Estado da Cultura... Em Portugal, quando falamos do estado da cultura, falamos do estado do Governo da Cultura. Os últimos oito anos, quase, de governo do Partido Socialista desapontam imenso. Durante o período em que estive no Governo, nomeadamente como titular da Cultura, o PS fez questão de dizer que se fazia mal e que queria fazer melhor. Não foi isso que aconteceu. Digo com clareza que se fez mais nos 4 anos anteriores do que nos últimos 8 de governação socialista. Não é demagogia: podemos confrontar práticas e atos. Mas em Portugal o controlo e a avaliação das políticas é muito reduzido, tanto pela comunicação social, como pela sociedade civil, e fica o soundbite das promessas e muito pouco sobre aquilo que efetivamente se fez..Agora, o estado da cultura é diferente, porque temos, apesar de tudo, ao longo dos anos, melhorado bastante naquilo que é o tecido cultural. O que é necessário é, de facto, que haja um maior engajamento da sociedade civil, das empresas e do Estado na melhoria do tecido cultural. Há muito a fazer..Cultura: Desejo para OE"24? Uma maior capacidade de perceção da importância da variável fiscal. Temos muitas políticas de subsidiação e poucas de incentivo fiscal: precisamos melhorar isso em vários domínios..Maioria absoluta? A maioria absoluta atual deixa muito a desejar. Já tivemos algumas em Portugal e funcionaram melhor. Houve um tempo de governação em que Portugal mais cresceu e se desenvolveu: o período em que o professor Cavaco Silva foi primeiro-ministro. É claro que nesses 10 anos não houve sempre maioria absoluta, mas foi um período contínuo de governação em que Portugal cresceu extraordinariamente, como é fácil, mais uma vez, demonstrar em termos qualitativos e quantitativos. Não aconteceu o mesmo com a governação Sócrates, e de todo está a acontecer com a governação Costa, em que o país está cada vez mais a afundar-se na comparação com os países da UE..Oposição? Infelizmente, também tem deixado muito a desejar. Sou militante do PSD, mas custa-me ver como é que o PSD, tal como Portugal, anda sempre à pancada internamente, em vez de se unir em uma alternativa democrática de Governo. O quase desaparecimento do CDS foi mau para aquilo que é à Direita do PSD. O crescimento do Chega é algo preocupante. Pensávamos que a Extrema-Direita não chegaria a Portugal, mas as coisas, mais tarde do que no resto da Europa, vão cá chegando. E temos uma Extrema-Esquerda, também não esquecemos, com aspetos não-democráticos e totalitários, tal como a Extrema-Direita. Os nervos do Centro da vida política, o PS e o PSD, têm de se refrescar e tanto o Governo de maioria absoluta como a Oposição têm de melhorar a bem dos portugueses..Contas certas? São sempre boas, seja a nível do Governo, do Estado, das famílias. Mas não podem ser feitas à custa de tudo e mais alguma coisa. Neste momento, temos uma consolidação orçamental, mas 95% desta é feita por via das compras que estão agora determinadas pelo Banco Central Europeu e pelo aumento da inflação, o que implicou melhoria das receitas fiscais do Estado. Era preciso estragar muito para não ter contas certas. Ética Republicana... A ética republicana é, infelizmente hoje, mais uma palavra demagógica do que uma verdade efetiva. É chamada à tona de água de cada vez que se quer bradar que se tem uma ética. Quem tem ética não precisa de bradar pela ética. Quem é honesto não tem de dizer que o é, quem é sincero não tem de dizer que o é. São coisas que se veem, que se sentem, se demonstram, não são coisas que se dizem. Quem invoca a ética republicana provavelmente não a tem..Serviço público de TV? Certamente que sim. Deve haver um serviço público de televisão. Agora, tem de ser claro que o serviço público de televisão não pode competir com as televisões privadas: tem de haver claramente a noção do que é o serviço público e como é que esse serviço é prestado aos portugueses, sem usar os mesmos meios, nomeadamente no quadro da concorrência. Caso contrário, temos uma deturpação daquilo que são as dinâmicas da concorrência..Um livro de verão... Não vou recomendar nenhum livro novo. Estão sempre a sair livros e muitas vezes coisas que se chamam livros, mas são essencialmente, digamos, formas de entretenimento fácil, como as pastilhas elásticas que se mastigam e se deitam fora a seguir. Preferia recomendar um livro, por exemplo, como As Cidades Invisíveis, de Ítalo Calvino, um livro do século XX. É um livro sobre a imaginação e o valor da imaginação, nomeadamente como é que se imagina os territórios interiores de nós próprios, e exteriores, e como o desenho desses territórios depende acima de tudo da nossa capacidade de imaginar e de fazer..E uma paixão? Entre outras, a fotografia. Acompanha-me desde criança e não tenho exatamente um elemento para fotografar, tenho mais uma forma de fotografar e um certo tipo de olhar fotográfico. Gosto muito de olhar à minha volta e procurar a escala dos objetos, ler as diferenças de escala e encontrar novas perspetivas para essas escalas..As férias ideais são... Não as vou contar. porque quero guardá-las para mim. Não é um egoísmo, mas é muito privado. As férias ideais são algo abstrato, não existem. A publicidade vende-nos férias nas Ilhas Maurícias, férias em cruzeiros, férias com pôr-do-sol magnífico, mas creio que isso são tudo clichés para vender pacotes de verão. Cada um de nós tem de descobrir o que é para serem as férias ideais.