Sociedade
16 setembro 2021 às 09h04

Menor espanhol é o primeiro caso clínico de adição ao Fortnite

O jovem esteve dois meses internado num hospital em Castellón. Isolamento em casa, recusa de interações sociais e pouco interesse pelo meio à sua volta foram alguns dos sintomas apresentados.

DN

O primeiro caso clínico de adição ao Fortnite foi diagnosticado em Espanha, de acordo com a agência de notícias EFE. Trata-se de um jovem que esteve internado durante dois meses devido ao vício neste jogo, que apresentou um distúrbio comportamental que o levou a isolar-se em casa e a recusar interações sociais.

A notícia foi divulgada depois de a equipa do hospital da cidade de Castellón (Espanha), onde o adolescente esteve internado, ter tornado público o caso, até agora único a nível mundial.

O menor foi hospitalizado depois de apresentar sintomas de grave dependência comportamental ao videojogo - isolamento em casa, recusa de interações sociais, rejeição de ir aos serviços de saúde, inflexibilidade pessoal persistente, pouco interesse pelo meio à sua volta e muito seletivo nos seus gostos com atividades restritivas.

Além disso, apresentou alterações no desempenho das atividades básicas da vida diária, como a toma do tratamento prescrito no centro de saúde e no ritmo de sono, segundo informou a equipa médica que o assistiu.

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Desde o início do ano letivo, a família do jovem, antes com um desempenho escolar muito elevado, tinha observado um aumento do absentismo, interrupção dos tempos de descanso e desinteresse pelo decurso do ano letivo, algo que coincidiu com uma mudança de turma.

Segundo os especialistas, a utilização generalizada de novas tecnologias na vida quotidiana e no lazer revelou potenciais danos causados pela utilização inadequada de videojogos e a necessidade de tratamento especializado para aqueles que apresentaram sinais de dependência comportamental.

Após uma avaliação, os profissionais sugerem que o vício dos videojogos atua como regulador do intenso desconforto causado pela perda de um membro da família e pela ansiedade derivada do aumento do nível de exigência no contexto educativo.

O tratamento deste caso foi feito tanto junto do jovem como da família, e os resultados mostraram uma diminuição significativa na utilização de ecrãs (numa primeira fase após a hospitalização com supervisão e apenas para o contacto com pares para promover a sua socialização), bem como uma melhoria no funcionamento pessoal e social do paciente.

Os especialistas envolvidos no estudo alertaram para a necessidade de ser necessário prestar atenção ao comportamento dos menores, entre os quais a adição a este tipo de jogos é generalizada, dada "a crescente precocidade do seu consumo", especialmente devido à "falta de maturidade nas funções executivas e cognitivas durante a adolescência".

Em 2018, a Organização Mundial da Saúde (OMS) incluiu o "distúrbio do jogo" na lista de doenças que são classificadas como perturbações do foro mental.

O distúrbio foi incluído na 11ª edição da Classificação Internacional de Doenças da OMS, por sugestão de Vladimir Poznyak, membro do Departamento de Saúde Mental e Abuso de Substâncias da organização. "Não estou a criar um precedente", disse o clínico à CNN, sublinhando que apenas seguiu "as tendências e os [últimos] desenvolvimentos" sobre o assunto.

Poznyak acreditava que depois de a doença entrar nesta classificação, os profissionais e sistemas de saúde estariam mais atentos para a sua existência, o que aumenta a possibilidade das "pessoas que sofrem dessas condições poderem receber ajuda apropriada".

Segundo o especialista, havia três principais características para o diagnóstico do distúrbio do jogo: quando "o comportamento tem precedência sobre outras atividades"; é "persistente ou recorrente", apesar das suas consequências negativas, e quando "leva a sofrimento significativo e prejuízo no funcionamento pessoal, familiar, social, educacional ou ocupacional".