"É agora que temos de nos proteger. Em dezembro será tarde"
Quinze dias depois do início da campanha de vacinação com a quarta dose, o coordenador do Núcleo de Apoio ao Ministério da Saúde admite que esta começou com "baixa adesão". Até agora, foram vacinadas cerca de 8% da população elegível. O objetivo é vacinar três milhões até ao Natal. E o coronel Penha Gonçalves lança um alerta: "Os picos vão voltar e a única arma que temos para nos proteger é a vacina."
Portugal foi dos primeiros países da União Europeia a comprar as vacinas já adaptadas às novas variantes para iniciar o processo de reforço com a quarta dose mais cedo. Mas, a verdade, é que esta campanha de outono-inverno começou com "baixa adesão", embora, agora, esteja "a ganhar a velocidade cruzeiro que se pretende", assume ao DN o coordenador do Núcleo de Apoio ao Ministério da Saúde, coronel Penha Gonçalves.
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"O nosso objetivo é conseguir vacinar cerca de 30 mil pessoas por dia e isso já começou a acontecer esta semana", sustenta, explicando: "Foi feito um grande esforço para se começar mais cedo a proteção da população, e já com as vacinas adaptadas às novas variantes, porque temos a noção de que em Portugal há sempre um pico ligeiro em novembro, antes de chegarmos ao Natal, e depois outro mais forte em janeiro e fevereiro. E é agora que temos de ganhar proteção para esse horizonte temporal. Por isso, é muito importante que as pessoas percebam que este é o momento de se vacinarem e não de adiarem este processo".
A campanha de reforço para o este outono-inverno, com a quarta dose, começou a 8 de setembro. E até ontem, 15 dias depois, só cerca de 8% da população elegível para esta fase - cidadãos com 60 ou mais anos, pessoas com outras patologias, independentemente da idade, e profissionais de risco, critérios definidos pela Direção-Geral da Saúde - é que tinham sido vacinadas.
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Ao todo, cerca de 250 mil pessoas, mas o objetivo é vacinar três milhões. "Pretendemos oferecer a todas as pessoas acima dos 60 anos e às que integram os grupos de risco a oportunidade de serem vacinadas contra a covid antes do Natal, o que perfaz um grupo de três milhões".
O médico militar e investigador, que ontem esteve na reunião semanal de trabalho na Administração Regional de Saúde, já com a presença do novo ministro da Saúde, Manuel Pizarro, e a nova secretária de Estado para a Promoção da Saúde, Margarida Tavares, para os colocar a par do processo, relembra que "o vírus da covid, e o da gripe também, continuam a circular na comunidade, não se foram embora. E a melhor maneira para se conviver com eles e tentar-se ter uma vida o mais normal possível é aderir à vacinação. Esta é a grande arma de proteção que continuamos a ter".
De acordo com o cientista é "provável que os picos de infeções voltem a acontecer e a grande vantagem da vacinação é não termos problemas tão graves como teríamos se não estivéssemos vacinados. É preciso que as pessoas não o esqueçam. Uma pessoa vacinada não tem sintomas graves, não vai ao hospital e não morre. É disto que a vacina nos protege".
O coronel acredita que "esta fase está a seguir um padrão idêntico ao do ano passado. Na semana de arranque houve pouca vacinação, mas depois o processo começou a acelerar". Por outro lado, Penha Gonçalves diz perceber que a população não coloque, nesta altura, a questão do contágio. "Estamos a entrar num outono com temperaturas quentes e é natural que não se tenha a perceção real dos riscos, mas os picos vão aparecer e é preciso prevenir agora, em dezembro será muito tarde", reforça.
Questionado sobre alguns receios das pessoas em relação a esta dose, Penha Gonçalves destaca não haver razões, explicando: "Todas as vacinas que estamos a aplicar, para além de terem a componente contra a variante original, já têm também uma componente contra a variante Ómicron. Portanto, vão dar um espetro de proteção ainda mais alargado do que as vacinas anteriores. Foi por isso que começámos mais cedo esta campanha".
Portugal recebeu na segunda-feira uma tranche de cerca de meio milhão das novas vacinas da Pfizer com a componente já contra as variantes BA.4 e BA.5, sendo esta última a dominante nesta altura. No dia 26 de setembro deve receber mais 400 mil novas doses, o que representa um milhão de doses para esta primeira faixa etária dos 80 ou mais anos.
Tal como nos processo anteriores a vacinação está a ser feita em primeiro lugar à população com 80 ou mais anos, começando depois a baixar para as outras faixas etárias. Penha Gonçalves relembra que todas as pessoas serão convocadas para a quarta dose por SMS e, mesmo os que não conseguirem responder à mensagem por alguma razão, podem comparecer na mesma no local e à hora indicados para fazerem a vacina, "porque temos lá os profissionais e a dose que lhes é destinada".
Para esta fase, o Núcleo de Apoio à Vacinação mantém abertos cerca de 350 postos de vacinação, sendo que 2/3 estão a funcionar em centros de saúde e 1/3 em postos de vacinação fora destas unidades. Em Lisboa, por exemplo, mantém-se os postos no Templo Hindu, em Telheiras, no Pavilhão da Ajuda e nos serviços de saúde camarários, nas Olaias.
Ordem dos médicos apela à adesão à quarta dose
A pouca adesão na primeira semana também preocupou o bastonário da Ordem dos Médicos que, em conjunto com o coordenador do recém-criado Gabinete Estratégico para a Saúde Global, vieram ontem alertar que esta nova fase de vacinação é mais uma etapa no combate ao vírus da covid-19.
Em comunicado, estes dirigentes da Ordem sublinhavam que "o início da nova campanha de vacinação sazonal, com as vacinas de 2.ª geração adaptadas à variante Ómicron, representa uma nova etapa no combate à pandemia e visa prevenir pela vacinação o acréscimo de atividade por SARS-CoV-2 que se prevê que possa ocorrer nos próximos meses", apelando mesmo "à população-alvo convocada pela DGA que adira, sem reservas, à campanha de modo a garantir a máxima imunização e a máxima prevenção nos meses finais da pandemia".
No documento, é ainda salientado ser "fundamental que se mantenha a apertada vigilância clínica, epidemiológica e, em particular, virológica, para monitorizar o impacto da pandemia e o eventual aparecimento de novas variantes ou subvariantes que possam justificar ajustes nas medidas de combate à pandemia".
Recorde-se que a DGS, na semana passada, já veio recomendar à população o uso de máscara sempre que se encontre em locais fechados e com ajuntamentos, nomeadamente transportes públicos e zonas comerciais.