Sociedade
28 setembro 2022 às 09h30

Costa. "O que estamos hoje aqui a fazer é abrir linhas de futuro"

O primeiro-ministro, acompanhado pelo responsável da pasta das Infraestruturas, apresentou o novo traçado de alta velocidade entre Lisboa, Porto e Vigo. "É um projeto que une o país", afirmou António Costa. Lisboa e o Porto vão ficar a "uma hora e 15 minutos" de distância, realçou.

DN

"O que estamos hoje aqui a fazer é abrir linhas de futuro", afirmou esta quarta-feira o primeiro-ministro, António Costa, na apresentação do traçado de alta velocidade entre Lisboa, Porto e Vigo. Esta linha é o primeiro passo para a inserção na rede ibérica e vai fazer com que Lisboa e Porto fiquem a "uma hora e 15 minutos" de distância", realçou o chefe do Governo.

"Esta linha estará totalmente integrada com o resto da rede ferroviária nacional. As cidades [do Porto e de Lisboa] serão servidas nas estações centrais", disse Carlos Fernandes, do Conselho de Administração da Infraestruturas de Portugal (IP), durante a apresentação que decorreu no terminal ferroviário da Campanhã, no Porto.

António Costa referiu que este projeto "é uma tradução prática de duas grandes opções estratégicas" definidas em 2015. "Portugal tem de estar na vanguarda na luta contra as alterações climáticas", disse, referindo-se à primeira opção estratégica, indicando que não basta traçar objetivos, é necessário também ações concretas. E para cumprir este objetivo "é fundamental fazer uma mudança estratégica para o transporte público", destacando "o grande investimento na ferrovia".

António Costa afirmou que "tudo entrou nos carris, o comboio pôs-se em marcha e não tem parado. Acho que não há nenhuma linha que não esteja em obras, a não ser as linhas em que as obras já foram concluídas", disse, considerando esta uma "grande mudança de paradigma" no que ao investimento na ferrovia diz respeito.

No que se refere à segunda opção estratégica, "a visão que temos do nosso território e da nossa estratégia de desenvolvimento", Costa indicou que a mesma tem dois objetivos: "reforçar a coesão interna e reforçar a nossa competitividade externa". É, por isso, que esta linha de alta velocidade "é absolutamente decisivo", reforçou o primeiro-ministro.

"Este é um projeto que une o país, serve todo o país e reforça a fachada Atlântica que nos permite a nossa projeção no mundo e de desempenharmos a nossa função histórica, que é sermos o interface entre o continente e o enorme mundo Atlântico", destacou.

O chefe do Governo realçou que, com o desenvolvimento deste traçado de alta velocidade, "não vamos ficar só com as duas áreas metropolitanas mais próximas - e isso é essencial para podermos ter uma dimensão de competitividade à escala ibérica -, todo o país será servido". Isto porque, acrescentou, "nesta linha não circularão só os comboios de alta velocidade, mas também os comboios que servem o resto do país".

Desta forma, disse António Costa, Lisboa e Porto vão ficar a "uma hora e 15 minutos" de distância, mas a cidade da Guarda vai ter "muito menos tempo de percurso em direção ao Porto ou em direção a Lisboa".

"Aquilo que nós estamos aqui a fazer é abrir também uma nova ligação a Espanha", realçou. "Mas é a ligação que reforça a nossa fachada Atlântica".

De acordo com Costa, "esta ligação entre Porto e Vigo é o primeiro passo para a nossa integração na rede ibérica de alta velocidade". Uma integração que "desenvolve o nosso país, que reforça a centralidade e a autonomia do nosso país".

Este novo traçado de alta velocidade "é a solução que permite termos uma dimensão no contínuo urbano entre Setúbal e a Galiza que reforça a competitividade no conjunto da Península Ibérica".

