Sociedade
03 abril 2023 às 07h31

Football Leaks: Livro que amplia olhar sobre Rui Pinto chega hoje às livrarias

Entre 2015 e 2019, Rui Pinto esteve por trás da divulgação de documentos confidenciais da indústria futebolística, que eram obtidos com acesso ilegítimo ao correio eletrónico de responsáveis desportivos e advogados e emitidos a partir da plataforma Football Leaks.

DN/Lusa

O livro "Rui Pinto: o hacker que abalou o mundo do futebol", que chega hoje às livrarias, oferece ao público universal "uma visão de conjunto" acerca do criador da plataforma eletrónica Football Leaks, reconhece o autor Nuno Tiago Pinto.

"O que eu faço é relacionar todas estas coisas que passam pelas intrusões nos clubes e em alguns escritórios de advogados conhecidos, mas também outras menos conhecidas, com ataques junto de Ministério Público, tribunais, Estado, empresas e bastantes outras coisas. No fundo, isto é uma visão de conjunto que começa no futebol, mas acaba por ir muito além do futebol", sintetizou à agência Lusa o jornalista e diretor da revista Sábado.

Entre 2015 e 2019, Rui Pinto esteve por trás da divulgação de documentos confidenciais da indústria futebolística, que eram obtidos com acesso ilegítimo ao correio eletrónico de responsáveis desportivos e advogados e emitidos a partir da plataforma Football Leaks.

"Qual era o objetivo? Acho que só ele é que poderá esclarecê-lo. Na verdade, o que Rui Pinto tem dito é que pretendia revelar crimes graves. Eu não tenho a certeza de que isso tenha sido assim, porque há um episódio inicial que começa com uma aparente tentativa de extorsão. Isso pode querer dizer que o objetivo inicial até poderia ser ganhar dinheiro, mas que evoluiu mais tarde para outra coisa e realmente para essa intenção de divulgar outro tipo de crimes. Agora, não nos podemos esquecer que, para isto ter acontecido, foram cometidos imensos crimes, muito graves e de uma dimensão gigantesca", avaliou.

O livro parte de uma investigação jornalística publicada por Nuno Tiago Pinto e Eduardo Dâmaso na Sábado, em setembro de 2018, que "revelou quem era a pessoa suspeita de ser o autor do Football Leaks e de estar por trás do caso do roubo de emails do Benfica".

"A discussão tem sido feita muito naquela base do herói ou vilão. Há quem ache que Rui Pinto é um herói, porque divulgou informações com interesse público, mas tentam omitir, esquecer ou não dar importância aos crimes cometidos. Por outro lado, há quem entenda que ele é simplesmente um criminoso, que não tinha problemas em entrar em caixas de correio eletrónico alheias para roubar informação, mas também não ligam à parte de que foram expostas informações relevantes. É uma complexidade muito interessante", notou.

À parte dos inúmeros artigos dispersos na comunicação social, Nuno Tiago Pinto cruzou milhares de documentos judiciais extraídos de inquéritos-crime nacionais e estrangeiros a incidirem em Rui Pinto para recompor o percurso do principal arguido do Football Leaks, que era residente em Budapeste, capital da Hungria, onde foi detido em janeiro de 2019.

"Pelas informações que consegui recolher nos ficheiros encontrados num dos discos do Rui Pinto, havia dados de credenciais de acesso aos emails de mais de 1.100 pessoas e entidades, num universo mundial de 36 países, sobretudo europeus. Penso que não era bem conhecida nem estava esclarecida a dimensão gigantesca do que foi feito", admitiu.

O livro fala igualmente do processo de detenção, das origens dos casos Football Leaks e Luanda Leaks - a envolver Isabel dos Santos, filha do antigo presidente de Angola, José Eduardo dos Santos - e de novas suspeitas sobre Rui Pinto, que nasceu em Vila Nova de Gaia e tinha um negócio online de venda de livros e antiguidades com o pai na Hungria.

"Há pessoas que, na verdade, não fizeram nada de ilegal e tiveram imensos problemas. Saberem que são vítimas, por um lado, ou terem a ideia de que os outros podiam achar que eram elas que estavam a ser a origem da fuga de informação, por outro, foi bastante complicado na altura. Houve quem sofresse imenso a nível laboral e tivesse de mudar de emprego. Ou seja, foram ações com consequências muito grandes para além da simples revelação de informação, algo que é esquecido muitas vezes", insistiu Nuno Tiago Pinto.

Extraditado para Portugal há pouco mais de quatro anos, Rui Pinto, de 34 anos, ficou em prisão preventiva até abril de 2020 e esteve mais três meses em prisão domiciliária até à sua libertação, ficando, por questões de segurança, englobado no programa de proteção de testemunhas e obrigado a efetuar apresentações semanais à Polícia Judiciária (PJ).

