Sociedade
01 junho 2021 às 13h33

Pandemia deixou prevenção em pausa. "Já estamos a constatar um aumento de números de doença evitável"

O presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública critica a falta de articulação entre serviços e pede mais planeamento no SNS. Ricardo Mexia é um dos convidados do webinar "Covid-19: É tempo de olhar em frente", promovido pelo DN/TSF com apoio da Abbvie a 1 de junho.

Francisco de Almeida Fernandes

Em 2020, foram convocadas menos 500 mil pessoas para rastreios oncológicos em Portugal como consequência da paragem, quase total, da atividade assistencial não urgente. Quem o garante é José Dinis, diretor do Programa Nacional para as Doenças Oncológicas, em declarações recentes à Antena 1. Contudo, estes não foram os únicos efeitos negativos causados pela covid-19 - ainda no último ano, ficaram por fazer 151 mil cirurgias e cerca de 1,2 milhões de consultas, conforme mostram os dados do Portal da Transparência. "Com um melhor planeamento e alocação dos recursos teria sido possível manter [a atividade]", diz ao DN Ricardo Mexia, que lamenta a falta de articulação entre serviços de saúde durante a crise pandémica.

Para o presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública (ANMSP), não há dúvidas de que "uma parte importante da prevenção ficou por fazer e um dos aspetos particularmente importantes é a retoma das diversas atividades de rastreio", defende. José Dinis garantiu, em declarações à mesma rádio, que "no primeiro trimestre de 2021 assistiu-se a uma recuperação completamente espetacular" dos rastreios ao cancro, tendo já sido realizados mais exames de diagnóstico "do que em todo o ano de 2019". No entanto, afirma Ricardo Mexia, "já estamos a constatar um aumento de números de doença evitável".

O crescimento da prevenção, em que os rastreios para as mais variadas patologias se revestem de elevada importância, permite "identificar precocemente múltiplas doenças e intervir numa fase em que é muito mais fácil tratar". Não só ajuda a evitar o aparecimento de doença aguda, como tem impacto na sustentabilidade do SNS, que reduz os custos e alivia pressão dos centros de saúde e hospitais. "Uma aposta praticamente residual na prevenção compromete a sustentabilidade num sistema com custos em crescimento exponencial", assinala Mexia, que afirma ser "muito importante ter um planeamento integrado".

"Todo o sistema foi colocado sob enorme pressão e as insuficiências tornaram-se ainda mais transparentes. Temos um enorme défice de articulação entre os diversos níveis de cuidados", diz. Para recuperar o tempo perdido e evitar consequências mais gravosas para a saúde dos doentes, será necessário avaliar o que podia ter sido feito de forma diferente. Este será, aliás, o tema principal do webinar «Covid-19: É tempo de olhar em frente», promovido pelo DN com apoio da AbbVie no dia 1 de junho, às 18h. Ao longo de 40 minutos, Tamara Milagre (EVITA - Associação de Doentes), Ricardo Mexia (ANMSP) e Guilherme Macedo (Organização Mundial de Gastrenterologista) vão debater o futuro nos cuidados de saúde, reunindo recomendações sobre como tornar o sistema mais resiliente e mais bem preparado para eventuais novas crises pandémicas.

Este webinar, Este webinar, transmitido em direto no site do DN, antecede a nova edição da conferência Sustentabilidade em Saúde, a 15 de junho, e a que poderá assistir, também, via streaming nos mesmos canais digitais.

Tópicos: COVID-19, Sociedade