Jardim e mais lugares para estacionar na Penha de França
A EMEL já iniciou obras de demolição na Encosta da Penha de França e prevê que no final do Verão esteja terminado um parque que vai criar 86 novos lugares de estacionamento, a dividir entre as freguesias da Penha de França e de Arroios. O espaço destinado aos automóveis vai ocupar dois socalcos da colina, num projeto que contempla também um espaço de jardim. Mas a nova configuração não agrada a moradores da freguesia, que estão a lançar um movimento em defesa de um "verdadeiro jardim público" - já tem um blogue e uma página de Facebook e quer ver a Câmara criar na colina o "Jardim do Caracol da Penha".
O movimento teve este fim de semana o primeiro encontro e, de acordo com um dos moradores participantes, esta pretende ser uma "iniciativa pela positiva": "Temos um espaço verde fantástico, que quase ninguém conhece, e queremos que seja requalificado". Com o movimento a dar os primeiros passos, este residente sublinha que ninguém está contra o estacionamento, mas contra a destruição de "um jardim que já existe". Para estacionar os veículos "há mais espaços na freguesia", sublinha.
O projeto em curso - que é da Câmara Municipal, mas vai ser concretizado pela Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa - prevê a existência de três "plataformas" na encosta, que tem um declive bastante acentuado. A mais alta terá uma creche, um parque infantil, um quiosque e um miradouro com esplanada. As duas de baixo serão ocupadas pelo estacionamento que, segundo afirmou ao DN a Diretora de Institucionais e Cidadania da EMEL, Helena Carvalho, totalizará 86 lugares (inicialmente estavam previstos 99). Ainda de acordo com a empresa, os novos lugares de estacionamento deverão estar disponíveis no fim do Verão.
O projeto prevê ainda um atravessamento pedonal que fará a ligação entre as ruas Marques da Silva e a Rua Cidade de Cardiff, artérias pelas quais se fará também a circulação automóvel para entrada e saída no parque. Para o alto da encosta, uma zona íngreme de difícil acesso, está projetado um "bosque".
Da parte das duas juntas de freguesia abrangidas por esta obra, não há reparos a fazer. Sofia Oliveira Dias, presidente da Junta de Freguesia da Penha de França, defende que a intervenção vem reabilitar uma área "totalmente abandonada, totalmente fora da fruição pública". E se há moradores que contestam, a autarca socialista diz que "também há muitos que preferem mais estacionamento". Esta é uma "solução de compromisso" para um espaço "que neste momento não está disponível para a fruição de ninguém".
Margarida Martins, presidente da vizinha freguesia de Arroios, também vê com bons olhos a alteração que aí vem, que transforma uma "zona parada, uma espécie de baldio que estava transformado numa lixeira" num espaço de uso e lazer para os residentes dos dois bairros. "Gostei do projeto", diz ao DN, acrescentando ter apenas pedido à Câmara que o espaço seja "fechado à noite" para evitar situações de vandalismo.
Proposta concorre ao Orçamento
O projeto de um "verdadeiro jardim público" defendido por este grupo de moradores - que decidiu no primeiro encontro lançar um abaixo-assinado em defesa da criação do Jardim do Caracol da Penha - já teve tradução pública numa proposta apresentada no âmbito do Orçamento Participativo de Lisboa para o presente ano. No texto da proposta defende-se que o terreno da encosta ("com uma área superior a 8000 metros quadrados") "pode responder à enorme carência de espaços verdes fechados com infraestruturas lúdicas e desportivas no centro da cidade, nomeadamente nestas duas grandes freguesias residenciais do centro de Lisboa".
O texto defende, por isso, uma requalificação do espaço que "passaria pela limpeza da vegetação rasteira existente, abrindo caminhos pedonais e criando zonas e infraestruturas de usufruto comum, como um campo de basquetebol exterior, duas mesas de ping-pong, um parque infantil, um quiosque, uma zona de convívio e piquenique (mesas e bancos) e um ou mais espaços hortícolas".
A proposta lembra também que este espaço verde possui "mais de 25 árvores de espécies variadas (incluindo lódãos, zambujeiros, pinheiros, catos), das quais 11 são de fruto (ameixeiras, amendoeiras, figueiras, abacateiros, nespereiras, bananeiras, oliveiras) e três são árvores de grande porte (pinheiro, eucalipto)", constituindo "um grande pulmão verde desta zona de Lisboa". Ao DN, a EMEL afirmou que "há árvores que estão assinaladas para abater, outras para transplantar".
No projeto paisagístico consultado pelo DN são apontados, como "arborização a manter", o Lódão, o Zambujeiro e o Pinheiro de Alepo. Como "arborização proposta" surgem o Lódão, o Zambujeiro, o Pinheiro Manso, o Pinheiro de Alepo, a Amedoeira e o Carvalho-Cerqueiro. Quer Margarida Martins quer Sofia Oliveira Dias disseram ao DN que no projeto que foi apresentado às duas juntas de freguesia "a maior parte das árvores será mantida".