Loiça inspirada em dias passados no Alentejo

Um grupo de ilustradores e designers tornou-se durante uma semana habitante de Viana do Alentejo e aprendiz nas olarias da vila. Do convívio e aprendizagem resultaram peças em barro vermelho que cruzam tradição e modernidade.

Daquela semana de junho passada em Viana do Alentejo, Mariana Santos trouxe amigos, convívio, experimentação, muito trabalho e a saborosa recordação da sopa de beldroegas que comeu em casa de Feliciano Filho, um dos dois oleiros com quem ela e os restantes ilustradores/pintores trocaram experiências numa residência artística promovida pela Vicara. O resultado está agora à vista, com o lançamento da coleção Tasco em Viana do Alentejo, que reúne uma série de peças de loiça em barro vermelho.

"Fruto do cruzamento de experiências entre ilustradores, pintores, designers, oleiros e pintores tradicionais", a Tasco em Viana do Alentejo reflete, segundo o diretor criativo da Vicara, Paulo Sellmayer, a tradição da olaria e pintura de Viana do Alentejo e a influência que essa convivência teve nos artistas convidados.

Mariana Santos, conhecida pelo nome artístico Mariana, a Miserável, foi uma das repetentes nesta iniciativa, depois da experiência do ano passado. Ela e outra Mariana, a Malhão, e Mandraste. E com eles foram para Viana do Alentejo Joana Lourencinho Carneiro, Gonçalo Duarte e Júlio Dolbeth, além dos designers de produto Álvaro Nogueira, João Xará e Mariana Filipe. "A vida lá é uma boa vida", comenta a ilustradora, 35 anos, lembrando aqueles dias em que se tornou habitante da vila alentejana e aprendiz nas olarias do mestre Feliciano e do filho. "Acho muito interessante este contacto. Sinto que com este contacto com estas pessoas e formas de fazer aprendo muito e fico mais próxima do que quero fazer... ainda não sei o que é, mas sei que estou", comenta Mariana, a Miserável.

A experiência levou-a a dar continuidade ao trabalho do ano passado, em que pintou um alguidar com uns nadadores. Agora, numa caneca, idealizou umas pessoas de molho no seu interior. "Sem querer, houve esta continuidade. Aconteceu sem pensar nisso", conta a artista que brincou com as memórias da infância ao aproveitar a forma de um pousa colheres para pintar o Pinóquio e o seu nariz e que fez uma homenagem a João Mértola, que não conheceu - o artesão do Redondo, conhecido por mestre Pintassilgo, morreu em maio -, mas cujo trabalho a inspirou a pintar umas flores e pássaros nuns vasos de barro.

Estas são algumas das peças da Tasco em Viana do Alentejo já disponíveis online e na loja Depozito e que se espalhará pela rede de 37 parceiros comerciais da Vicara no próximo ano. Mas há muitas mais, com preços entre os 20 e os 170 euros, resultado desta residência artística que, segundo Paulo Sellmayer, é para repetir. "No ano passado vendemos em todo o lado, muito", lembra. E realça que, graças ao projeto, duas pintoras encontraram trabalho a tempo inteiro e um oleiro em dificuldade devido à pandemia fez novos clientes. "Esperamos continuar a manter a autenticidade da tradição, do saber fazer português", deseja.

sofia.fonseca@dn.pt

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