Polícias que mataram mulher por engano recebem apoio psicológico

Os seis polícias arguidos vão continuar em funções. Ministro da Administração Interna fala em "circunstância infeliz"
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Os seis polícias constituídos arguidos por terem participado na morte acidental, a tiro, de uma mulher que seguia num carro que a PSP confundiu com a viatura perseguida após assalto ao multibanco em Almada estão a receber apoio psicológico. Segundo a advogada Paula Belo, que representa três dos agentes, "a Direção Nacional da PSP encarregou hoje uma equipa de dois psicólogos de apoiar os polícias e o Sindicato Independente dos Agentes de Polícia (SIAP), para o qual trabalho, também vai disponibilizar uma equipa multidisciplinar aos agentes".

Os polícias cuja defesa é assegurada por Paula Belo pertencem às Equipas de Intervenção Rápida da Divisão da PSP de Loures e são "experientes". É a primeira vez na carreira que se veem constituídos arguidos. O sétimo agente que ainda foi ao tribunal na quarta-feira à noite não chegou a ser constituído arguido porque não teve intervenção nos 20 disparos contra o Renault Mégane confundido com o Seat Leon que participou num assalto em Almada, às três da manhã desse dia. Esse agente foi atropelado pelo Mégane quando vários polícias deram ordem de paragem a esse carro, no bairro da Encarnação, em Lisboa, confundindo-o com o Seat Leon que era perseguido desde Almada até à zona do aeroporto.

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Os polícias estão apenas com a medida de coação automática à constituição de arguido, que é o termo de identidade e residência, e ainda não foram suspensos de funções no âmbito do inquérito disciplinar aberto pela Inspeção-Geral da Administração Interna. A advogada não acredita que haja fundamento para uma suspensão. "Não vejo motivos para serem suspensos. Eles agiram legitimados pelo perigo da situação. O Renault Mégane, que foi confundido com o carro do assalto, recusou-se a parar e ainda abalroou uma equipa da polícia. Qualquer pessoa que passasse no Bairro da Encarnação àquela hora corria perigo", adianta Paula Belo.

A circunstância infeliz de Cabrita

O ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, assegurou ontem que "tudo será apurado" relativamente ao que considerou um acaso "infeliz". "Aquilo que é fundamental é que haja uma resposta a uma situação decorrente de um número significativo de assaltos a ATM. A circunstância infeliz ontem [quarta-feira], verificada no quadro de uma perseguição, está neste momento a ser investigada pela Inspeção-Geral da Administração Interna [IGAI], pelas autoridades judiciárias, pelo Ministério Público, no quadro das suas competências próprias, e tudo será apurado", disse o ministro.

"Determinei de imediato a intervenção da IGAI e respeitaremos e teremos em atenção as conclusões, mas sabendo que é fundamental a mobilização de todas as forças de segurança, coordenadas numa resposta a fenómenos que têm atingido uma dimensão que exige uma resposta coordenada", acrescentou, referiu ainda que o governo está a "reforçar os mecanismos de coordenação entre todas as forças e serviços de segurança relativamente à situação de incidentes em ATM".

Família da mulher sem dinheiro

A família de Ivanice, a mulher de 36 anos, de nacionalidade brasileira, atingida mortalmente no pescoço, diz não ter dinheiro para levar o corpo para o Brasil. Ivanice Carvalho da Costa saiu do seu país natal para emigrar para Portugal aos 19 anos. A mulher seguia no carro conduzido pelo seu companheiro, também brasileiro, e dirigia-se ao aeroporto de Lisboa, onde ia entrar ao trabalho num restaurante às quatro da manhã.

A mãe de Ivanice disse ao portal G1, da Globo, que espera que o Estado português providencie o repatriamento do corpo. "Eu queria que [me] o trouxessem, já que a culpa é deles, do governo, do Estado. Eles que mandem a minha filha. Não temos condições, porque deve ser muito caro. Eu queria a minha filha aqui, pelo menos isso", disse Maria Luzia da Costa. O companheiro de Ivanice está constituído arguido por condução perigosa, sem carta e desobediência.

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