Santiago Segurola

Opinião

O adeus pouco sentimental de Cristiano Ronaldo

Existem uns poucos jogadores que são filhos do seu tempo, mas que transcendem esse mesmo tempo. Um deles é Cristiano Ronaldo, avançado implacável, goleador sem limites e personagem discutida que agora se despede do Real Madrid para jogar na Juventus. Como sempre acontece com os futebolistas míticos, e Cristiano está absolutamente consciente de que é um mito vivo do futebol, não existe nada mais difícil do que encerrar a carreira com precisão e elegância. É raro um jogador aceitar o seu declínio e não é fácil encontrar um clube que carregue o peso da decadência.

Opinião

O VAR rouba protagonismo a Cristiano Ronaldo

Cristiano Ronaldo foi o melhor jogador na primeira semana do Mundial, o único cujo o impacto esteve à altura da sua fama, mas a estrela é o videoárbitro (VAR), um novo sinal da desnaturalização do futebol. É um tempo temível em que tudo se justifica em nome do dinheiro e do seu ambiente produtivo. Atrás, muito atrás, começa a ficar o adepto, sujeito central do futebol até há pouco tempo, convertido agora num consumidor alienado, sem outro papel que não o de engraxar um dos grandes negócios do século XXI. Nesta festa mercantil não podia faltar a tecnologia, outro impressionante negócio em constante movimento. Com o álibi da justiça e da suposta modernidade que representa o modelo americano (NFL, NBA, MLB, NHL), o futebol começa a abandonar as regras simples que o ajudaram a estabelecer-se como desporto universal por antonomásia.

Opinião

O oculto jogo com Portugal

A vertigem preside ao início do Campeonato do Mundo, uma esmagadora festa de futebol que ontem começou com um aperitivo medíocre - a Rússia esmagou a Arábia Saudita - e um banho de lisonja a Vladimir Putin, acompanhado no palco pelo rei da Arábia e por Gianni Infantino, presidente da FIFA, cujo gesto de satisfação transmitiu um ar entre perturbador e obsceno. Sentado entre os dois presidentes, Infantino era um homem feliz. Subordinado do sombrio Sepp Blatter durante anos, o sorridente advogado suíço aproveitou o seu grande momento. No palco do Estádio Luzhniki, presidiu ao seu primeiro Mundial. É assim que se escreve a história na FIFA: Blatter operou na sombra dos escritórios para suceder ao corrupto João Havelange e nos mesmos escritórios calculou Infantino a sua estratégia para a sucessão de Blatter. Histórias de traições e vassalos ambiciosos. Estas são as pessoas que governam o futebol.

Opinião

Cristiano Ronaldo e os felizes novos pretorianos

Espanha olha com nostalgia para o percurso da seleção portuguesa de futebol no Campeonato da Europa, onde se concretizou o declínio da equipa que dominou o futebol com um jogo suave que escondia um punho de ferro. À sensação de tristeza junta-se a preocupação. Não aparece no horizonte a geração capaz de gerar o entusiasmo perdido. Não podia ser de outra maneira. Durante quase dez anos, Espanha reuniu vários dos melhores jogadores da sua história, caracterizados pela sua inteligência matemática e umas convicções inquebrantáveis. Agora é tempo de observar a fulgurante progressão dos jovens na seleção portuguesa.

Santiago Segurola

Luzes, e alguma sombra, na seleção alemã

Ainda não terminou a primeira fase e já se pode falar de um belo Mundial, marcado pelo jogo bonito, pela ambição das equipas e uma considerável quantidade de golos. Predomina o ataque sobre a defesa e a vontade de ganhar sobre o desejo de especular. Alemanha e Gana ofereceram um duelo que representou perfeitamente o perfil do torneio. Um jogo de área a área, veloz, com numerosas oportunidades de golo. Uma partida que dá gosto aos adeptos e desagrada os treinadores.

