Cirurgias em centros de estética feitas por dois mil euros

Inquérito a cirurgiões plásticos revela consequências de atos feitos por pessoas não qualificadas e sem condições de segurança

Há centros de estética e cabeleireiros em Portugal a fazer cirurgias por metade do preço praticado por cirurgiões plásticos em clínicas licenciadas. Em locais que não estão habilitados, uma operação para colocar implantes mamários pode custar dois mil euros, enquanto se for feita por um especialista ascende aos quatro ou cinco mil, pois implica o aluguer de um bloco operatório, o pagamento da equipa cirúrgica e do anestesista, de próteses de qualidade, do internamento. As consequências desastrosas de cirurgias plásticas realizadas por pessoas sem qualificações ou médicos de outras especialidades estão a preocupar a Sociedade Portuguesa de Cirurgia Plástica, Reconstrutiva e Estética (SPCPRE), que vai debater o tema no Congresso Ibérico, de 2 a 4 de junho, no Estoril.

"A cirurgia plástica tem tido um grande incremento nos últimos anos. Como há mais procura, aparecem cada vez mais pessoas pouco qualificadas", revela o cirurgião plástico Celso Cruzeiro, presidente da SPCPRE. Pessoas sem formação específica - como esteticistas e massagistas - e médicos de outras especialidades fazem lipoaspirações e preenchimentos faciais, aplicam botox e colocam implantes mamários em centros de estética, SPA e cabeleireiros.

Quanto às complicações que surgem dessas intervenções, Celso Cruzeiro diz que "já viu de tudo", nomeadamente "queimaduras a laser na face" e "lipoaspirações completamente infetadas". No inquérito feito recentemente pela SPCPER aos cirurgiões plásticos seus associados sobre os problemas mais comuns que lhes apareciam nos consultórios foram relatados, ainda, erros de contorno, próteses mal colocadas, deformidades permanentes e até problemas como perfurações viscerais ou tromboembolismos. "E há muitas complicações que as pessoas escondem, porque têm vergonha de assumir que foram a um profissional pouco qualificado", destaca Celso Cruzeiro.

É sobretudo o baixo preço que leva as pessoas a recorrerem a profissionais sem formação, que fazem intervenções fora de blocos operatórios, sem condições de segurança e com materiais de qualidade duvidosa. Resultado: chegam a ficar bem pior do que estavam. "O fator preço e a publicidade enganosa são determinantes. Há programas de televisão onde vão pessoas dizer que são cirurgiões plásticos e, no entanto, não têm essa especialidade", indica o cirurgião plástico Nuno Fradinho, membro da direção da Sociedade.

A legislação do ato médico por especialidade e uma regulação forte são, para os profissionais, essenciais para ajudar a minimizar este problema de "segurança e saúde pública." Segundo Nuno Fradinho, esta permitiria estabelecer os limites das competências de cada médico. Além disso, o cirurgião fala de falta de inspeções que permitam aferir se são os cirurgiões plásticos que efetuam os procedimentos.

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