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13 MAI 2019
13 maio 2019 às 06h29

Campanha europeia. De onde partem os candidatos e onde querem chegar

O período oficial de campanha começa hoje. Será o tudo por tudo até 26 de maio, com todos os líderes envolvidos ao máximo. Para dia 20 está marcado o último debate dos grandes, na RTP.

João Pedro Henriques

Doze dias, 21 lugares em disputa, muitos milhares de quilómetros pela estrada fora, o país percorrido de norte a sul e vice-versa, com ilhas incluídas, o governo em avaliação, a direita mais fragmentada do que nunca, o país político já sem a "crise dos professores" a marcar a agenda.

Hoje inicia-se a arrancada final da campanha das eleições europeias. As sondagens indicam o PS à frente mas com o PSD a aproximar-se e a poder legitimamente ambicionar vencer. O DN diagnostica as ambições das candidaturas e dos candidatos que atualmente têm assento no Parlamento Europeu.

PS. Superar o "poucochinho" de 2014

Há cinco anos, o PS - na oposição e com António José Seguro na liderança - venceu as europeias contra uma coligação PSD+CDS (que governava o país) obtendo oito eleitos (cerca um milhão de votos, o equivalente a 31,46%). Foi essa vitória que António Costa considerou "poucochinha" e que o levou a decidir de vez disputar a liderança do PS, conquistando-a em setembro desse ano. Daí a chegar a primeiro-ministro foi o caminho que se conhece.

António Costa chega portanto a estas europeias não só necessitando de as vencer como de superar o resultado obtido em 2014 pela lista encabeçada por Francisco Assis (que não foi reconduzido na lista). Tendo o PS agora à frente da lista o ex-ministro do Planeamento Pedro Marques, a campanha socialista não tem descolado - e a pista está a ficar cada vez mais curta. Assim, o líder socialista está obrigado a empenhar o máximo do seu esforço. António Costa só não estará com Pedro Marques quando lhe for impossível por via dos seus compromissos enquanto primeiro-ministro. Ontem vestiu a farda de líder partidário e participou em Mangualde num almoço-comício em que também esteve presente Frans Timmermans, o holandês que é candidato dos socialistas europeus a presidente da Comissão Europeia. Hoje estará como primeiro-ministro em mais um debate no Parlamento. Depois voltará à campanha e assim sucessivamente até ao dia 24, o último do período oficial de campanha.

Para o PS, as europeias poderão significar um suplemento de alma e confiança face às legislativas de outubro, ou então um contratempo importante. Seja como for, nada de definitivo. Em 2009, o PS, no poder, e com um calendário parecido com o atual, perdeu as europeias e depois venceu as legislativas.

PSD. Crescer ou até vencer

Os sociais-democratas iniciaram a pré-campanha com as expectativas em baixo - na prática, ninguém esperaria que vencessem estas eleições. Contudo, Paulo Rangel, o cabeça-de-lista (pela terceira vez), é reconhecidamente capaz de marcar a agenda e isso foi tendo efeito nas sondagens: o PSD está a crescer e já pode legitimamente ambicionar vencer. Em 2014, o PSD concorreu em coligação com o CDS e obteve apenas seis eleitos (o 7.º eleito foi Nuno Melo, do CDS): cerca de 900 mil votos (27,7%). Qualquer resultado abaixo disto será péssimo, qualquer resultado igual a este será mau, crescer sem vencer será assim-assim - e portanto um bom resultado é ficar à frente do PS.

Rangel tem a ajudá-lo o facto de o PS ter escolhido um cabeça-de-lista com problemas de afirmação política. Tema central da sua campanha tem sido precisamente a herança que Pedro Marques deixou como ministro do Planeamento na questão dos fundos comunitários. A Comissão Europeia propôs, em 1 de junho, uma verba de cerca de 7,6 mil milhões de euros no Quadro Financeiro Plurianual (QFP) 2021-2027, a preços correntes, abaixo dos 8,1 mil milhões do orçamento anterior, com uma ligeira subida nos pagamentos diretos e cortes no desenvolvimento rural.

Outra vantagem é ter-se sabido colocar acima das divisões do PSD. Hoje terá em Espinho a seu lado o líder da oposição interna, Luís Montenegro. Há porém uma incógnita: saber que efeito terá no eleitorado laranja o aparecimento de um partido feito por um ex-presidente do PSD, o Aliança, de Pedro Santana Lopes. Identificabilidade não lhe falta - resta saber se a converterá em votos.