Santiago Segurola

Benzema: Dois lados e um destino

O mundo do futebol divide-se em dois: os que amam Benzema e os que o detestam. Esse é o seu destino e não vai mudar. Os seus três golos às Honduras não modificaram a opinião de ninguém. Sobre o francês pesam tantos preconceitos que as suas grandes exibições são esquecidas imediatamente. Ele é recordado sobretudo pelos maus jogos. Os seus detratores, que provavelmente estão em maioria, dizem que ele é apático e distraído. Falta-lhe instinto goleador, acrescentam. Argumentam que não é um verdadeiro avançado-centro. Ele irrita-os.

Mundial 2010

SANTIAGO SEGUROLA: Campeões

A final simbolizou todas as dificuldades que teve de atravessar a selecção espanhola para ganhar o Campeonato do Mundo, o primeiro numa grande trajectória de um futebol de prestígio, mas de escassos resultados. Tudo mudou nos últimos dois anos. Espanha ganhou o Campeonato da Europa, obteve o reconheci- mento universal e chegou como favorita à África do Sul. Ali, começou a sua odisseia salpicada de obstáculos, dificuldades que pareciam inultrapassáveis e uma extraordinária convicção para as vencer.

Versão espanhola

SANTIAGO SEGUROLA: O herege da escola cruyffiana

Os puristas decidiram que a Holanda está nos antípodas do seu estilo. Dizem que não lembra nada o futebol total que foi inaugurado pela luxuosa versão laranja capitaneada por Cruyff. Com o futebol holandês sucede sempre o mesmo: é examinado à lupa, à procura de alguma heresia, de algum desvio em relação ao padrão que se estabeleceu nos anos 70. O primeiro etimólogo costuma ser o próprio Cruyff, guardião das essências holandesas.

versão espanhola

SANTIAGO SEGUROLA: Os empates italianos são diferentes

As coisas correm tão bem à Itália que empatou com a Nova Zelândia, uma formiga do futebol. Não há nada de irónico no comentário. Só lhes falta um empate para se classificarem (o Paraguai vencerá os neozelandeses porque quer assegurar o primeiro lugar do grupo). Com os italianos ocorre algo peculiar: movem-se como ninguém à beira do abismo. No Mundial de Espanha 82, empataram os três primeiros encontros, receberam críticas ferozes e ganharam o torneio.

Mundial 2010

SANTIAGO SEGUROLA: Nunca confiem em Anelka

Um dos jogadores mais irritantes dos últimos 25 anos é Nicolas Anelka, expulso ontem da selecção francesa por insultar o seu treinador, Raymond Domenech, no intervalo do encontro com o México. Anelka nunca foi um jogador activo, generoso e solidário. Aproveitou o desastre da sua equipa e a péssima reputação de Domenech para abandonar o barco. Se podíamos esperar uma reacção tão miserável de alguém, era de Anelka.O avançado francês pertence a uma nova categoria do futebol, relacionada com o negócio e as relações públicas. Já tem 31 anos e ainda se fala dele como um jogador que não atingiu o seu potencial. Isso significa que se lhe concede um crédito que não merece, mas que funciona. Uma lista de equipas por onde passou? Paris Saint-Germain, Arsenal, Real Madrid, Liverpool, Manchester City e Chelsea, entre outros. Coisa pouca. Ou o seu empresário é um génio, ou os managers do clubes são incompetentes.Anelka jogou a temporada de 1999-2000 no Real Madrid, que pagou por ele 23 milhões de libras, naquela altura a transferência mais cara da história do futebol mundial. Um ano depois foi devolvido ao Paris Saint-Germain. No Real marcou dois golos na liga. Os seus companheiros chamavam-lhe "o marciano". Vivia noutro planeta, alheado da equipa e da cidade e com a cabeça enfiada entre gorros. Essa foi a recordação que deixou.Quando o Real Madrid ganhou a Champions League em Paris, um peso-pesado da equipa comentou com outro notável: "E pensar que tornamos campeão europeu este filho da puta!" Sim, o futebol foi muito mais generoso com Anelka do que ele com o futebol. As suas médias goleadoras foram baixíssimas para um avançado de tão boas equipas. Não se lhe recorda uma actuação meritória num jogo decisivo. Pelo contrário, foi sempre o típico avançado que se encolhe nas grandes ocasiões. Uma mentira de jogador e um egoísta detestável.