O governante, salientou que infraestruturas como esta "transcendem qualquer maioria". "Os grandes projetos estruturantes, a rodovia, ferrovia e aeroportuária têm de ser objeto de grande consenso nacional, validados na Assembleia da República e ter, pelo menos, o apoio de dois terços", disse.

"Do meu ponto de vista, é um projeto que é essencial para responder às necessidades de desenvolvimento do nosso país, mas, sobretudo, de enorme potencial para o futuro do futuro do nosso país", sublinhou o chefe do Executivo.

António Costa afirmou ainda que, "felizmente, o país tem hoje condições financeiras" para assumir este projeto, "com a tranquilidade de que não haverá sobressaltos que o ponham em causa".

"Este projeto está incluído no Plano Nacional de Infraestruturas 2030, foi discutido e votado na Assembleia da República por uma larguíssima maioria, que transcendeu a maioria de dois terços", recordou o primeiro-ministro, lembrando também os acordos alcançados com as autarquias para o desenvolvimento desta infraestrutura.

"Estamos a deixar soluções para os que nos sucederem", destacou, dizendo haver "condições" para, nesta legislatura, as três obras serem iniciadas e "seguirem viagem".

O ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, defendeu que depois de "décadas de desinvestimento", o protejo da alta velocidade Lisboa-Porto-Vigo é "mais um passo na revolução" em curso na ferrovia.

"Depois de décadas de desinvestimento na ferrovia, de encerramento de linhas e de prioridade na rodovia e transporte individual, não consigo usar outra palavra para descrever o que estamos a fazer: revolução", afirmou Pedro Nuno Santos.

O ministro, que também esteve no terminal ferroviário de Campanhã, no Porto, para a apresentação do projeto de alta velocidade para ligação de Lisboa ao Porto e Porto a Vigo (Espanha), afirmou que hoje "se começa a desenhar mais um passo na revolução" levada a cabo na ferrovia portuguesa.

Destacando que a aposta na ferrovia reúne consenso na sociedade, em particular, na necessidade de maior investimento "que raramente acontece em Portugal", Pedro Nuno Santos salientou que o país "não pode desperdiçar esta oportunidade".

"Não podemos adiar mais, nem hesitar mais, temos de acabar com o pára arranca que tanto caracteriza a decisão política em Portugal", disse.

Quanto ao projeto de alta velocidade, o ministro acredita que mudará a "face" do país de forma "permanente" e que Portugal "precisa dessa transformação".

"Temos de abandonar esse instinto tão nosso de achar que os objetivos são sempre demasiado ambiciosos para o nosso povo", reforçou, dizendo que ter o país "ligado" com comboios rápidos, confortáveis e pontuais está ao "alcance".

A par da rapidez, conforto e pontualidade dos comboios, Pedro Nuno Santos destacou que também está ao alcance do país "fabricar comboios".

"Temos pessoas que nos mostram diariamente que nada disto está fora do nosso alcance", assegurou, garantindo que a ferrovia não é uma "prioridade vazia", mas uma "aposta com resultados concretos, estratégia e ambição".

"É um instrumento para o desenvolvimento do país e já ninguém pára o comboio", acrescentou.

A nova linha de alta velocidade Porto-Lisboa, que pretende ligar as duas principais cidades do país em apenas uma hora e 15 minutos no serviço direto, não terá paragens e será construída em três fases.

Carlos Fernandes, do Conselho de Administração da Infraestruturas de Portugal (IP), avançou que a nova linha de alta velocidade terá via dupla e ligará o Porto e Lisboa numa hora e 15 minutos.

A construção está dividida em três fases, estando a primeira, o troço entre Porto e Soure, prevista concluir até 2028.

Neste que é, disse o responsável, o "troço mais congestionado da Linha do Norte", o tempo de percurso estimado será de uma hora e 59 minutos.

O segundo troço, entre Soure e Carregado, que deve estar concluído até 2030, e deverá diminuir o tempo de percurso para uma hora e 19 minutos.

