Sociedade
05 junho 2023 às 07h00

Maioria acha que restrições na venda não irão reduzir consumo de tabaco

Melhor caminho para geração livre de fumo faz-se pela prevenção, dizem 81% dos portugueses inquiridos. Campanhas para os jovens e comunicação dos riscos são as medidas com maior acolhimento.

Joana Amorim

A maioria dos portugueses (60%) entende que a intenção anunciada pelo Governo de restringir os locais de venda de tabaco não reduzirá o consumo. Para 81% dos inquiridos no âmbito da sondagem da Aximage para o DN, JN e TSF, o caminho para alcançar uma geração livre de tabaco faz-se pela prevenção, não pela repressão. Com foco em campanhas de informação direcionadas aos jovens.

O Executivo, recorde-se, aprovou uma proposta de lei com uma meta definida: uma geração livre de tabaco em 2040. Para o efeito, propõe-se alargar a proibição de fumar ao ar livre em espaços de acesso ao público ou de uso coletivo. Bem como proibir a sua venda em máquinas automáticas e na maior parte dos estabelecimentos em 2025. Acabando por recuar no que à comercialização em bombas de gasolina e em lojas de conveniência concerne, por uma questão de acesso.

Um recuo conhecido no decorrer da realização desta sondagem, com 60% dos inquiridos a responderem que a restrição ao locais de venda de tabaco não irá diminuir o consumo. Numa certeza tanto maior quanto maior a faixa etária auscultada (68% nos 65 e mais anos, contra 51% nos 18-34). Convicção demonstrada por 69% dos inquiridos no Norte, face aos 46% no Sul e Ilhas. Tal como por 74% dos que fumam diariamente.

Refira-se que 42% dos inquiridos na referida sondagem nunca fumaram (54% nos 18-34, contra 37% nos 65+), 27% já fumaram e 20% fumam diariamente. Dos que fumam, mais de metade (55%) compra nas bombas de gasolina.

Para chegar à meta a que o Governo de António Costa se propõe, 81% concordam que o caminho se faz pela prevenção e não pela repressão. Numa proporção, novamente, superior no Norte (84%) face a Sul e Ilhas (73%), seguindo o mesmo racional etário. Se um quinto na faixa 18-34 escolhe a repressão, nos 65+ fica-se pelos 5%.

E como a prevenção não se faz sem comunicação, 26% concordam que a medida mais eficaz para reduzir o número de fumadores é campanhas informativas dirigidas aos jovens. Acolhe mais apoios nos inquiridos com 65+ do que na faixa mais jovem (15%, nos 18-34). Tendo sido a medida mais escolhida pelos ex-fumadores (um terço).

Na lista de medidas, seguem-se a divulgação de informação sobre as doenças e riscos de saúde associados ao consumo de tabaco, escolhida por 25%; e o apoio médico célere a quem deseja deixar de fumar, com 22% das respostas. A facilidade e a rapidez de acesso a consultas de cessação tabágica é referida por um quinto, com maior apoio dos mais jovens (26%) do que dos mais velhos (17%).

Quanto à decisão de alargar a proibição de fumar a espaços livres, 57% dos inquiridos concordam. Entre os que consomem diariamente tabaco, 32% discordam totalmente da medida. Em sentido inverso, 36% dos que nunca fumaram estão totalmente de acordo.

No final, um terço admite ver a nova lei como uma forma de diminuir o consumo - 45% dos que nunca fumaram assim o acreditam -, enquanto 19% consideram-na um atentado às liberdades individuais - opção de 35% de quem fuma numa base diária. Há, ainda, 17% que entendem ser um incentivo à venda em circuitos informais e 15% uma intromissão abusiva do Estado na esfera da vida privada (opção de 24% dos que fumam diariamente e de 9% dos que não fumam).

Podem as anunciadas restrições aos locais de venda incentivar o comércio ilícito? A nova lei do tabaco irá gerar desemprego? Duas questões que receberam a concordância da maioria dos inquiridos nesta sondagem.

Quando se conheceram os contornos da proposta de lei do Governo, alguns analistas apontaram que as restrições aos locais de venda poderiam promover o comércio ilícito. E 73% dos inquiridos partilham dessa opinião, enquanto apenas 12% discordam. Sendo que entre os que concordam, a faixa etária superior é dominante. Já numa leitura regional, no Norte e na Área Metropolitana de Lisboa, um terço afirmou concordar totalmente com a hipótese, proporção que cai para os 19% no Sul e Ilhas.

Já um possível impacto no desemprego não é descurado, com 52% dos inquiridos a entenderem que a nova lei retirará postos de trabalho. Sem grandes oscilações por grupo etário, mas com variações no que ao perfil de consumo de tabaco diz respeito. Entre os que fumam diariamente, 69% creem na redução de postos de trabalho com as novas medidas que vêm alterar a lei em vigor desde 2007, enquanto, no lado oposto, estão aqueles que nunca fumaram.

jamorim@jn.pt

FICHA TÉCNICA
A sondagem foi realizada pela Aximage para o DN, TSF e JN , com o objetivo de avaliar a opinião dos portugueses sobre temas relacionados com a atualidade nacional política, económica e social.
O trabalho de campo decorreu entre os dias 25 e 30 de maio de 2023 e foram recolhidas 808 entrevistas entre maiores de 18 anos residentes em Portugal.
Foi feita uma amostragem por quotas, obtida através de uma matriz cruzando sexo, idade e região (NUTSII), a partir do universo conhecido, reequilibrada por género, grupo etário e escolaridade. Para uma amostra probabilística com 808 entrevistas,
o desvio padrão máximo de uma proporção é 0,017 (ou seja, uma "margem de erro" - a 95% - de 3,4%).Responsabilidade do estudo: Aximage Comunicação e Imagem, Lda., sob a direção técnica de Ana Carla Basílio.