António Carlos Cortez

Appetite for destruction: os filhos da pandemia (parte 1)

António Carlos Cortez

Appetite for destruction: os filhos da pandemia (parte 1)

Trata-se de universalizar uma mensagem e de constatar que, em face da globalização, da revolução digital (ou melhor: da imposição digital), o retrato que aqui se fará é talvez injusto, catastrofista, pessimista ou, quando não - dirão alguns -, feito por alguém que deixou de ter esperança no futuro. Mas não deixámos de ter esperança no futuro. Se falo aqui do "apetite pela destruição" é porque, ao contrário das promessas de uma "escola para a felicidade" (expressão ingénua, infantil e doutrinária), todos nós vemos o óbvio: os "nativos digitais" vivem entre o fascínio pelos influencers (o mau gosto, a superficialidade, a estupidez como virtudes) e a alienação, a boçalidade e a ignorância que tudo formatam. Perante as malhas dum império digital brutalizante, é natural que os estudantes não encontrem um verdadeiro sentido para as razões que os deveriam levar a ler bem, a escrever melhor e a pensar criticamente. Perante estes factos, a Escola o que faz? Segue a moda, obedece aos ditames do ME: digitalizar, padronizar, formatar, descerebrar os estudantes (é ver os manuais escolares, é ver as imposições do Projeto Maia).

António Carlos Cortez

Carta dum professor ao Governo e ao PS

Dirijo-me hoje, em nome de muitas centenas que me acompanham nesta luta pela dignificação da profissão docente e em nome da verdade no ensino, a um governo do Partido Socialista, o qual deve, definitivamente, prestar atenção aos sinais da sociedade civil. País que se sente traído por sucessivos governos; país que, desde 2008 e depois da Troika e dos governos Sócrates-Passos Coelho, apenas conheceu estabilidade e alguma reposição de direitos com uma união das esquerdas. As palavras pesam. Isso foi dito por um poeta chamado Carlos de Oliveira (1921-1981). "Pesam mais do que as lajes ou a vida, tanto" que hoje, em 2023, os professores (mas não só os professores) levantam "a torre do seu canto" erguendo, nas escolas, um novo mundo, pedra a pedra. Um mundo novo que desejamos livre da carga burocrática. Um mundo escolar que todos desejamos mais saudável em tempo de violência crescente, potenciada pela ditadura digital, a nova hidra, a falsa Minerva.

António Carlos Cortez

Formar professores: questões incómodas

Questão magna que poucos na Educação entendem - sobretudo quem tem dirigido as políticas educativas do país - é que, como ensinou Voltaire, e relembram Paulo Freire, Vigotski e, em Portugal, um Mário Dionísio: na relação ensino-aprendizagem o essencial não é "ganhar tempo", mas sim perdê-lo. Não é perda de tempo, em face duma matéria do programa, alargar os horizontes culturais das crianças e dos adolescentes. Não é perda de tempo considerar que, na formação de professores, seja qual for a área, não é perda de tempo estudar a Literatura, a Filosofia (direi, por me parecer mais claro, uma cadeira de História das Mentalidades), a História e a Geografia, a História das Artes, a História da Música. Esta formação plural seria perda de tempo numa formação de professores? Dado a escassa formação cultural de quem ensina, urge realizar um Plano Nacional de Formação de professores que, começando no 1º ciclo, se estendesse aos restantes níveis de ensino. Falemos disso, pensemos sobre isso.