Sociedade
28 março 2023 às 10h14

Morreram mais 6.100 pessoas do que era esperado em 2022

O Instituto Ricardo Jorge registou quatro picos de excesso de mortalidade em Portugal, no ano de 2022, coincidentes com as duas ondas de covid-19 e períodos de temperaturas elevadas ou frio extremo.

DN/Lusa

Mais de 6.100 óbitos em excesso foram identificados em 2022 pelo Instituto Ricardo Jorge, que registou quatro picos de excesso de mortalidade, coincidentes com duas ondas de covid-19 e períodos de temperaturas elevadas ou frio extremo.

O relatório de Monitorização da Mortalidade de 2022, elaborado pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) e divulgado esta terça-feira, abrangeu o período entre 3 de janeiro de 2022 e 1 de janeiro deste ano e registou um total de 124.602 óbitos em Portugal. Pelo terceiro ano consecutivo foi ultrapassada a barreira das 124.000 mortes.

O estudo o INSA aponta para 6.135 óbitos em excesso, com quatro períodos de excesso de mortalidade, sendo que aquele que maior numero de mortes em excesso registou (2.401) coincidiu com períodos de calor extremo, identificados pelo sistema de vigilância ÍCARO.

Os períodos de óbitos em excesso identificados pelo INSA ocorreram entre 17 de janeiro e 6 de fevereiro; de 23 de maio a 19 de junho; de 4 de julho a 7 de agosto e entre 28 de novembro e 18 de dezembro.

No primeiro caso (17 janeiro a de 06 fevereiro), o INSA aponta para 891 óbitos em excesso (+12% em relação ao esperado), temporalmente coincidentes com uma onda de covid-19 e um período de temperaturas baixas, identificado pelo sistema de vigilância FRIESA como "período de frio extremo com efeito provável na mortalidade".

O segundo período de excesso de mortalidade foi identificado entre 23 de maio e 19 de junho, com mais 1.744 mortes do que era esperado (+21%) e temporalmente é coincidente com uma vaga de covid-19 e um período de temperaturas "anormalmente elevadas para a época do ano".

Entre 4 de julho e 7 de agosto foi registado o maior dos picos de excesso de mortalidade do ano passado, com mais 2.401 óbitos do que era esperado (25% de excesso). Neste caso, o INSA refere que coincidiu com períodos de calor extremo identificados pelo sistema de vigilância ÍCARO.

O último dos quatro períodos de excesso de mortalidade foi identificado entre 28 de novembro e 18 de dezembro, com 1.099 óbitos a mais do que seria esperado para esta época do ano (15 % de excesso) e coincidiu com o período epidémico da gripe, que no outono-inverno de 2022/23 "ocorreu mais precocemente do que nos anos anteriores", refere o documento.

Os especialistas do INSA sublinham ainda que os impactos devido à gripe e covid-19 "terão sido inferiores ao observado noutros invernos", embora os impactos observados no verão tenham sido superiores aos observados em anos anteriores - "ainda que dentro do esperado para a magnitude e duração dos períodos de calor registados".

O INSA refere que foram observados períodos de excesso de mortalidade em todas as regiões, embora com diferente duração e magnitude.

A região Norte foi aquela em que se identificou um maior número de semanas de excesso de mortalidade (18), distribuídas por quatro períodos.

Tendo em conta a coincidência temporal, o INSA conclui que a maioria dos períodos de excesso de mortalidade identificados quer a nível nacional, quer a nível regional, terão estado potencialmente associados a fenómenos conhecidos por poderem ter impactos na mortalidade, designadamente as epidemias de gripe e covid-19 e os períodos de calor e frio extremos.

O Instituto Ricardo Jorge identificou uma mudança de padrão da mortalidade visível após 2019, quer na mortalidade total, que aumentou, quer na mortalidade observada na maioria dos grupos etários.

Segundo o relatório de Monitorização da mortalidade 2022, entre 2019 e 2020 observou-se "o maior aumento da taxa de mortalidade total" (em termos absolutos e relativos) registado na série analisada desde 1991.

Parte deste aumento, estará associado às alterações demográficas ocorridas no país, como aconteceu até 2019, mas o INSA aponta para um aumento da taxa de mortalidade além do que seria explicado por este fator, "dado o aumento da taxa de mortalidade em vários grupos etários, e o aumento da taxa de mortalidade padronizada".

Após os dois anos de maior impacto da pandemia na mortalidade (2020 e 2021), a taxa bruta de mortalidade foi superior à registada em 2019, refere o INSA, que indica que tal é "especialmente marcado no grupo etário acima dos 85 anos", embora também seja observável noutros grupos etários acima dos 55 anos.

Contudo, o INSA ressalva que os valores de 2022 são provisórios, pois os peritos que elaboraram o relatório usaram os dados da população dos Censos de 2021.

Excluindo o número de óbitos registados por covid-19 entre 2020 e 2022, a taxa de mortalidade total (bruta e padronizada) e em vários grupos etários não apresenta uma tendência crescente.

No entanto - referem os peritos - "não podemos considerar que a mortalidade total excluindo os óbitos covid-19 fosse a mortalidade esperada na ausência de pandemia".

De acordo com o trabalho do INSA, que analisou o período entre 3 de janeiro de 2022 e 1 de janeiro deste ano, foram identificados quatro períodos de excesso de mortalidade a nível nacional, totalizando 6.135 óbitos em excesso, tendo-se registado um total de 124.602 óbitos em Portugal.