Sociedade
21 junho 2021 às 22h20

Lisboa em contraciclo com capitais europeias

Os novos casos na região de Lisboa e Vale do Tejo são 64% dos registados em todo o país, sendo que em Madrid, Paris, Berlim, Roma ou Londres representam menos de 25%.

A região de Lisboa e Vale do Tejo contabilizou ontem mais 484 novos casos de covid-19, o que representa 64% de todas as novas infeções registadas em Portugal (756). Isso coloca a capital portuguesa numa situação oposta a outras grandes capitais europeias, como Madrid, Paris, Roma ou Berlim, onde os novos casos representam no máximo 25% dos totais a nível nacional. Até em Londres, apesar do aumento do número de casos por causa da variante Delta que já é dominante em todo o Reino Unido, as infeções são menos de 10% do total do país.

Assim, enquanto nessas capitais já se estão a levantar mais as restrições - em Madrid os espaços noturnos reabriram ontem à noite, em Paris já não é obrigatório o uso de máscara ao ar livre -, Lisboa corre o risco de voltar a fechar, com a região metropolitana a ficar "cercada" ao fim de semana.

O número de casos tem vindo a subir desde o início do mês na capital britânica, tal como em todo o Reino Unido por culpa da variante Delta. Ontem, houve mais 1023 casos confirmados em Londres, num total de 10 633 em todo o Reino Unido (um aumento de 31,4% em relação à semana anterior). A capital representa cerca de 9,6% dos novos casos, estando a situação pior no noroeste de Inglaterra.

Na semana entre 10 e 16 de junho, foram contabilizados 6925 novos casos em Londres (uma média de 989 por dia), numa incidência de 77,3 casos por 100 mil habitantes. Na semana anterior, tinham sido registados 5501 casos, ou seja, 61 por 100 mil habitantes, revelando a tendência para aumentar. Em todo o país, a média diária na semana até 16 de junho foi de 9778 casos, com uma incidência de 89,3. Ontem houve mais cinco mortes a registar.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, tinha previsto levantar as restrições que ainda existem em Inglaterra nesta segunda-feira - como a reabertura de espaços noturnos e o fim dos limites aos contactos sociais. Mas ainda na semana passada anunciou que tal não iria acontecer - também está suspensa a abertura no País de Gales, na Irlanda do Norte e na Escócia. A situação será reavaliada a 19 de julho. Ainda assim, houve alguma abertura: já se podem realizar casamentos com até 30 convidados (em mesas de seis).

Quase 82% da população adulta já levou a primeira dose da vacina e 60% já apanhou a segunda dose. O governo britânico está a estudar a hipótese de cortar os dias de quarentena para as pessoas que voltem de destinos na lista amarela (como é o caso de Portugal), nomeadamente para quem já está totalmente vacinado, mas ainda não foi tomada uma decisão.

A Comunidade de Madrid contabilizou ontem mais 143 casos, sendo que destes 102 foram detetados nas 24 horas anteriores (os dados estão constantemente a ser atualizados para incluir casos anteriores). Há uma semana (à segunda-feira o número de casos tende a ser inferior ao normal por haver menos testagem ao domingo), tinham sido contabilizados só 72.

Em todo o país foram contabilizadas nas últimas 24 horas 831 infeções, pelo que os casos em Madrid representam 12,3% dos totais. Canárias e Catalunha registaram mais casos no boletim de ontem. A incidência acumulada de casos novos por 100 mil habitantes a sete dias é de 42,13 em Espanha e 35,40 em Madrid.

Com estes números, a capital espanhola avança com o desconfinamento, tendo os bares e discotecas voltado a abrir ontem à noite - estavam fechados desde agosto de 2020. Ainda assim com restrições: só podem abrir as pistas de dança no exterior e ficar abertas até às 03h00, havendo também limite de lotação. A partir de sábado, em todo o país, está previsto levantar a obrigatoriedade do uso de máscaras no exterior. Nas discotecas, para dançar, é preciso usar máscara.

