Política
21 setembro 2021 às 22h15

Rio acredita que ganhará câmaras emblemáticas mas espera desafio de Rangel

Líder do PSD sinalizou que com um resultado fraquinho não se recandidata à liderança, mas quem o apoia diz que a expectativa é conquistar algumas câmaras emblemáticas e ir até 2023. E mesmo assim acham que Rangel avança.

"Quem está a dar a volta ao país e a tentar potenciar o resultado do PSD como está, é tudo menos quem vai abandonar o barco ou atirar com a toalha ao chão". Estas palavras são de um dirigente do PSD próximo de Rui Rio e espelham já a análise sobre a fasquia que o líder do partido estabeleceu para as eleições autárquicas do próximo domingo de forma a recandidatar-se à liderança. Ou seja, mesmo depois de sinalizar que pode sair, a interpretação é que Rio tudo faz para ficar e que, neste momento, está convencido que é possível obter um resultado no próximo sábado capaz de o levar até às legislativas de 2023.

Em entrevista à Rádio Renascença, Rio estabeleceu a métrica que o fará não se recandidatar à presidência social-democrata em janeiro, altura de novas diretas. "É fazer igual ou pior ou muito pouquinho melhor", disse em comparação com o resultado obtido em 2017.

Nas últimas eleições autárquicas, o PSD ficou a 61 câmaras do PS - obteve 91 (algumas em coligação com o CDS) e o PS conseguiu 159.

"Se a diferença entre o zero e o 1 for praticamente nenhuma, se o resultado de 2021 for idêntico ao de 2017 que eu disse que foi mau, o que é que vou fazer? Dada a importância que atribuo às eleições autárquicas de 2021 para a implantação do partido e para uma nova dinâmica no que concerne à oposição nacional, tenho de exigir a mim mesmo ser coerente. E ser coerente é dizer que se 2017 foi mau, se fizer igual, fiz mal", disse o líder do PSD.

Ora, entre os seus opositores, mas também nos mais próximos as contas começaram a ser feitas. No núcleo duro de Rio há a convicção que está ao alcance conquistar "câmaras emblemáticas", como Portalegre, Coimbra, Funchal e Viana do Castelo e "juntar mais umas 10" a nível nacional, entre as quais Aguiar da Beira, Meda e Figueira de Castelo Rodrigo, no distrito da Guarda, algumas nos Açores (onde o governo é agora de coligação e liderado pelo PSD). "Se tudo correr bem podemos, no final, conseguir mais 20 câmaras", afirma em tom prospetivo uma fonte próxima de Rio.

Em 2017, o PSD afundou-se nos centros urbanos, em particular em Lisboa, com a candidatura de Teresa Leal Coelho, que conseguiu pouco mais de 11% contra os quase 21% de Assunção Cristas, que foi cabeça de lista pelo CDS.

Agora com a candidatura de Carlos Moedas, em coligação com o CDS/MPT/PPM e Aliança, Rio aposta num resultado superior contra Fernando Medina. "Está taco a taco com Fernando Medina e pode haver uma concentração de votos no Carlos Moedas porque é mesmo a única alternativa", assegurou na entrevista à RR.

"Na noite eleitoral, vai ver que vai haver grandes surpresas. Há câmaras onde pensava que o PSD está muito bem e vai ganhar quase de certeza e não ganha e vai haver câmaras onde pode dizer 'o PSD ali não tem grandes hipóteses' e pumba! e ganhou. Todos os anos foi assim porque é que este ano havia de ser diferente? Vai haver surpresas para todos nós, até porque são 308 realidades diferentes", afirmou ainda Rio.

Mas há mais dois fatores que as mesmas fontes apontam ao DN para Rio dar tudo por tudo. A primeira é o horizonte de 2023 potencialmente sem António Costa na liderança do PS. "Com a indefinição sobre a recandidatura de Costa quem estiver em funções no PSD daqui a dois anos poderá ter mais possibilidades de conquistar o poder e governar o país", sublinha a mesma fonte.

