Centro de investigação lidera estudo internacional sobre toxinas no Atlântico
Apesar de essas toxinas não terem um impacto negativo nas espécies de bivalves, peixes e invertebrados nos quais se acumulam, em contacto com humanos podem originar efeitos diversos
Um centro de investigação do Porto está a liderar um projeto internacional para estudar a ocorrência de toxinas marinhas emergentes no oceano Atlântico, que se acumulam em bivalves e peixes e cuja ingestão pode causar problemas à saúde humana.
Através do projeto EMERTOX, liderado pelo Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto (CIIMAR), o grupo está a estudar as toxinas emergentes presentes nos microrganismos (bactérias e microalgas) que compõem as marés vermelhas, disse à Lusa o presidente da direção do CIIMAR e coordenador deste projeto, Vítor Vasconcelos.
De acordo com o investigador, ainda que essas toxinas não tenham um impacto negativo nas espécies de bivalves, peixes e invertebrados nos quais se acumulam, em contacto com humanos podem originar efeitos diversos.
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"No Mediterrâneo, em especial em Itália, têm sido descritos inúmeros casos de intoxicação humana decorrentes de atividades recreativas junto ao mar, devido à aspiração do ar contaminado pelos organismos produtores e pelas suas toxinas", contou.
A ingestão dessas toxinas pode causar problemas gastrointestinais (vómitos, diarreia e dores de cabeça)
Vítor Vasconcelos frisou, contudo, que o maior risco para a saúde humana decorre da ingestão de invertebrados contaminados com estas toxinas, como moluscos e peixes.
A ingestão dessas toxinas pode causar problemas gastrointestinais (vómitos, diarreia e dores de cabeça) e, dependendo do tipo de toxina, perdas de memória, paralisia muscular que pode conduzir à morte, diarreia intensa e promoção de tumores.
O investigador acrescentou que não há qualquer alteração visível nos animais e só uma análise química é capaz de diferenciar os contaminados dos não contaminados.
Neste projeto, além das toxinas emergentes, como as tetrodotoxinas, as palitoxinas e as ciguatoxinas, o grupo está a estudar as toxinas já monitorizadas pelo Instituto Português do Mar e Atmosfera (IPMA), nomeadamente o ácido domóico (ASP), o ácido ocadáico (DSP) e as saxitoxinas (PSP).
Embora as toxinas emergentes estejam normalmente associadas a águas quentes, de zonas tropicais do Pacífico, Índico e Atlântico, as mesmas têm vindo a ser detetadas em águas mais frias, através de episódios de intoxicação humana ocorridos em Portugal, Espanha e Itália, e de estudos realizados pelo CIIMAR.
Apesar da introdução de novas espécies e do crescimento dessas toxinas emergentes em zonas costeiras e oceânicas pouco habituais, originadas pelo aquecimento global e pelas rotas marítimas dos grandes navios, as mesmas não são obrigatoriamente monitorizadas em países europeus, incluindo Portugal.
Com este projeto, pretende-se mapear as toxinas e os organismos produtores em águas do Atlântico Norte e Mediterrâneo, bem como desenvolver modelos de previsão da sua evolução, em vários cenários de aquecimento global.
"O conhecimento adquirido será fundamental para assessorar as autoridades nacionais e europeias, como a Agência Europeia de Segurança Alimentar (EFSA), no sentido de sugerir alterações legislativas e novas necessidades na monitorização destas toxinas", disse ainda o professor catedrático da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP).
O EMERTOX, que iniciou a 15 de abril, em Cabo Verde, e terá a duração de quatro anos, é financiado pelo Horizonte 2020 e envolve um consórcio de 15 centros de investigação e empresas de Espanha, França, Reino Unido, Itália, Republica Checa, Cabo Verde, Marrocos e Tunísia.