Sociedade
28 julho 2021 às 22h34

Num país com menos gente, ganha Mafra e perde Barrancos

Portugal é mais desigual na distribuição demográfica. Os centros urbanos continuam com mais pessoas, ao contrário das cidades do interior, revelam dados preliminares.

Céu Neves

Os últimos censos indicam o início para o declínio anunciado da população portuguesa que, em 50 anos, o Instituto Nacional de Estatística (INE) prevê ser de 8,2 milhões de residentes, menos dois milhões do que agora. Este organismo divulgou esta quarta-feira os resultados preliminares dos Censos 2021. Desde 2011, há menos 214 286 residentes, uma redução de 2%. Diminuição semelhante só aconteceu na década de 1960 e 1970, caracterizada por forte emigração. Os que aqui vivem, continuam a procurar o litoral, sobretudo à volta das áreas metropolitanas e do Algarve. Os concelhos desertificados ficam piores.

Metade da população em Portugal concentra-se em 31 dos 308 concelhos, com destaque para as áreas metropolitanas de Lisboa (AML) e do Porto (AMP), embora com diferenças importantes. E, enquanto há dez anos 198 municípios registavam quebras demográficas, agora, são bem mais: 257.

Destaquedestaque10 317 892 habitantes

A AML cresce em número, mas não a sua capital, que perdeu 7 849 residentes, menos 1,4% em relação aos Censos 2011, numa tendência de diminuição que não é nova. Lisboa tem, agora, 544 851. Mas, nesta região, é a Amadora que mais perde em termos percentuais ao deixar fugir 3417 habitantes (- 2%) Também Oeiras perdeu população, embora seja um decréscimo ligeiro: menos 318 pessoas (- 0,2%), registando 171 802. O que significa que, se a AML é uma das duas que regista um crescimento populacional positivo, tal não acontece em três dos seus concelhos.

Mafra (12,8%), Palmela (9,6%) e Alcochete (9%) são os concelhos vizinhos que registaram uma maior evolução populacional em termos relativos, sendo que Mafra tem um maior número de novos habitantes (9838) que os outros.
A lista dos cinco municípios que mais cresceram completa-se com Odemira (13,3%) e Vila do Bispo (8,8%), mas os números efetivos são bem diferentes. O concelho alentejano tem mais 3 457 habitantes, ainda assim, num número muito inferior ao anunciado pelas autoridades locais devido às explorações agrícolas, agora na época alta das apanhas. Já o algarvio deve o quinto lugar ao facto de ser pequeno, o que faz que mais 464 residentes, signifique um aumento de 8,8%. Tem 5722 habitantes.

A lista dos concelhos que mais perderam é encabeçada por Barrancos, que perdeu 399 pessoas, registando menos 21,8% da população que em 2011. Mas quem perdeu mais em termos absolutos foi Torre de Moncorvo, menos 1750 residentes (-20,4%), contabilizando, agora, 6822 pessoas. Seguem-se Tabuaço, Nisa e Mesão Frio, todos do interior do país. O que demonstra não só a litoralização do país, como a concentração junto às grandes cidades. E o Alentejo a ser a região que mais perde capital humano.

DestaquedestaqueLisboa perdeu mais ainda tem 544 851 residentes

Lisboa continua a ser a cidade com mais habitantes, apesar da descida, e com uma diferença de quase 200 mil relativamente à segunda posição: Sintra (385 954). Seguem-se Vila Nova de Gaia, Porto, Cascais, Loures, Braga, Almada, Matosinhos e Oeiras. Mas a capital do norte perdeu mais que a congénere do sul, tem menos 5629 habitantes (-2,4%). Matosinhos também tem menos residentes (-1,6%), totalizando 172 669.

A construção continua a aumentar, com o país a registar mais 1,2% de edifícios destinados à habitação. Também há mais alojamentos, mais 1,4% em quase seis milhões de unidades. A diferença é que a subida é bem menor que na década anterior, menos 12% de edifícios e 16% de alojamentos.

Portugal tem 4,1 milhões de agregados familiares, com uma média de duas pessoas e meia por família (era de 2,6 pessoas por família em 2011). Acima deste valor, estão as regiões Norte , Madeira e Açores, sendo que as famílias açorianas tem uma média de 2,8 elementos.

DestaquedestaquePorto tem 231 962 pessoas, menos 2,4 %

A pandemia levou a que o INE insistisse na resposta via internet, além de que o período em que os recenseadores foram para o terreno registava uma diminuição dos casos de covid-19 e o país estava a desconfinar.
Francisco Lima, presidente do Conselho Diretivo do INE, destaca a boa adesão à resposta enviada pela internet. A recolha dos questionários decorreu entre 5 de abril e 31 de maio.

Destaquedestaque4,1 milhões de agregados, com uma média de 2.5 pessoas por família

A data a que se referem os dados (momento censitário) é 19 de abril. Estiveram envolvidas 15 mil pessoas nesta etapa, entre os quais 11 mil recenseadores. Uma operação que ultrapassou os 40 milhões de euros.

"Foi tudo planeado ao milímetro, conseguiu-se lidar bem com a pandemia e, nessa altura, a situação tinha melhorado, o que permitiu que se abrissem os balcões de todas as 3092 juntas de freguesia. E melhorou a capacidade de a população responder via internet, teve uma grande adesão, o que contribuiu muito para o sucesso da operação, predominou até acima das estimativas. É um sucesso, mesmo em termos internacionais", garante o dirigente.

Quanto aos resultados, Francisco Lima destaca: "É a primeira vez que temos um saldo negativo populacional desde a década 1960/1970, o que significa que o saldo natural foi negativo e a própria imigração, apesar do saldo ser positivo [41 274 em 2020], não chega para compensar a perda do crescimento natural.".
A apresentação dos resultados definitivos dos Censos 2021 prevê-se para o 4.º trimestre de 2022. Serão publicados dados intercalares.