O presidente russo vai dirigir-se ao parlamento russo na sexta-feira e há uma "possibilidade realista" de anunciar a anexação à Rússia de territórios ucranianos ocupados pelas forças de Moscovo, indica o Ministério da Defesa britânico.
Terminam esta terça-feira os "referendos" sobre a adesão à Rússia dos territórios ucranianos ocupados de Donetsk, Lugansk, Zaporijia e Kherson e Vladimir Putin poderá anunciar oficialmente a anexação destes territórios já no final desta semana, avança o Ministério da Defesa do Reino Unido.
No último relatório sobre a situação na Ucrânia, os serviços de inteligência da Defesa britânica indicam que há uma "possibilidade realista" de que Putin anuncie oficialmente a anexação de territórios ucranianos durante o seu discurso nas duas câmaras do parlamento russo, marcado para esta sexta-feira.
(2/4) There is a realistic possibility that Putin will use his address to formally announce the accession of the occupied regions of Ukraine to the Russian Federation. The referendums currently underway within these territories are scheduled to conclude on 27 September.- Ministry of Defence (@DefenceHQ) ?ref_src=twsrc%5Etfw">September 27, 2022
"Os líderes russos esperam que qualquer anúncio de adesão seja visto como uma justificação para a operação militar especial" e consolide o apoio patriótico ao conflito", lê-se no relatório.
O Ministério da Defesa britânico realça, no entanto, a "crescente consciencialização" na Rússia sobre as dificuldades no campo de batalha e o "desconforto significativo acerca da mobilização parcial militar".
O Kremlin fez saber, entretanto, que os referendos de anexação nas quatro regiões ucranianas, total ou parcialmente controladas por Moscovo, terão consequências "radicais" nestes territórios, em particular na questão de segurança.
"A situação legal mudará radicalmente do ponto vista do direito internacional e isto também terá consequências sobre a segurança nestes territórios", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.
Vladimir Putin, recorde-se, anunciou na semana passada, durante um discurso à nação, uma mobilização de cerca de 300 mil reservistas russos para a guerra na Ucrânia, o que levou milhares de pessoas a sair do país, provocando extensas filas e a esgotar a reserva de bilhetes de avião para países que mantêm aberta a fronteira para cidadãos russos.
O anúncio da mobilização militar também provocou contestação no país, com manifestações em várias cidades russas, tendo sido detidas mais de duas mil pessoas, de acordo com a organização de defesa dos direitos civis OVD-Info.
A mobilização militar ocorre ao mesmo tempo que são realizados os denominados referendos sobre a adesão à Federação russa dos territórios ucranianos ocupados de Donetsk, Lugansk, Zaporijia e Kherson. Estas consultas terminam esta terça-feira, segundo as autoridades pró-russas, e serão objeto de discussão em reunião no Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Os parlamentos das autoproclamadas repúblicas populares de Donetsk e Lugansk, reconhecidas pelo Kremlin a 21 de fevereiro passado, convocaram um referendo de integração na Rússia entre 23 e 27 de setembro, ao qual se juntaram as regiões de Kherson e Zaporijia, parcialmente sob domínio russo.
Além de referir a realização destas consultas populares para anexação dos territórios ucranianos sob ocupação russa e de anunciar a mobilização militar, o presidente russo fez também uma ameaça velada de utilização de armas nucleares contra o Ocidente num discurso à nação proferido na quarta-feira.
De imediato surgiram críticas dos países ocidentais e organizações internacionais ao discurso de Putin, e o secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou-se "profundamente preocupado" com os planos de Moscovo de efetuar referendos sobre a adesão à Federação russa de territórios ucranianos ocupados.
Numa reunião do Conselho de Segurança realizada na semana passada, Guterres sublinhou que "qualquer anexação do território de um Estado por outro Estado resultante da ameaça ou uso da força é uma violação da Carta da ONU e do direito internacional".
Com os países ocidentais a considerarem os supostos referendos um simulacro para assegurar o seu controlo pela Rússia, o Conselho de Segurança irá discutir novamente a questão em reunião desta terça-feira em Nova Iorque.
Com Lusa
Notícia atualizada às 11:30