"Os estudantes brasileiros adaptam-se bem ao sistema de ensino superior português"
"Podemos voltar a falar de "imagens recíprocas"? Estudantes portugueses e brasileiros em ambiente académico comum - representações culturais mútuas" é o título da palestra de Conceição Meireles Pereira, professora na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, na Academia das Ciências de Lisboa, que pode ser vista esta segunda-feira por Zoom às 18.00.
Da sua experiência com estudantes portugueses e brasileiros, nota, além da diferença de pronúncias, diferenças culturais que de alguma forma se reflitam no ensino? Ou, tendo em conta a vastidão do Brasil, as diferenças culturais podem ser até grandes dependendo do estado de origem?
As diferenças culturais entre portugueses e brasileiros é um assunto que os estudantes brasileiros em Portugal expressam de forma aberta. Consideram que essas dissemelhanças não geram incompatibilidades de relacionamento, podem até estimulá-lo, mas admitem que, genericamente, há diversidade nos costumes, comportamentos e mentalidades. Isto não surpreende, pois no site Euro.Dicas, fundado no Brasil, em 2014, que se destina a prestar informações sobre como morar na Europa, abrange também o nosso país, ao qual faz referências bastante positivas, mas realça as diferenças culturais entre portugueses e brasileiros. De forma idêntica, a revista digital brasileira Época Negócios, edição de março de 2020, no extenso artigo "Estudar fora", inclui a seguinte afirmação: "Há inúmeras diferenças culturais entre Brasil e Portugal que devem estar na mente de quem pensa em ir estudar nas terras lusitanas". Essas diferenças culturais são reconhecidas por todos os estudantes brasileiros, independentemente da sua origem geográfica. Em geral, os estudantes brasileiros adaptam-se bem ao sistema de ensino superior português, mas mencionam diferenças relativamente ao sistema brasileiro, nomeadamente referem que em Portugal se incide mais no detalhe e, sobretudo, que há uma extensa bibliografia recomendada, sendo apresentadas teorias e obras de autores muito diversos, designadamente estrangeiros, as quais são disponibilizadas nas bibliotecas universitárias. Nesse aspeto, dizem que ficam um pouco em desvantagem, uma vez que enfatizam o domínio do inglês por parte dos seus colegas portugueses, que o aprendem a nível do ensino secundário, ao contrário dos brasileiros, que assumem um défice de aprendizagem de línguas estrangeiras. No entanto, os estudantes portugueses admiram o empenho no estudo da maioria dos seus colegas sul-americanos.
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Como é a coexistência de estudantes portugueses e brasileiros? Tendem a agrupar-se por nacionalidade ou existe facilidade em misturar-se?
Regra geral, verifica-se a convivência entre estudantes brasileiros e portugueses na Academia. Os portugueses abrem-se a esse diálogo e os brasileiros reconhecem a sua recetividade. Para além das questões que se prendem com os estudos, conversam sobre temas variados, com destaque para a política, futebol, gastronomia, música e televisão. Fora da Academia esse convívio será menor, mas por vezes os estudantes brasileiros integram-se nos grupos de portugueses para sair e distrair-se. Inclusive, alguns estudantes brasileiros narram experiências de frequentar o círculo familiar dos seus colegas portugueses, chegando a ser convidados para passar com eles a Páscoa ou o Natal. No entanto, é notória a convivialidade entre estudantes brasileiros, nomeadamente os que vivem nas mesmas residências universitárias, pertencendo a diferentes cursos e faculdades.
Para muitos deles, portugueses como brasileiros, a experiência da Universidade é o primeiro contacto verdadeiramente próximo com os da outra nacionalidade?
Com efeito, para muitos portugueses e brasileiros, a experiência da Universidade é o primeiro contacto verdadeiramente próximo com os da outra nacionalidade, embora haja casos de brasileiros que já tenham estado em Portugal, bem como o contrário, embora as viagens de jovens portugueses ao Brasil pareçam menos frequentes. Em todo o caso, mercê da mobilidade crescente no ensino superior, os estudantes portugueses já têm experiências significativas de passar, pelo menos, um semestre a estudar noutro país, e a conviver, nas suas escolas, com estudantes internacionais. Por seu turno, muitos brasileiros a estudar em Portugal aproveitam as férias escolares para viajar pela Europa.
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Existe de parte a parte noção do que são hoje Portugal e Brasil ou existem preconceitos históricos por parte de uns e outros?
De uma maneira geral, tanto estudantes portugueses quanto brasileiros reconhecem que têm pouco conhecimento do "outro", a diversos níveis: cultural, político, económico, geográfico, etc. E também reconhecem que existem ideias pré-concebidas de parte a parte, que, segundo alguns, se vão esbatendo com a convivência. Em todo o caso, os estudantes brasileiros admitem que na Universidade não se deparam com o preconceito e discriminação de que são alvo, frequentemente, na sociedade portuguesa em geral.
O facto de partilharem uma mesma língua, falada por mais de 270 milhões de pessoas e quatro continentes, é visto como vantajoso?
A partilha da mesma língua terá pesado na escolha de Portugal por muitos jovens brasileiros para fazerem os seus estudos superiores. No entanto, denota-se um maior à-vontade por parte dos estudantes nacionais face ao português falado no Brasil do que o contrário, certamente devido ao maior consumo de audiovisuais de produção brasileira no nosso país. Os estudantes brasileiros afirmam que também lhes interessa aprender as particularidades da língua, como se sentissem maiores diferenças a esse nível do que os portugueses. A ideia da lusofonia, de uma língua falada por quase três centenas de pessoas em quatro continentes não está muito presente nos estudantes de ambas nacionalidades.
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