Em Espanha, quase 50% da população já levou a primeira dose da vacina e 30,4% já tem as duas doses. Em Madrid, já foi aberta a vacinação aos maiores de 43 anos.

Na Alemanha, a média do número de casos a sete dias é de 7127 e a taxa de incidência é de 8,6. Em Berlim a situação é ainda melhor, com uma média de 274 casos por dia na última semana (3,8% do total nacional) e uma incidência de 7,5 - há uma semana era de 15,4. No boletim de ontem, o Instituto Robert Koch contabilizou 346 novos casos em todo o país (o número mais baixo desde agosto, sendo que na segunda-feira anterior tinham sido reportadas 549 infeções) e apenas um deles em Berlim.

Houve ainda dez mortes por covid-19.

As autoridades da capital recomendam manter a distância de segurança e limitam ajuntamentos a dez pessoas de cinco agregados familiares, sendo que não entram nestas contas pessoas que já estejam totalmente vacinadas ou que já tenham tido covid-19. São recomendados testes antes de encontros com pessoas fora do agregado familiar. Já há um aliviar do uso de máscara no espaço exterior (exceto em zonas onde seja impossível manter a distância), mas nos transportes e nas lojas, a máscara usada deve ser do tipo FFP2.

Desde 7 de junho, que qualquer pessoa com mais de 12 anos se pode inscrever para ser vacinada na Alemanha. Mais de 50% dos alemães já levaram pelo menos uma dose da vacina (51,4% dos habitantes no caso de Berlim) e 31,1% já estão totalmente vacinados (29,5% na capital alemã).

A máscara deixou de ser obrigatória em França nos espaços exteriores na semana passada (a multa por não a usar chegava aos 135 euros) e acabou o recolher obrigatório (mais cedo do que o previsto), com os números de novas infeções a cair desde abril. Até 17 de junho (último dia para o qual há dados), a média diária a sete dias de novos casos foi de 2561 no país, 631 na região de Île-de-France (que inclui Paris), ou seja, 24,6% do total, e 121 só na capital (4,7%) - ainda assim o valor mais elevado em França. Há mais 40 mortes.

Apesar disso, outras restrições mantêm-se, como o fecho das discotecas, o uso de máscara em espaços fechados ou a limitação do número de pessoas que podem estar dentro de lojas ou restaurantes. Quase 50% da população já foi vacinada com uma dose e 27,3% com as duas (26,6% em Paris), sendo obrigatório apresentar o passe covid (que diz quem está vacinado ou quem fez o teste nas 48 horas anteriores) em eventos com mais de mil pessoas.

Toda a Itália, com uma única exceção, está na zona branca do quadro de risco, o cenário menos grave numa escala que inclui o amarelo, o laranja e o vermelho. O vale de Aosta, nos Alpes, é a única região a amarelo e as previsões é que passe a branco já na próxima semana. Desde meados de abril que os casos em Itália estão em queda. A região de Lazio, onde se encontra a capital, está longe de ser aquela onde mais casos diários são registados. No boletim de ontem, quando Itália contabilizou mais 495 casos, apenas 71 foram registados na região de Lazio, ou seja, 14,3%. A região com mais casos neste dia (85) foi a Sicília. Houve ainda 21 mortes em todo o país

Para estar na zona branca é preciso ter menos de 50 casos por 100 mil habitantes durante três semanas consecutivas. No nível mais baixo de risco, as únicas restrições que existem prendem-se com a necessidade de distanciamento social e o uso de máscara em espaços fechados ou no exterior, se houver muita gente, sendo que esta última medida já está a ser repensada. O recolher obrigatório também já não se aplica no país. Para evitar novos contágios, os italianos reintroduziram a obrigatoriedade de quarentena de cinco dias para quem chega do Reino Unido, devido ao aumento de casos neste país.

susana.f.salvador@dn.pt