Tempo para planear cuidados durante a pandemia foi escasso para enfermeiros
Dos mais de dois mil profissionais de saúde que participaram no estudo, desenvolvido por investigadores do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde, 76% assumiram que o tempo para planear e reformular cuidados foi escasso.
Um estudo desenvolvido por investigadores do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS), que envolveu 2394 enfermeiros, mostra que para 76% destes profissionais o tempo para planear e reformular cuidados foi escasso durante a pandemia.
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Em declarações à Lusa, Olga Ribeiro, investigadora do centro do Porto, revelou hoje que o estudo visava perceber o impacto da covid-19 na prática profissional de enfermagem em contexto hospitalar, mas também contribuir para que as instituições melhorassem os seus ambientes.
"Quisemos identificar alguns fatores que podiam estar a tornar mais negativa a prática de enfermagem no contexto da pandemia da covid-19 e contribuir para os órgãos de gestão das instituições", disse Olga Ribeiro, também docente na Escola Superior de Enfermagem do Porto (ESEP).
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Na investigação, desenvolvida também por investigadores da ESEP, participaram 16 instituições hospitalares e 2394 enfermeiros, sendo que 63% destes prestaram assistência a doentes com covid-19 nos últimos 20 meses.
Dos mais de dois mil profissionais de saúde, 76% assumiram que o tempo para planear e reformular cuidados foi escasso.
"Apesar do empenho e profissionalismo, os enfermeiros sentem que os ambientes não permitem na plenitude uma prática centrada na pessoa", referiu, acrescentando que os inquiridos apontam como fator a falta de enfermeiros, a elevada carga de trabalho e complexidade dos cuidados.
Paralelamente, 60% dos enfermeiros assumiram que, nos últimos meses, a prática esteve centrada sempre, ou muitas vezes, na gestão de sintomas da doença, "o que, comparativamente a um contexto anterior à pandemia, pode parecer um retrocesso".
Apesar disso, "nem tudo foi negativo", salientou Olga Ribeiro, destacando existirem aspetos onde o impacto da pandemia foi positivo, nomeadamente, na "disponibilização de materiais, em termos de equipamentos disponíveis e tecnologias de informação e comunicação".
A colaboração e o trabalho em equipa foram avaliados positivamente por 83% dos participantes.
"Os próprios profissionais revelam preocupação com a segurança dos cuidados"
À Lusa, a investigadora afirmou que, face aos resultados, urge "um importante reforço" do número de enfermeiros e enfermeiros especialistas, uma vez que, 75% dos participantes disse estar em número suficiente face ao número de doentes e às suas necessidades.
"Os próprios profissionais revelam preocupação com a segurança dos cuidados", disse, salientando que outro aspeto a considerar é o "envolvimento e sentido de pertença dos enfermeiros às instituições".
"A criação de condições para a qualificação profissional, o reconhecimento e valorização de competências e do papel que desempenham também era importante. Depois destes 20 meses, ficam com a sensação de dever cumprido, mas sentem que não foram retribuídos pelo esforço", salientou.
Os investigadores pretendem agora comunicar os resultados obtidos a cada uma das instituições envolvidas para que estas possam "melhorar" as suas práticas.
"Temos previsto o desenvolvimento de uma estratégia mais robusta baseada nesta onde podemos sugerir estratégias para melhorar os aspetos que estão piores, fazendo algumas sugestões que podem contribuir para melhorar", acrescentou.
A covid-19 provocou pelo menos 5 253 726 mortes em todo o mundo, entre mais de 265,13 milhões infeções pelo novo coronavírus registadas desde o início da pandemia, segundo o mais recente balanço da agência AFP.
A doença respiratória é provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2, detetado no final de 2019 em Wuhan, cidade do centro da China, e atualmente com variantes identificadas em vários países.