Morreu Carlos Melancia, antigo governador de Macau. Tinha 95 anos

O antigo governador - entre 1987 e 1991 - estava internado no hospital São José devido a uma queda.
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O antigo governador de Macau Carlos Melancia morreu este domingo à noite aos 95 anos, revelou esta segunda-feira fonte da família.

O antigo governador morreu no hospital de São José, para onde foi transportado após uma queda.

Licenciado em Engenharia, foi governador de Macau de 1987 a 1991 e ministro com as pastas da Indústria e Tecnologia, do Mar e Equipamento Social em vários governos socialistas.

Em 1991, demitiu-se na sequência do designado Caso do Fax de Macau, que envolvia financiamentos partidários do PS, um processo de que foi ilibado em 2002.

Na sua última entrevista, feita à Agência Lusa em 2019, Carlos Melancia recordou a sua gestão do território que já tinha data de entrega para a China acertada entre os dois países.

A Declaração Conjunta Sino-Portuguesa sobre a Questão de Macau foi assinada a 13 de abril de 1987, há 35 anos, e Carlos Melancia tomou posse como governador do território em julho desse ano, já para fazer cumprir o projeto de transferência da administração do enclave, que se concretizou em 1999

Segundo o antigo governador, o que pretendia tanto a China como Portugal era que o território tivesse e caminhasse para a autonomia financeira, tendo sido feitos 300 milhões de euros de investimentos.

Exemplos dessa aposta na autonomia foi a construção do aeroporto para combater o estrangulamento dos transportes e a conclusão dos hospitais Chinês e de São Januário.

"Eu negociei isto tudo, mas quem acabou por os concluir [os projetos] foi o Rocha Vieira", disse então Melancia, referindo-se ao governador que o substituiu no cargo e que geriu o território até à transição da administração.

O presidente da Fundação Oriente, Carlos Monjardino, considerou Carlos Melancia "um bom homem", que acabou por ser "apanhado num turbilhão", cuja origem não estava nele.

"Era um bom homem, que foi apanhado num turbilhão", afirmou Carlos Monjardino, numa referência ao processo em que o antigo governador de Macau foi envolvido, acabando depois por ser ilibado nos tribunais, conhecido como o caso do "fax de Macau".

O presidente da Fundação Oriente fez questão de sublinhar que "sempre disse que a aquela história do fax de Macau tinha mais a ver, porventura com a 'entourage' dele [Carlos Melancia] do que com ele, e que ele tinha sido apanhado naquilo".

Para o economista, Carlos Melancia foi apanhado "num turbilhão, cuja a origem não estava nele". O processo em questão tinha a ver com o financiamento do aeroporto de Macau.

Lamentando o desaparecimento do antigo governador de Macau e ministro de vários governos socialistas, o presidente da Fundação Oriente considerou que Carlos Melancia durante o tempo que esteve no território, então sob administração portuguesa, "teve pessoas à volta dele que não deveria ter tido" e foi "muito prejudicado por isso".

"Poderia ter tido um mandato um pouco mais sossegado se fosse um bocadinho mais severo na avaliação das pessoas que apareciam", acrescentou.

Na opinião de Carlos Monjardino, "a certa altura, devido às fraquezas do governo dele, por razões que não tinha nada a ver com a China, tinham que ver com razões internas, [Carlos Melancia] acabou por se chegar um bocadinho à China. Mas isso, também o Rocha Vieira o fez", afirmou referindo-se ao último governador de Macau, antes da transição da administração do território para a República Popular da China.

Carlos Melancia substituiu Joaquim Correia da Silva no cargo de governador de Macau e, nessa altura, Monjardino teve mais contacto com o que seria o futuro responsável português naquele território passando-lhe as pastas.

Antes disso, já o conhecia, desde os tempos em que o engenheiro foi ministro do Mar.

"Eu fui para Macau com o anterior governador e portanto passei as pastas a Carlos Melancia"

A Fundação Cidade de Ammaia, em Marvão (Portalegre), manifestou o "mais profundo pesar" pela morte do seu criador e fundador, Carlos Melancia.

A Fundação Cidade de Ammaia, fundada em 1997, tem por objeto estatutário a prossecução de ações de ordem cultural, educativa e filantrópica, bem como a missão de salvaguardar e preservar as ruínas da Cidade Romana de Ammaia.

Numa nota enviada à agência Lusa, a Fundação Cidade de Ammaia recorda a "dedicação ímpar" que Carlos Melancia deu ao projeto, com "um enorme esforço pessoal" desde o seu início, considerando-a como um dos seus "projetos de vida", há mais de 25 anos.

"Era sobre a Ammaia que contava a todos os que o ouviam, algumas das histórias da grandiosidade das suas ruínas e o que a cidade romana poderia significar no futuro da nossa região", pode ler-se no documento.

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