Feira da Ladra

A vida a fluir 

António Araújo

A vida a fluir 

É Ruy e Virgínia, 1917. Portugal na guerra, pior do que a de agora, mas a vida lá fluía, pois sempre tem de fluir, é andança incessante, só a morte a pára. Ruy e Virgínia, 1917, conheci-os há dias, na minha Feira da Ladra, ao fundo de um montão de livros, na iminência do lixo. Foi de lá que os resgatei (ou o que deles resta em gentil memória), por um triz e um acaso, desses da vida a fluir. Agora falam comigo, connosco, mais do que jamais julgaram, sob a forma de um caderninho florido, feito com apuro e esmero, dactilografado a preceito, como prenda de amor que o era, e sempre será. Ruy e Virgínia, na iminência do lixo.