Ferreira FernandesA moda é provocar vizinhosLuigi Di Maio é o líder do Movimento 5 Estrelas e acaba de oferecer apoio digital aos manifestantes franceses do movimento "coletes amarelos". Isto é, um político italiano proclamou dar ajuda àqueles que fazem movimentos sediciosos no país vizinho - manifestações não autorizadas e violentas - para eles melhor se organizarem.
Ferreira FernandesO certo é o incertoEm março de 1968, num editorial que se tornaria célebre, escreveu-se no jornal Le Monde: "A França aborrece-se." Poucas semanas passadas, foi o turbilhão do Maio de 68... Meio século depois, estamos exatamente na mesma, não sabemos o que vem aí. Mas, desta vez, temos uma certeza: o que quer que seja a vir é inesperado. E enorme. O certo é o incerto, que pode tornar-se esmagador.
OpiniãoJá há nova PGR ou é boato?Quando a transparência é demasiada o pobre do cidadão desconfia... A frase não é essa? Pois devia ser. Infelizmente, Portugal tornou-se o mais límpido e transparente país da União Europeia e arredores. Uma juíza interroga um suspeito de um crime e, logo, a gravação do interrogatório passa e repassa nas televisões. Maior transparência não podia haver... Infelizmente.
Ferreira FernandesBrasil. Digo-o de mim para mim, com o coração apertadoMadrugada de 29 de outubro, 2018: "Brasil trágico." É verdade, já sei que irei escrever uma crónica com esse título daqui a uma semana e algumas horas. Sei, porque o mundo é assim e sei porque a crónica serei eu a escrevê-la. E, porque o mundo é mesmo assim e embora não seja eu a escrevê-los, sei também que vão aparecer vários comentários, publicados acerca dessa minha crónica, assim: "Bem feito, jornaleiros! Vocês diziam que Bolsonaro nunca ia ganhar... E agora? Aldrabões é o que vocês são todos."
Ferreira FernandesAznavour e Macron, o rap e o dedo do meioCharles Aznavour nasceu em Paris, mas nasceu Shahnour Vaghinagh Aznavourian. Ou mais complicado do que isso se o seu nome fosse escrito em arménio, língua antiga, ainda mais do que o francês mais antigo. Shahnour foi um francês de acaso, os pais iam a caminho da América. O parto interrompeu a viagem dos Aznavourian, se não eles bem poderiam estar num convés de navio, entrando na bacia do rio Hudson e balbuciando a ilusão: "América, América!", como no filme de Elia Kazan, com os imigrantes arménios frente à Estátua da Liberdade, fugindo do genocídio que lhes acontecia naqueles tempos. Shahnour foi um moderno cidadão comum, nasceu num acaso.
Ferreira FernandesLena, a cidadã Morreu a Lena, a nossa Lena. Desculpem-me os leitores o tom pessoal desta crónica, mas ela não é tão pessoal assim. Somos a soma de muitos alguns. E entre esses alguns há o meu grupo - falo dos fronteiras perdidas, como o angolano Agualusa batizou. A Lena, que até é cabo-verdiana, é (deixem-me prolongar o tempo presente) a melhor das nossas representantes. Um dia, um dos partidos portugueses, o PSR, pai (a Lena diria mãe) do BE, apresentou-a na lista para eleições europeias, cabeça-de-lista. Uma cabeça de carapinha, tudo que ver com eleições para uma ideia moderna, a Europa. De outra vez, o presidente cabo-verdiano Jorge Carlos Fonseca, companheiro de clandestinidades, fez dela conselheira de Estado.
Ferreira FernandesOs porta-vozes sub-reptícios ficam gulosos O jornal satírico francês Le Canard Enchaîné tem uma célebre segunda página em que conta o que se diz nas reuniões semanais do governo. E publica entre aspas o que se diz. Por exemplo, o ministro das Finanças disse que "assim não dá", ao que o primeiro-ministro contrapôs "ai aguenta, aguenta" e o Presidente bateu com o punho na mesa e disse "é assim, ou vai ou racha!"... O exemplo que dou é inventado, mas ilustra bem uma típica notícia do Canard. Geralmente meia dúzia de linhas, seguida de uma dezena de outras pequenas notícias similares, com citações aspeadas, isto é, atribuídas sem dúvida a alguém. Há décadas que o jornal faz isso, com raríssimos desmentidos.
Ferreira FernandesMcCain: o primeiro a mostrar-nos TrumpEle era um herói americano. Daqueles que um episódio define, ou ilustra, ou redime. Um episódio. Um, definitivo. Sim, porque uma vida conta-se em romance russo, longo e contraditório - em Um Herói do Nosso Tempo, de Mikhail Lermontov, o oficial Petchorin é cínico, niilista e melancólico; em Crime e Castigo, de Dostoiévski, o jovem Raskólnikov é por ideais que mata gratuitamente uma velha; e em Anna Karenina, de Tolstói, a heroína é insegura, apaixonada e arrependida. Os romances russos precisam de muitas páginas porque mesmo em Um Dia na Vida de Ivan Denissovitch, de Soljenítsin, a história de um prisioneiro e um pão, ou falta dele, é a história dos homens.
Ferreira FernandesO desmesurado eucaliptoPerguntou o repórter, numa daquelas infelizes frases que dizemos acontecer até aos melhores: "Não se passou aqui uma desmesurada preocupação com as vidas humanas, deixando tudo arder?" Desmesurada preocupação com as vidas humanas! Perguntou-se isto sobre o fogo de Monchique, um ano depois de Pedrógão... O ministro Eduardo Cabrita foi caridoso e não escarafunchou a faca na tolice. Pois foi pena.
Ferreira FernandesBrasil, país de um futuro assustadorUm exagero pode ser uma tempestade num copo de água. A gente bebe e passa. Mas há exageros para tomar a sério. O brasileiro Jair Bolsonaro ser há trinta anos político eleito é um exagero. Ter sido, em 2014, o deputado federal mais votado do estado do Rio de Janeiro é outro exagero.
Ferreira FernandesJá esteve de pé, hoje?Vídeo, segunda-feira, em direto; textos nos jornais pelo Mundo fora, ao longo da semana. Hoje, sexta, retomo o assunto. A passageira sueca Elin Ersson, 21 anos, não se sentou no seu lugar da Turkish Airlines, na partida do voo de Gutemburgo para Istambul. Um avião não pode descolar com um passageiro de pé.
Um ponto é tudoOs últimos centristas Costa, Sánchez, MacronEm matéria de saúde própria, a moda são doses homeopáticas, pequeninas e graduais, ou mesmo dose nenhuma. Suspeita-se das vacinas e aprecia-se muito a medicina aromatizada, que ainda não chegou às Urgências dos hospitais mas está a chegar. Enfermeiros com batas cor de açafrão budista fazendo soar tamborzinhos suavemente, a receber o atropelado, com perónio exposto e hemorragias internas...
Um ponto é tudoNão há urgência maior do que esta pergunta simplesOuso meter-me nisto pela urgência e gravidade do espantoso caso. Este assunto tem meses e meses. Um antigo ministro, enquanto ministro, recebeu 500 mil euros de uma empresa privada, ou não. Digo "ou não" porque a Justiça, que vazou a informação para o público, ainda não conseguiu constituir arguido o referido ministro (ou melhor, conseguiu e, depois, desconseguiu), quanto mais levá-lo a tribunal, julgá-lo, inocentá-lo ou condená-lo. Primeiro lamento, a Justiça não conseguiu.