Ministro da Saúde diz que falta de médicos vai manter-se nos próximos dois a três anos
Manuel Pizarro promete que o problema será "estruturalmente" resolvido "daqui a algum tempo", mas que até lá é preciso lidar com a situação "com sacrifício dos próprios profissionais semana após semana".
O ministro da Saúde, Manuel Pizarro, afirmou esta sexta-feira que a falta de médicos no Serviço Nacional de Saúde (SNS) é uma dificuldade que vai manter-se nos próximos dois a três anos, até que o problema seja resolvido estruturalmente.
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"Nos próximos dois, três anos ainda vamos ter algumas dificuldades com as quais vamos ter de lidar com sacrifício dos próprios profissionais semana após semana, mas vamos resolver o problema estruturalmente daqui a algum tempo", disse Manuel Pizarro, à margem da inauguração do Hospital de Lagos, no distrito de Faro.
O ministro referiu que o Governo está a trabalhar para aumentar a formação de profissionais, com a abertura de mais vagas para médicos em formação geral e em formação de especialidade, mas admitiu que a falta de médicos é um problema de todo o país, que "sente-se mais no Algarve, região onde é difícil fixar médicos devido ao custo de vida mais elevado.
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"O custo da habitação é maior e torna mais difícil trazer profissionais", sublinhou.
Segundo o governante, o problema da falta de profissionais de saúde está a ser trabalhado pelo Governo, nomeadamente "a formação de profissionais, um aspeto muito relevante, a abertura de mais vagas para a formação de médicos em geral e de médicos especialistas, em especial, grande parte delas no Algarve e o reforço do funcionamento do curso de medicina da Universidade do Algarve".
Além destas, adiantou, também o alargamento da formação de enfermeiros no Algarve "é uma estratégia que, a prazo, vai permitir, seguramente, lidar melhor com esta dificuldade".
O ministro sublinhou a importância da abertura de mais vagas para a formação de médicos como "um meio estratégico que futuramente vai permitir lidar melhor com esta dificuldade", a que se junta "um esforço de colaboração conjunta com as câmaras municipais na resolução em matéria de alojamento".
De acordo com Manuel Pizarro, a partir de janeiro de 2023, "134 médicos vão entrar em formação geral e algumas dezenas, o maior número de sempre de médicos, na formação da especialidade no Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA) e também nos cuidados de saúde primários".
Para fixar os profissionais na região algarvia, o ministro apontou como essencial a criação de novas infraestruturas hospitalares: "Tenho a certeza que é mais fácil fixar médicos e enfermeiros ou outros profissionais num hospital moderno como este, do que era no antigo hospital, num edifício com 500 anos".
Manuel Pizarro disse que a construção do novo Hospital Central do Algarve "também contribuirá para fixar profissionais na região, um processo que está de novo em marcha, que vai ter evolução durante o ano de 2023".
Questionado sobre constrangimentos nos serviços nos hospitais de Santarém e de Torres Novas, o ministro disse que o Governo "prevê tomar as medidas necessárias para que estes constrangimentos deixem de ocorrer".
Ministro compreende greve dos médicos
O ministro da Saúde disse ainda que compreende a greve dos médicos decretada pela Federação Nacional dos Médicos (FNAM), considerando que a paralisação se insere na greve geral da função pública e "não por motivações" no setor da Saúde.
"Tenho que respeitar e compreendo, vivemos numa sociedade democrática, que uma das centrais sindicais [CGTP] não tenha podido e querido aderir ao acordo [de concertação social] e tenho que compreender a greve nesse contexto da função pública", disse Manuel Pizarro.
A FNAM emitiu na quinta-feira um pré-aviso para acompanhar a greve dos trabalhadores da administração pública convocada pela Frente Comum para dia 18 de novembro, uma semana antes da votação final do Orçamento do Estado para 2023.
Na opinião do governante, a paralisação dos médicos "não é uma greve que tenha uma motivação nos temas do setor da saúde", mas sim, inserida numa greve geral que "é contra uma coisa muito importante que o Governo conseguiu, que foi fazer um acordo de concertação social para a evolução dos rendimentos".
Questionado sobre a greve de quatro dias dos enfermeiros convocada pelo Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP) para 17, 18, 22 e 23 de novembro, o ministro referiu que o Governo "está a negociar com a classe", frisando que "a curto prazo haverá boas notícias para os enfermeiros".
Manuel Pizarro admitiu que o Governo pode não satisfazer a todas as reivindicações da classe, que reclama a reposição dos pontos para progressão na carreira e o pagamento dos retroativos a ser feito ainda em 2022.
"Admito que não possamos corresponder a todas as reivindicações, mas estou absolutamente certo que os enfermeiros se vão sentir muito melhor com aquilo que vai ser implementado em matéria da sua carreira", destacou.
Manuel Pizarro inaugurou hoje o Hospital Terras do Infante, em Lagos, infraestrutura onde antes funcionava uma unidade privada e que em janeiro passou a integrar o Centro Hospitalar Universitário do Algarve, a par das unidades hospitalares de Faro e de Portimão.