A terceira fase, entre Carregado e Lisboa, "será construída mais tarde", disse Carlos Fernandes, e permitirá atingir a duração final de uma hora e 15 minutos de toda a ligação.

Carlos Fernandes garantiu, ainda, que estão previstas "múltiplas ligações" entre a linha de alta velocidade e o resto da rede ferroviária.

Quanto às estações centrais - em Lisboa e no Porto - Carlos Fernandes disse que estas serão servidas "sem ter de construir novos troços" porque "os comboios poderão usar ou a Linha do Norte ou a Linha do Oeste e servir as estações sem necessidade de novas construções".

"Isto não será um eixo autónomo, um eixo independente, será um eixo totalmente integrado na rede ferroviária nacional", referiu.

O responsável apontou como "grande benefício" da integração da linha de alta velocidade na linha ferroviária nacional "permitir que a construção desta nova linha se estenda ao resto do país".

"Os benefícios não vão ficar limitados a Lisboa e Porto, ou às cidades intermédias, os benefícios vão-se estender", frisou, dando exemplos de ganhos em tempos de ligação em cidades como Figueira da Foz, Guarda ou Santarém, bem como Braga ou Guimarães.

Em Campanhã, no Porto, a estação ficará preparada para esta nova linha, bem como para ligações a Norte, incluindo Vigo, e preparada para uma ligação "a construir no futuro" de ligação ao aeroporto Francisco Sá Carneiro.

Carlos Fernandes disse que a IP está a trabalhar em parceria com a Câmara do Porto para desenvolver um projeto que integre a "nova" estação de Campanhã na cidade.

Já em Vila Nova de Gaia, este projeto implica a construção de uma nova estação, infraestrutura essa que "foi estudada com o Município" e que ficará no cruzamento de duas linhas de metro (linhas amarela e Rubi) em Santo Ovídio.

"Um passageiro que chegue no comboio de alta velocidade poderá, imediatamente, apanhar o metro", disse Carlos Fernandes, garantindo que também neste caso a solução está articulada com a empresa Metro do Porto.

Em causa está uma estação para servir a área ocidental do Porto e de acesso à alta velocidade a toda a zona Sul do Porto.

Quanto à estação de Aveiro, a IP acredita que será a que necessita de "menor intervenção" por ser uma estação "relativamente recente" localizada no centro da cidade, tendo de intervir "apenas nas plataformas".

"Na estação de Coimbra temos mais trabalho a fazer. É uma estação onde a intervenção tem vindo a ser adiada, mas é também onde o projeto está mais adiantado. Está tudo integrado com o sistema de mobilidade do Mondego. A partir de Coimbra, no futuro, será possível alcançar mais de 150 destinos por comboio", acrescentou.

Carlos Fernandes apontou que no âmbito deste projeto a Linha do Norte a Sul de Coimbra será "quadruplicada".

Na apresentação de hoje, que juntou técnicos, governantes e autarcas, foram ainda apresentados projetos para outras estações e ligações, nomeadamente em Leiria e em Lisboa, local onde será construído um terminal técnico e ampliada a estação do Oriente.

"Iremos construir três novas linhas no lado de terra para acomodar o tráfego de alta velocidade. O terminal técnico será construído a jusante desta estação. O projeto está articulado com uma eventual futura terceira travessia do [rio] Tejo, caso venha a ser construída", concluiu.

Antes, o presidente da IP, Miguel Cruz, recordou que este projeto está incluído no investimento global de 43 mil milhões de euros a realizar até ao final da década na área dos transportes, sendo que 11 mil milhões de euros serão investidos na ferrovia.

Miguel Cruz descreveu os objetivos deste investimento, sublinhando que este está enquadrado nos objetivos de diminuição do impacto ecológico, pretendendo-se "contribuir para a descarbonização do setor dos transportes".

Com Lusa

Notícia atualizada às 13.17