"Seria bom uma descoberta para diminuir o impacto da mortalidade"

Lynne Archibald nasceu no Canadá, tem 53 anos e há 28 que vive em Portugal, desde que se casou com um português. Em 2000, tornou-se presidente da Associação Laço, que foi criada em homenagem a uma amiga que morreu da doença. Desde então, tem apoiado o rastreio do cancro da mama, e agora a sua investigação
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Ao fim de 11 anos, a Laço deixa de apostar no rastreio e vira-se para a investigação. Os resultados não estavam a ser os esperados?

Não estavam, mas tanto em Portugal como no resto do mundo. O projeto nacional de rastreio é vasto, tenta rastrear mulheres dos 45-50 aos 69 anos. Não é fácil, sabemos isso, mas o impacto que esperávamos era o de que a taxa de mortalidade caísse. E, infelizmente, isso não aconteceu. O rastreio permitiu detetar mais casos, obviamente que evitou algumas mortes, mas não reduziu o número de mulheres que morrem com cancro da mama metastásico, que não desce dos 30%. Não quer dizer que os resultados alcançados com o rastreio não tenham sido positivos. Até são, mas, ao fim de dez anos, chegámos ao ponto de ter de decidir se continuávamos a financiar uma coisa que não está a mudar muito o curso das coisas ou se passávamos para outra área. A nível mundial, o foco tem estado muito na deteção precoce da doença e na evolução da imagiologia, por isso considerámos que deveríamos apostar na investigação, regressar ao laboratório, ao estudo das células para chegarmos à origem. Além do mais, a investigação na área do cancro da mama não tem tido muitos apoios.

Considera que o financiamento para a investigação tem sido descurado?

De uma forma geral, acho que a investigação científica relacionada com a saúde não tem tido muitos apoios, apesar de percebermos que há outras áreas que podem ser prioritárias, como a doença de Alzheimer ou as doenças cardiovasculares. Mas dado o número de doentes que morrem de cancro da mama todos os anos, seria muito bom uma descoberta que permitisse diminuir esse impacto na mortalidade.

Não foi só a área de aposta que mudou, a associação Laço também deu origem ao Fundo iMM-Laço. Porquê?

Quando começámos a atribuir as bolsas Laço decidimos que o faríamos durante três anos, mas esse processo é muito complicado. Os regulamentos obrigam a constituir um júri, que tem de se reunir várias vezes para avaliar os trabalhos, e as pessoas que constituíam esse júri acabavam por sair porque dava muito trabalho, e não era remunerado. Sentíamos que todos os anos tínhamos de começar do zero. Daí termos pensado criar uma estrutura permanente, e como já trabalhávamos com o iMM em Lisboa, que tem dimensão nacional e internacional, apesar de termos muito respeito por todos os outros centros de investigação nesta área, decidimos perguntar se interessava aprofundar a investigação nos tipos do cancro da mama e no metastásico. Disseram-nos que sim.

Quantos projetos já foram apoiados pela bolsa Laço?

Começámos em 2013 e o primeiro projeto a ser apoiado era do IMM, liderado pelo professor Sérgio Dias, que agora tem um outro que também está a ser apoiado. Foi atribuída a quantia de 25 mil euros. Em 2014, conseguimos angariar mais dinheiro e atribuímos duas bolsas, uma a um projeto do Ipatimup, de Ana Gaspar, e outro a um do iMM, de Joana Paredes. Em 2015, foram atribuídas outras duas bolsas, uma ao Instituto Ciência da Gulbenkian, a Florence Janody, e outra a Wolfgang Link, da Universidade do Algarve. Alguns destes projetos já foram publicados em revistas científicas.

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