vencer as eleições de 25 de setembro. Os adversários da favorita nas sondagens apressaram-se a criticá-la, com Enrico Letta, do Partido Democrático (PD, centro-esquerda) a dizer que era "indecente" usar as imagens com fins eleitorais. O Twitter e o Facebook apagaram entretanto o vídeo.

Meloni, que aspira tornar-se na primeira mulher a assumir a chefia do governo italiano, respondeu a Letta dizendo que "indecente" era a violação, não a partilha do vídeo. As imagens foram captadas, a partir de uma janela, por um homem que terá recebido instruções da polícia para não intervir e gravar o alegado crime para haver provas. Uma investigação foi lançada para tentar perceber como é que esse vídeo acabou por se tornar público.

A vítima, que vive há anos em Itália, disse às autoridades estar "desesperada" porque já terá sido reconhecida - apesar de as imagens estarem desfocadas, era possível ouvir os seus gritos. O alegado violador, no país desde 2014, foi preso e nega a acusação, tendo dito durante o interrogatório que passou a noite na discoteca e que se aproximou da mulher para a ajudar, pensando que estava doente. Não sabia do vídeo. O seu pedido de asilo terá sido rejeitado em junho.

"Não se pode ficar em silêncio perante este atroz episódio de violência sexual em plena luz do dia, em Piacenza, perpetrado por um requerente de asilo", escreveu Meloni nas suas redes sociais quando partilhou o vídeo. "Um abraço para esta mulher. Farei tudo o que me for possível para restaurar a segurança nas nossas cidades", acrescentou a candidata com antecedentes neofascistas. Tanto o Twitter como o Facebook acabariam por remover a publicação, alegando que não respeitava as regras.

As redes sociais "fizeram o mesmo [ao ex-presidente norte-americano Donald] Trump quando ele passou os limites da decência. Meloni está na mesma linha do que Trump", disse Letta, defendendo que o impacto na reputação da candidata dos Irmãos de Itália é "enorme" e que é "extremamente grave que Meloni esteja a tentar fingir que nada aconteceu". A autarca de Piacenza, Katia Tarasconi, do PD, alegou que "a vítima foi violada duas vezes" com a divulgação do vídeo e que Meloni não o teria feito se fosse uma sua familiar.

O líder da Liga, Matteo Salvini, que quando foi ministro do Interior procurou travar os desembarques com imigrantes ilegais em Itália, reiterou que "defender as nossas fronteiras e os cidadãos italianos será um dever para [si], não um direito". Salvini disse que irá a Piacenza no dia 1 de setembro, criticando os ataques do PD, que considera que o problema é a divulgação do vídeo e não "os clandestinos que violam" as mulheres. "Pode detê-los, na verdade deve", escreveu no Twitter, num apelo ao voto.

Os Irmãos de Itália, a Liga e a Força Itália de Silvio Berlusconi fazem parte da aliança de centro-direita que concorre às eleições que se realizam dentro de um mês. Juntos conseguem cerca de 45% das intenções de voto, segundo a última sondagem para o Corriere della Sera, 25% só para o partido de Meloni, que está assim na linha da frente para suceder a Mario Draghi. O PD tem 20,5%. A campanha começou oficialmente na terça-feira.

O ainda primeiro-ministro, que se demitiu depois de ruir o seu governo de união, mostrou-se ontem convencido de que "o próximo governo, seja de que cor for, será capaz de ultrapassar as dificuldades que parecem inultrapassáveis". Apelando ao voto, reiterou: "A Itália vai conseguir também desta vez."

susana.f.salvador@dn.pt