OpiniãoAlguém que defenda a EuropaHá cinco anos, no primeiro destes artigos, sugeri que valia a pena fazerem-se 27 referendos sobre a Europa. Agora, não é preciso.
Henrique BurnayO entusiasmo da Eurovisão e os custos da guerraComo se viu no voto do público da Eurovisão, os europeus percebem o que se passa na Ucrânia e de que lado se deve estar. Mas não é certo que saibam quanto é que isso custa.
Henrique BurnayOs cúmplicesIndependentemente do que se pense sobre o desejo e o direito da Ucrânia aderir à NATO e à União Europeia, não é possível ignorar a responsabilidade absoluta e exclusiva da Rússia na forma como tem atacado civis ucranianos. E é necessário exigir a sua condenação inequívoca, por uma questão de clareza.
Henrique BurnayO que de facto nos divideSobre a Guerra na Ucrânia, como nas eleições francesas, está à mostra o grande equívoco dos últimos anos: o verdadeiro antagonismo não é entre radicais de esquerda e de direita, é entre moderados e radicais, entre pró-ocidentais e iliberais. Entre os que defendem inequivocamente o direito da Ucrânia escolher o seu destino junto das democracias ocidentais e os que detestam a NATO, a América ou a globalização tanto ou mais do que a Rússia de Putin; entre os que são contra o sistema, como Le Pen, Zemmour e Mélenchon, e os que o representam, no caso, essencialmente Macron.
Henrique BurnayPara quem é a Europa?O pedido de adesão da Ucrânia à União Europeia, em plena guerra de invasão pela Rússia, levanta uma outra pergunta: o que é, o que quer ser, a União Europeia. Esta discussão já se teve depois de 1989, e vai voltar.
Henrique BurnayCampeões da desigualdadeUm dos principais efeitos do regresso assumido da competição à política internacional é que a União Europeia está a tentar encontrar o seu lugar, e o seu papel, neste novo mundo. E, para isso, está a transformar profundamente algumas das suas características fundamentais. Mas mal se nota, e menos se discute. Até porque tudo isto acontece em políticas que parecem obscuras ou distantes para a maioria dos europeus, como o fascinante mundo dos microprocessadores.
Henrique BurnayO regresso da Europa federal Enquanto a conferência sobre o futuro da Europa faz de conta que os europeus anseiam por uma Europa federal, a realidade coloca a questão de uma maneira muito mais séria: a crescente escala europeia de desafios e respostas implica uma União Europeia federal, ou não?
Henrique BurnayA Europa de Macron: Estado, poder e protecionismoEmanuel Macron, desde dia 1 de Janeiro à frente da presidência rotativa do Conselho da União Europeia (UE), tem a virtude de ser o líder europeu com a ideia mais clara sobre o que quer para Europa. E o defeito daquilo que quer.
Henrique BurnayA Europa do poder ou do mercadoNa mesma semana, o presidente francês e os principais líderes industriais europeus apresentaram as respectivas prioridades para a Europa. Têm ideias comuns, mas as diferenças são óbvias e notórias. O presidente francês, acredita no poder do Estado para definir o lugar da Europa no mundo; os empresários, pedem mercado interno.
Henrique BurnaySomos feitos de quem gostamosQuando vim para Bruxelas "por dois anos e meio de certeza absoluta", há dezassete anos, enchi o carro de coisas que não faziam sentido para quem ia ficar tão pouco tempo. Além de livros escusados, como se não houvesse livrarias e muito mais para ler, trouxe umas trinta fotografias soltas. Umas férias, um baile, uma noitada, uma despedida, a entrega de um presente. Coisas antigas, algumas muito, que me lembravam alguma história. Se calhar por mal haver internet, não existir Facebook, voar ser caro, precisava de trazer raízes, que é o que as memórias são.
Henrique BurnayO necessário regresso do realismoA derrocada da União Soviética e o fim do internacionalismo comunista foram os factores fundamentais da onda democrática que varreu o mundo no pós 1989. Para além da derrota dos regimes comunistas e aparentados, que deixaram de ter o apoio soviético sem o qual a sua subsistência era inviável, também houve uma alteração da política americana e ocidental. O fim, ou pelo menos a diminuição, da competição internacional e uma maior atenção das opiniões públicas levou o Ocidente a ir-se afastando dos regimes não democráticos que lhe tinham sido úteis. Na América Latina, África e Ásia. Uma excpeção relevante terão sido os países árabes do Médio Oriente, onde se acreditava, com justificado razão, que a competição, sendo diferente, subsistia. Coisa que o 11 de Setembro e os ataques terroristas na Europa vieram sustentar, e a Primavera Árabe não desmentiu.
Henrique BurnayAs virtudes da falta de excitaçãoPerguntada, há vários anos, por um apresentador de televisão sobre qual seria a maior virtude alemã, Angela Merkel respondeu "janelas bem vedadas". Esta foi uma das muitas histórias da chanceler recordadas nas últimas semanas, e talvez seja uma das melhores. Merkel foi como uma janela alemã bem vedada. Nada inspiradora, muito eficiente. Essencial para conter crises e repor a normalidade, sem nunca entusiasmar. Poucos políticos de longa duração terão sido, ao mesmo tempo, tanto e tão pouco.
Henrique BurnayA falta que um pensamento europeu fazCom a saída de Angela Merkel é evidente, e vai ser dito centenas de vezes, que se encerra um ciclo. Mas não é apenas na Alemanha. É também na Europa.