Sociedade
10 fevereiro 2021 às 12h26

Cientistas encontram novas provas sobre origem da covid-19 em morcegos

Especialistas dizem que coronavírus parecidos com o Sars-CoV-2, responsável pela pandemia de covid-19, podem ser encontrados em morcegos em muitas partes do continente asiático.

DN

Um grupo de cientistas descobriu que vários tipos de coronavírus parecidos com o responsável pela pandemia de covid-19 podem estar a circular em morcegos em muitas partes do continente asiático.

Um vírus quase igual ao Sars-CoV-2, que causa a covid-19, foi encontrado em morcegos num santuário de vida selvagem no leste da Tailândia.

Os investigadores perspetivam que estes "familiares" do coronavírus possam estar presentes em morcegos que vivem em muitos países asiáticos.

Esta descoberta recente estende em 4800 km2 a área de provável origem da pandemia e foi publicada esta terça-feira no jornal científico Nature Communications.

No artigo, os investigadores admitem que o local analisado e o tamanho da amostra eram limitados. Ainda assim, estão confiantes de que os coronavírus "com alto grau de relação genética com Sars-CoV-2 estão amplamente presentes em morcegos de muitos países e regiões da Ásia". O genoma do vírus encontrado, denominado RacCS203, apresenta um genoma 91,5% semelhante ao do Sars-CoV-2.

O Sars-CoV-2 também parece estar intimamente ligado a outro coronavírus, chamado de RmYN02, encontrado em morcegos em Yunnan, na China, e que mostra um genoma 93,6% semelhante.

Estudos anteriores sugeriram que o Sars-CoV-2 surgiu num animal, provavelmente em morcegos, antes de se disseminar pelos seres humanos. Essa também a perceção da missão da Organização Mundial da Saúde (OMS) em Whuan, concluída nos últimos dias.

Investigadores de Tailândia, Singapura, China, Austrália e Estados Unidos também analisaram anticorpos e num pangolim no sul da Tailândia e dizem que os anticorpos encontrados nesses animais foram capazes de neutralizar o vírus responsável pela pandemia.

Os especialistas da missão da Organização Mundial da Saúde (OMS) encarregados de investigar as origens do novo coronavírus começaram nesta quarta-feira a deixar a China, país que consideram o "início do caminho" para desvendar a origem da covid-19.

"A equipa está a trabalhar até sair [da China]. Este é apenas o início do caminho, com muito trabalho a ser feito, seguindo as pistas dos nossos colegas chineses", afirmou esta quarta-feira o britânico Peter Daszak, membro da missão, na rede social Twitter.

"Muito orgulhoso das nossas conquistas e realista sobre o percurso que nos espera", acrescentou.

Também Marion Koopmans, virologista holandesa, declarou-se "exausta", mas comemorou a missão de 27 dias em Wuhan, a cidade chinesa onde foram diagnosticados os primeiros casos de covid-19.

"Estou realmente ansiosa para dar os próximos passos", escreveu no Twitter.

A epidemiologista dinamarquesa Thea K. Fischer, que considerou na mesma rede social que a missão foi uma "experiência única", apontou duas teorias preliminares sobre as origens do vírus: através de um animal que serviu de hospedeiro intermediário para humanos ou através de algum alimento congelado.

Esta segunda teoria tem sido defendida pela China repetidamente, nos últimos meses, após a deteção de vestígios do vírus em alguns produtos congelados importados pelo país asiático.

A investigação é extremamente sensível para o regime comunista, cujos órgãos oficiais têm promovido teorias que apontam que o vírus teve origem em outros países.

A administração do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump acusou o Instituto de Virologia de Wuhan de ter deixado o vírus escapar, voluntariamente ou não.

Peter Daszak admitiu que a equipa teve de realizar as suas investigações num ambiente de pressão política.

O chefe da missão, o especialista em zoonose dinamarquês Peter Ben Embarek, descartou que o vírus tenha tido origem num laboratório, e considerou a possibilidade de que tenha chegado à China por meio de produtos congelados.

"Tudo continua a apontar para um reservatório deste vírus, ou um vírus semelhante, nas populações de morcegos", seja na China, em outros países asiáticos ou mesmo em outros lugares, defendeu.

O especialista disse que rastrear o percurso do vírus ainda é um "trabalho em andamento".

A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.325.744 mortos no mundo, resultantes de mais de 106,4 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.