Sociedade
28 janeiro 2023 às 18h30

Líder do STOP espera que Marcelo tome posição. "Neutralidade é escolher o lado do opressor"

Protesto organizado pelo STOP juntou cerca de 100 mil e terminou em frente ao Palácio de Belém, onde André Pestana foi recebido por consultores do Presidente da República

DN/Lusa

Uma delegação dos professores e pessoal não docente em protesto, liderada pelo coordenador do Sindicato de Todos os Profissionais de Educação (STOP), foi recebida no Palácio de Belém e diz aguardar agora uma posição de Marcelo Rebelo de Sousa.

Depois de uma manifestação que começou em frente ao Ministério da Educação e terminou nos jardins em frente ao Palácio de Belém, André Pestana foi esta tarde recebido por consultores do Presidente da República para a área da Educação, entre os quais Isabel Alçada, ex-ministra da Educação.

Além de André Pestana, foram recebidos representantes de trabalhadores não docentes e de técnicos especializados.

À saída da "breve reunião", André Pestana disse que aguarda que o Presidente da República "veja as notas e tome uma posição" sobre as reivindicações dos professores, considerando que "a neutralidade" nesta "situação de injustiça" é "escolher o lado do opressor".

"Esperamos que sim, senão fica evidente que, perante uma grande injustiça, está a tomar o partido do agressor", afirmou André Pestana em declarações aos jornalistas antes de subir para o camião, onde discursou perante milhares de pessoas que participaram na terceira marcha organizada pelo STOP desde dezembro.

Milhares de professores e funcionários escolares concentraram-se em frente ao Palácio de Belém, depois de uma marcha de mais de três quilómetros que começou no ministério da Educação, exigindo "respeito" e melhores condições laborais.

Os primeiros manifestantes do protesto de professores e pessoal não docente em Lisboa chegaram pouco depois das 16:15 junto ao Palácio de Belém, gritando "está na hora de o Presidente vir cá fora".

A manifestação organizada pelo Sindicato de Todos os Profissionais de Educação (STOP) começou às 14:30 em frente ao edifício do Ministério da Educação, na Avenida 24 de Julho, e terminou nos jardins em frente à Residência Oficial do Presidente da República, onde esperavam ser recebidos.

Segundo o coordenador do STOP, André Pestana, a manifestação conta com cerca de 100 mil pessoas, sendo a terceira marcha organizada pelo mais jovem sindicato de professores e pessoal não docente. Números da polícia citados pela CNN falam em 80 mil pessoas.

"Marcelo escuta, a Escola está em Luta" foi uma das palavras de ordem que gritaram os milhares de manifestantes que vieram de todo o país para participar neste protesto.

Na última semana, a propósito das audiências a sindicatos que aconteceram em Belém com os seus consultores, o Presidente da República afirmou não querer intrometer-se no diálogo entre Governo e professores.

"O diálogo deve manter-se permanentemente entre o Governo e os sindicatos, os sindicatos e o Governo. Nesta fase estar o Presidente da República ele próprio a intrometer-se nesse diálogo, que é normal, seria um erro, seria um ruído desnecessário, contraproducente", declarou Marcelo Rebelo de Sousa aos jornalistas.

Os professores e pessoal não docente estão em greve desde dezembro contra a proposta do ministério para um novo modelo de recrutamento e colocação de professores, mas também para exigir a recuperação do tempo de serviço que esteve congelado durante a Troika ou o fim das vagas e quotas de acesso aos 5.º e 7.º escalões da carreira docente.

Além das iniciativas promovidas pelo STOP estão também a decorrer greves organizadas pelo SIPE e por uma plataforma de nove sindicatos, entre as quais estão a Fenprof e a FNE.

Questionado pela Lusa sobre quais as condições necessárias para suspender as greves, André Pestana salientou que essa "não é uma decisão do STOP. São os milhares de pessoas que estão na rua que vão dizer quando parar".

"Não paramos" é a principal mensagem gritada pelos docentes que afirmam que vão manter a luta até verem garantidas as suas reivindicações, como é o caso da recuperação do tempo de serviço que foi congelado durante a Troika.

"Foi tempo que trabalhámos e que nos foi roubado", disse à Lusa Helena Ramos, professora de Matemática que veio do Estoril para Lisboa para engrossar o protesto que, às 14:30, tinha já cerca de meio quilómetro de comprimento.

Alexandra Mateus veio de mais longe, de Viseu, num "autocarro cheio". A docente é de Viseu e entre os protestos salienta as novas regras da mobilidade por doença, que o atual ministro João Costa alterou.

A professora de Matemática e Ciência, de 47 anos, estava efetiva numa escola de Tarouca mas, por uma questão de saúde, nos últimos anos dava aulas em Viseu. Este ano ficou novamente na escola de Tarouca. "Não há greves fofinhas" é a mensagem que exibe, ao passo que o marido optou por "Costas, habituem-se".

Já Cecília Meireles criticou a decisão conhecida na sexta-feira de impor serviços mínimos às greves decretadas pelo STOP a partir de fevereiro: "Isto é uma vergonha para a democracia! As escolas não são depósitos de alunos!", disse à Lusa.

Esta é a terceira marcha promovida pelo STOP desde dezembro, que tem exigido medidas como um aumento salarial de 120 euros para todos os profissionais da educação, ou seja, professores e pessoal não docente.

O STOP é também contra a proposta do novo modelo de recrutamento e colocação de professores que está a ser negociado com a tutela e exige a recuperação dos mais de seis anos de contagem de tempo de trabalho que esteve congelado durante a Troika, reivindicações que são partilhadas pelos outros sindicatos do setor.

O fim das quotas e vagas de acesso ao 5.º e 7.º escalões é outra das exigências dos professores, à qual se juntam os pedidos de aumentos salariais e melhores condições de trabalho para o pessoal não docente.

Para 11 de fevereiro está marcada uma nova manifestação, desta vez organizada pela plataforma de nove organizações sindicais, da qual fazem parte as duas maiores estruturas representativas de professores e pessoal não docente: a Federação Nacional de Professores (Fenprof) e a Federação Nacional de Educação (FNE).

Além da greve por tempo indeterminado convocada pelo STOP, está a decorrer desde o início do 2.º período uma greve parcial ao primeiro tempo letivo, convocada pelo Sindicato Independente dos Professores e Educadores (SIPE), que também se vai prolongar até fevereiro.

Desde 16 de janeiro têm-se realizado greves distritais, convocadas pela plataforma de sindicatos, que só terminam no início de fevereiro.

atualizado às 18.25