Fernando Alvim: "A geringonça acabou por provar que era melhor até do que a maioria absoluta"

10 perguntas à queima-roupa, 10 respostas na ponta da língua. Nova rubrica do DN desafia personalidades a comentar assuntos quentes do país e do verão. Hoje é a vez deste humorista, locutor e apresentador de TV.
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Maioria Absoluta?
A maioria absoluta veio a revelar-se afinal não ser a melhor solução. Acho que a geringonça acabou por provar que era melhor até do que a maioria absoluta. As maiorias absolutas podem não ser o que parecem. Parecem a solução perfeita, mas não são. Por exemplo, nas eleições em Espanha agora discute-se a criação de uma nova geringonça. Isto é, Portugal instaurou quase um modelo de sucesso para o mundo.

Oposição e Chega?
É absolutamente necessária. Porque sem contraditório tendemos, ao não ter Oposição, a ter um monopólio e se calhar uma atitude ditatorial, o que não é nada bom. Por mim, chega.

Humor é... E há limites?
O humor é fazer com que as pessoas tenham menos medo das coisas que lhes parecem mais dramáticas.
Há limites, os da Constituição, são esses os limites do humor. Fora da Constituição não vejo nenhum.

Teatro?
Há grandes artistas e muitos deles não estão em palco. Muitos artistas de futebol, da política. Acho que são pessoas que por vezes hipotecam uma carreira nos palcos em detrimento de outros domínios. Não vou precisar quem, não vou ser deselegante a esse nível.

Rádio?
Tem sido a relação maior da minha vida. É o meu companheiro mais fiel, a minha companheira mais dedicada.
Para começar, é uma relação que dura desde a infância. Comecei a trabalhar com 13 anos, portanto, exploração infantil, mas, na altura, como não ganhava, acabava por não ser exploração infantil. Ou então era duplamente exploração infantil. E, portanto, essa atividade começou muito cedo e também desde aí se revelou que era aquilo que queria fazer. Não só a rádio, mas tudo que tivesse a ver, de certa forma, com a comunicação.

Televisão?
É um dos meios em que a comunicação pode ser mais eficiente. E a forma como a comunicação, e neste caso a televisão, está a mudar é um sinal dos novos tempos. As pessoas já não veem tanto a televisão generalista, mas cada vez mais coisas como a Netflix, a HBO. E também mudou a história do prime time. Atualmente as pessoas têm o my time, é o tempo que as pessoas têm disponível para consumir televisão. Cada vez vejo que há menos pessoas que veem TV: antes ter uma vida significava que podíamos estar horas e horas no sofá - nada contra -, mas agora as pessoas querem ir para a rua e viver mais. E acho que talvez seja esse o modelo certo.

Verão?
O verão é claramente a estação do ano em que nos sentimos mais leves e em que estamos predispostos a, por exemplo, estar em inquéritos como este. E não só. Acho que o verão, e o ambiente de férias, faz com que sejamos um pouco mais leves. E isso às vezes é necessário. O mundo devia ser mais leve, como o verão.

Um Livro?
Homem Fatal, de Nelson Rodrigues. De resto, gosto muito de toda a obra de Nelson Rodrigues. Deste livro em particular. O humor dele é inigualável e as suas crónicas são absolutamente extraordinárias. Portanto, marca-me pela forma como escreve e como conta cada história. Ele é um analista.

Irreverência?
Gosto cada vez mais da irreverência, porque significa que a pessoa não está alinhada. Gosto de pessoas disruptivas, contra a corrente. E normalmente essas são irreverentes, têm de ser. Se sou irreverente? Se calhar vai parecer pretensioso, mas sim, acho que sou irreverente.

Protocolo?
Não sou muito a favor do protocolo. Acho que normalmente significa aborrecimento e as pessoas, quando estão a cumprir o protocolo, nunca conseguem ser realmente elas. Mas, de vez em quando, tem de ser seguido, não é? Por exemplo, como é que se cumprimenta o Papa? Com um passou-bem? Damos-lhe um abraço? Beijamos a mão do Papa? É uma questão em que penso muito! Eu não sei. Sua eminência? Deve dizer-se e ajoelhar-se? Não faço ideia.

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