Em causa estão 90 crimes: 68 de acesso indevido, 14 de violação de correspondência, seis de acesso ilegítimo - que visam entidades como Federação Portuguesa de Futebol, Sporting, Doyen, Procuradoria-Geral da República ou a sociedade de advogados PLMJ, além de um de sabotagem informática à SAD dos 'leões' e um por tentativa de extorsão.

O coletivo de juízes do julgamento agendou para 28 de abril a leitura do acórdão do caso Football Leaks, cujo segundo arguido é Aníbal Pinto, advogado de Rui Pinto à data dos factos, que foi igualmente pronunciado pelo crime de extorsão de entre 500.000 euros a um milhão de euros, na forma tentada, junto do fundo de investimento Doyen, em 2015.

O processo Football Leaks converteu-se um "caso único" na relação dos jornalistas com as fontes de informação, segundo Nuno Tiago Pinto, autor do livro "Rui Pinto: o hacker que abalou o mundo do futebol", que chega hoje às livrarias.

"Nas grandes divulgações de dados confidenciais que temos tido ao longo dos anos, há um denunciante que obtém a informação, pois trabalhava numa instituição, e entrega-a a um conjunto de jornalistas quando sai de lá. Aqui não é o caso, porque alguém que não trabalhava em lado nenhum foi fornecendo informação a consórcios jornalísticos durante vários anos seguidos", comparou à agência Lusa o jornalista e diretor da revista Sábado.

Entre 2015 e 2019, Rui Pinto esteve por trás da divulgação de documentos confidenciais da indústria futebolística, que eram obtidos com acesso ilegítimo ao correio eletrónico de responsáveis desportivos e advogados e emitidos a partir da plataforma Football Leaks.

"Pode-se, de alguma forma, refletir e questionar de que forma é que o jornalismo também serviu de incentivo para a prática de crimes. Se não houvesse alguém que divulgasse a informação, não sei se aqueles crimes eram cometidos. Acredito que os meus colegas do consórcio tinham boas intenções e não sabiam a maneira como a informação era obtida, mas é preciso refletir sobre como estas relações são feitas, porque o jornalismo pode ter sido, de certo modo, instrumentalizado numa atividade que se revelou criminosa", notou.

Nuno Tiago Pinto cruzou milhares de documentos judiciais extraídos de inquéritos-crime nacionais e estrangeiros a incidirem em Rui Pinto para reconstruir o percurso do principal arguido do Football Leaks, que está a ser julgado, mas tem novas suspeitas a caminho.

"Este livro é um trabalho jornalístico que me demorou quatro anos de recolha, pesquisa e cruzamento de informação. Na fase em que é lançado, sei que não tenho os dados todos na minha posse, pois há coisas que continuarão a ser reveladas à medida que materiais apreendidos forem analisados", vincou, deixando um "olhar sem paixões para os factos".

Extraditado para Portugal há pouco mais de quatro anos, Rui Pinto, de 34 anos, ficou em prisão preventiva até abril de 2020 e esteve mais três meses em prisão domiciliária até à sua libertação, ficando, por questões de segurança, englobado no programa de proteção de testemunhas e obrigado a efetuar apresentações semanais à Polícia Judiciária (PJ).

Em causa estão 90 crimes: 68 de acesso indevido, 14 de violação de correspondência, seis de acesso ilegítimo - que visam entidades como Federação Portuguesa de Futebol, Sporting, Doyen, Procuradoria-Geral da República ou a sociedade de advogados PLMJ, além de um de sabotagem informática à SAD dos 'leões' e um por tentativa de extorsão.

O coletivo de juízes do julgamento agendou para 28 de abril a leitura do acórdão do caso Football Leaks, cujo segundo arguido é Aníbal Pinto, advogado de Rui Pinto à data dos factos, que foi igualmente pronunciado pelo crime de extorsão de entre 500.000 euros a um milhão de euros, na forma tentada, junto do fundo de investimento Doyen, em 2015.

"Para o livro em si, a decisão do tribunal é mais ou menos irrelevante, porque o processo produziu toda a prova e o advogado do Rui Pinto pediu a condenação. É certo que pediu pena suspensa, mas admitiu que não fazia sentido pedir a absolvição, uma vez que Rui Pinto confessou boa parte dos crimes dos quais era acusado", lembra Nuno Tiago Pinto.

O jornalista confia que as suspeitas em torno do criador da plataforma eletrónica Football Leaks "vão continuar durante muitos anos", após ter sido constituído arguido "num novo processo em Portugal", ao passo que "outros casos foram suspensos preventivamente".

"É suspeito num processo nascido em Espanha ao mesmo tempo do Football Leaks, que está dependente de prova e já foi adquirido pelas autoridades portuguesas. Houve ainda uma decisão europeia de investigação, que é uma espécie de carta rogatória, mas mais ágil e rápida, na qual franceses pediram informações ao nosso país sobre as atividades dele, após uma queixa de intrusão informática feita pelo Paris Saint-Germain", detalhou.