CDU. Manter ou não perder muito

Em 2014, a CDU, já com a lista liderada por João Ferreira, como agora volta a ser, obteve um resultado como já não tinha desde 1999: três eurodeputados eleitos. A capacidade de os comunistas segurarem o seu eleitorado numa eleição marcada por uma abstenção gigantesca (67% há cinco anos) vê-se quando se percebe que o número absoluto de votos da CDU quase não muda das europeias para as legislativas: 416 mil votos na eleição dos eurodeputados em 2014, 445 mil na eleição dos deputados, no ano seguinte.

É esta característica que permite à CDU ambicionar ter um bom resultado - embora saiba que o objetivo dos três eurodeputados é muito difícil. À frente da lista os comunistas terão alguém que notoriamente se destaca por ser muito menos simpático com o PS do que os seus camaradas na Assembleia da República (tanto assim que recusou geringonçar com os socialistas na Câmara de Lisboa, ao contrário do que fez o BE). Esta é porventura uma característica ideal numa eleição em que o tema principal - a Europa - coloca o PCP e o PS a milhas um do outro. A CDU procurará travar o crescimento do PS à esquerda e, ao mesmo tempo, não perder peso relativo face ao Bloco de Esquerda.

Marinho e Pinto. Sobreviver, apenas e só

Há cinco anos, a grande surpresa da noite eleitoral foi o resultado do MPT: dois eurodeputados eleitos (234 mil votos, 7,14%). A lista era encabeçada pelo ex-bastonário da Ordem dos Advogados (e ex-jornalista) Marinho e Pinto. A sua estrela empalideceu muito no entanto desde então. Marinho e Pinto rompeu com o Partido da Terra - que aliás, a braços com problemas internos, não se apresentará agora a votos. Depois fundou o PDR (Partido Democrático Renovador), pelo qual agora se candidata. Se Marinho e Pinto conseguir ser reeleito já não será mau. Mas a sua capacidade de afirmação está longe da que teve em tempos - e o efeito de novidade perdeu-se completamente.

Bloco de Esquerda. Crescer, só crescer (I)

Há cinco anos, o resultado do BE nas europeias, já com Marisa Matias à frente da lista, foi um desastre. De três eurodeputados passaram para um (149 mil votos, ou seja, 4,56%). Isto é a prova de que o eleitorado bloquista é altamente volátil e permeável à abstenção. Em 2014, o partido ficou inclusivamente atrás do MPT, com uma lista então liderada pelo ex-bastonário dos advogados António Marinho e Pinto.

Agora, o objetivo é só um: aumentar o número de eleitos e de votos. A Europa permite aos bloquistas discursos de contraste e afirmação face ao PS - mas parte do seu eleitorado movimenta-se ora para um partido ora para o outro. A popularidade de António Costa está em alta, depois da "crise dos professores", e resta saber se o BE conseguirá capitalizar, ou não, pelo menos parte dos ganhos eleitorais de políticas que têm diminuído o desemprego e aumentado os rendimentos das pessoas. Essas políticas têm sido desenvolvidas dentro dos constrangimentos orçamentais impostos pela UE - o que diminui a eficácia do argumentário do BE quando afirma que a Europa é a principal fonte de todos os males.

CDS. Crescer, só crescer (II)

Quando era europeísta, o CDS tinha bastante peso nas eleições para o Parlamento Europeu. Chegou a ter três eleitos (em 24), com Francisco Lucas Pires (1944-1998), nas eleições de 1989. Depois, quando Manuel Monteiro chegou à liderança, em 1992, o partido tornou-se eurocético, perdendo progressivamente peso na representação europeia. Em 2014, o partido avançou coligado com o PSD e Nuno Melo - agora cabeça-de-lista - foi o único eleito centrista. Nunca a representação do CDS tinha sido tão fraca.

Agora, o CDS volta a avançar isoladamente e a única ambição é crescer em votos e número de eleitos. Nuno Melo caracteriza-se por estar à direita da direção de Cristas - o que o levou a dizer que a nova força dinamizadora da extrema-direita espanhola, o Vox, teria lugar no PPE. O partido chega à campanha desgastado pela "crise dos professores", que notoriamente não lhe correu bem (Cristas aliás foi capaz de o assumir).