Sociedade
26 maio 2022 às 05h00

Imigração ilegal. Rota de Marrocos para o Algarve assumida pela primeira vez

O Relatório de Segurança Interna diz que a "rota de El Jadida para Faro" foi utilizada pelos migrantes marroquinos para evitar o controlo das autoridades.

A rota de imigração ilegal de Marrocos para Portugal está pela primeira vez assumida oficialmente pelas autoridades de segurança interna, contrariando a posição política do Governo até agora conhecida que refutava essa situação.

No Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) apresentado nesta quarta-feira, é salientado que "a rota de El Jadida para Faro" foi "considerada e utilizada" para os migrantes "evitarem o controlo efetuado pelas autoridades marroquinas a Norte, apesar de se adivinhar uma rota de navegação mais difícil".

Assinala-se ainda que "a rota da África Ocidental teve um acréscimo de 550%, ou seja, a migração irregular para as ilhas Canárias aumentou drasticamente", sendo "as principais áreas de embarque identificadas ao longo da costa atlântica de Marrocos", Sale, Kenitra, Mohammendia, El Jadida e Larache.

Entre dezembro de 2019 e setembro de 2020 desembarcaram no Algarve 97 cidadãos marroquinos.

A 29 de março de 2021, entre 15 a 16 migrantes terão desembarcado junto a Vila Real de António, mas só três foram detetados e detidos.

E a 11 de novembro a Marinha acompanhou uma embarcação com 37 migrantes, ao largo de Faro, que foram depois acolhidos pelas autoridades.

Recorde-se, que apesar do inquérito do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) sobre esta rota ter sido aberto logo em 2019, na altura dos primeiros desembarques, apesar do trabalho da própria investigação do SEF e dos avisos das secretas nacionais, este fluxo migratório foi tratado politicamente como se não existisse e desvalorizado pelo ex-ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita.

Em junho de 2020, quando já tinham chegado à costa portuguesa 48 imigrantes, Cabrita sublinhava que Portugal "não deve cair no ridículo" ao considerar que existe uma rede de imigração ilegal para o Algarve.

Para o então titular da pasta da Segurança Interna, tendo em conta o número de migrantes que tinham já desembarcado, devia-se "ter alguma dimensão do ridículo quando compararmos com aquilo que são 7500 chegadas a Espanha desde janeiro, mesmo com uma redução significativa de chegadas verificadas neste ano".

Nessa mesma altura, o então ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, considerou também que "não se pode falar de uma rota" de migração para o Algarve

Conforme o DN noticiou, logo em outubro de 2020 a rota foi mesmo confirmada pela investigação criminal do SEF e, na sequência disso, criada uma task force com a GNR e com a Marinha para trabalharem em conjunto da prevenção e apoiarem a vigilância marítima.