A outra razão é interna. Rio considera uma "espécie de traição" o facto de Paulo Rangel se ter posicionado, deixando essa porta aberta, como potencial candidato à liderança do partido. Não só com a entrevista que deu recentemente como, segundo as fontes ouvidas pelo DN, por ter já gente no terreno a arregimentar apoios para uma candidatura. Citam o atual presidente da distrital do Porto do PSD, Alberto Machado , que dizem já andar a fazer contactos entre os militantes para o caso da candidatura de Rangel avançar e, se o resultado das autárquicas for desfavorável a Rio, "ter já no dia 16 e 27 pessoas de peso com ele".

Dos apoiantes de Rangel ainda não há certezas sobre a decisão do eurodeputado, mas admitem que "está mais disponível" e que, com a entrevista em que se assumiu como homossexual, "desarmadilhou" os que andavam a tentar condicioná-lo na sua decisão. "Não há qualquer dúvida, agora é autárquicas, autárquicas, autárquicas e não há mais nada, nem se fala sobre mais nada", é tudo quanto o atual eurodeputado social-democrata diz sobre o assunto.

Para já, garantem as fontes que lhe são próximas, "Paulo Rangel está a aceitar apenas os convites das secções que o convidam para participar na campanha". Hoje estará em Odivelas a convite da secção num jantar comício de apoio ao candidato social-democrata à câmara local, Marco Pina, e irá cruzar-se com outro putativo candidato à presidência do partido, Miguel Pinto Luz, que é mandatário do candidato.

Admitem, no entanto, que poderá existir alguma convergência entre os dois - Rangel e Pinto Luz - caso o primeiro acabe mesmo ir a jogo sozinho contra Rui Rio. Nesse caso, Miguel Pinto Luz, que já foi a votos nas últimas diretas e obteve cerca de 9% dos votos na primeira volta, poderá apoiar a candidatura do eurodeputado e ficar a número dois.

Mas no caso de se perfilaram mais candidatos e outros dois são tidos no partido como muito prováveis, Luís Montenegro e Jorge Moreira da Silva, o também vice-presidente da Câmara de Cascais e antigo líder da distrital de Lisboa do PSD voltaria a ir a jogo em nome próprio, reservando o seu espaço para o futuro no partido.

E o futuro ou que se adivinha dele é mesmo uma condicionante para todos os que desejam avançar para uma candidatura à liderança do PSD. Isto porque todos já estão convencidos que Pedro Passos Coelho deverá voltar ao ringue político no pós 2023, terminado o atual ciclo político.

As próximas diretas de janeiro seriam pois o momento certo para Rangel e dois passistas avançarem, no caso Luís Montenegro e Jorge Moreira da Silva.

Montenegro tem-se mantido o mais discreto possível e, desde as que perdeu para Rio, não tem feito oposição aberta ao líder do partido. Mas fontes sociais-democratas garantem ao DN que tem andado muito ativo também pelas secções do partido, como ilustre militante, que já líder parlamentar e deu o corpo às balas em eleições internas.

Jorge Moreira da Silva tem feito um percurso muito diferente, mas também ele a apontar para uma eventual candidatura. O antigo ministro do Ambiente de Passos Coelho, fundou a Plataforma para o Crescimento Sustentável e é diretor para a Cooperação e Desenvolvimento da OCDE, em Paris, e lançou este mês o livro "Direito ao Futuro", em que encheu uma sala da Gulbenkian de personalidades gradas do partido e do governo PSD/CDS. Passos, claro, mas também Paulo Portas, Leonor Beleza, Cavaco Silva, Marco António Costa, a Ângelo Correia, Maria Luís Albuquerque, Luís Marques Mendes, Teresa Morais, Rui Machete e Paulo Macedo. E são muitos os que entendem que está a fazer um percurso consolidado para avançar mesmo com uma candidatura, com o apoio de muitas das figuras ligadas ao passismo.

paulasa@dn.pt