Sociedade
25 setembro 2022 às 22h50

"Ninguém pensa em medidas travão, mas há comportamentos que têm de se manter", diz Raquel Duarte

Este outono-inverno será diferente dos dois anteriores. O do ano passado já o foi, mas a diferença para este ano é que há mais vacinação de reforço, mas também menos restrições. A pneumologista que apoiou o Governo na pandemia, defende que o importante é focarmo-nos na vacinação, nos comportamentos e na ventilação, porque disto dependerá o próximo outono-inverno.

A 30 de setembro termina o estado de alerta em relação à covid-19, medida decidida pelo Governo a 25 de agosto. Nesta altura, não se sabe ainda se esta será prolongada ou não, devendo o assunto ser discutido e decidido na próxima reunião de Conselho de Ministros, mas independentemente da decisão política a pneumologista Raquel Duarte, que a convite do Governo liderou as equipas que realizaram as propostas de desconfinamento nos últimos dois anos para o país, defende que o foco da população deve estar na "vacinação de reforço", nos "comportamentos individuais" e na adequação da ventilação aos espaços. Isto, se quisermos "chegar a uma fase de normalização e de convívio com a covid-19". Ou seja, destes três fatores dependerá muito a forma como irá decorrer o próximo outono-inverno, que, e como sublinha a médica, também "vai ter covid-19, gripe e outras infeções respiratórias, porque os vírus não desapareceram, internamentos hospitalares e mortalidade".

Neste momento, destaca a especialista, "ninguém pensa nas medidas de travão extremas que foram usadas no passado, mas há coisas que têm de ficar e que não podemos esquecer, como o uso de máscara e os espaços fechados arejados". Por exemplo, "se tivermos sintomas ou se estivemos em contacto com um doente, temos de nos abster de fazer socialização. Não devemos ir para os locais de trabalho ou outros sem máscara".

Comparando os períodos de outono-inverno de 2020-21 e 2021-22, a pneumologista considera que há duas grandes lições a retirar para este ano: "A primeira é o evidente benefício da vacinação, que nos consegue proteger das formas graves da doença e reduzir a mortalidade. E a segunda é o comportamento cívico, as tais medidas não farmacológicas que foram eficazes na mitigação da transmissão do vírus". Por isto, manifesta "alguma apreensão em relação à baixa adesão registada até agora da população mais idosa ao reforço sazonal da vacina contra a covid-19".

Raquel Duarte, também professora na Faculdade de Medicina do Porto, alerta: "Temos de continuar a ter a perceção do risco. Isto é que não podemos perder, quer do risco individual, em termos do contexto em que está cada pessoa e no sentido de nos protegermos, como em relação à perceção do risco para protegermos os outros".

É neste sentido que continua a recomendar, e tal como já o fez a Direção-Geral da Saúde, o uso de máscara em espaços fechados. "Estamos a falar de uma infeção contraída por via inalada e ao usarmos uma máscara estamos a reduzir esse risco, quer com uma máscara cirúrgica para proteger os outros quer com uma P2 para nos protegermos a nós".

Destaquedestaque"É preciso começar a assegurar que os espaços interiores são seguros do ponto de vista da qualidade do ar, o que passa pela ventilação adequada, para mitigar o risco da covid neste outono inverno".

Para a especialista, a ventilação adequada, que foi sempre uma das questões incluídas nas propostas de desconfinamento, quer para edifícios públicos e de lazer, escolas, empresas e zonas residenciais, tem de ser tida em conta como forma de se mitigar a doença, sobretudo numa altura em que não há tantas restrições. "É preciso começar a assegurar que os espaços interiores são seguros do ponto de vista da qualidade do ar, o que passa pela ventilação adequada, para mitigar o risco da covid neste outono-inverno".

De acordo com a médica, através das propostas de desconfinamento conseguiu-se criar um quadro legislativo que apoia a existência de uma correta ventilação nos espaços fechados, quer em edifícios com ventilação mecânica como nos que têm ventilação natural, mas, diz, "é necessário que se promovam inspeções técnicas para garantir que a legislação produzida é aplicada".

Por outro lado, defende ainda, "é necessário que se implemente uma estratégia que aumente a literacia da nossa população sobre a qualidade do ar interior", porque "é preciso que todos percebam que tem de haver um arejamento correto nas nossas casas. E para isso temos de informar a população, para que cada pessoa possa gerir de forma muito pró-ativa os diferentes contextos onde está, e garantindo sempre que está em segurança".

Os alertas dos especialistas continuam a chegar sobre o período que aí vem. Por agora, a temperatura ainda se mantém quente, mas a rotina já está a mudar, com o fim das férias e o regresso às aulas ou ao trabalho. De acordo com o último boletim da DGS sobre a avaliação epidemiológica da covid-19, na semana de 13 a 19 de setembro já se registou um ligeiro aumento de infeções, mais 2049 do que na semana anterior, perfazendo um total de 18 315, embora se tenha registado o mesmo número de mortes, 37. Em relação aos internamentos, o boletim revela que, naquele período, estavam internadas menos 24 pessoas.