Vítimas de inundações queixam-se de lentidão na resposta
De norte a sul do País e nos Açores, o mau tempo fez estragos. Comerciantes da região de Lisboa, alguns com lojas destruídas, criticam demora na resposta de emergência.
"Estes cinco computadores estão destruídos, as mercearias vão todas para o lixo. Esta caixa tem uns 300 DVD, que custavam 2,5 euros cada. Já ninguém os vai querer. O frigorífico está avariado, a bancada cheia de humidade."
O balanço de Dharam Veer, proprietário de uma mercearia e loja de vídeo indiana na Baixa de Sacavém, dispensa mais descrições do impacto da torrente de água que, pouco depois das 20.30 de sábado, lhe inundou o estabelecimento.
Os bombeiros e técnicos da Câmara "não demoraram a aparecer" quando foi dado o alerta, mas "não fizeram muito". Não quiseram entrar na loja com tanta água. Fui eu e um sócio que começámos a tirar a água, que nos dava pela cintura".
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O prejuízo de "vários milhares de euros" ainda não estava completamente contabilizado. "Pelo menos desta vez tenho seguro. Em 2008 foi ainda pior, a água chegou a dois metros e destruiu tudo."
Mais abaixo na mesma rua, no Café Jardim, os estragos foram menos significativos: "Desta vez tivemos meio metro de água. Como estou aqui há mais de 40 anos, já nos habituámos a isto. Temos os electrodomésticos elevados", conta José Sardinha proprietário. "Mas estamos há 24 horas a limpar, e a perder dinheiro", lamenta.
As notícias do dia, apontando o rio Trancão como "responsável", deixam-no irritado: "Toda a gente abe que o problema está na conduta de água que passa aqui, até fizemos um abaixo-assinado", denuncia . Os ambientalistas da Câmara dividiram aquilo, para separar as águas residuais. "Mas quando vem muita água entope tudo, misturam-se as águas na mesma, e quem perde somos nós."
Do outro lado da rua, o portão destruído e os vidros estalados do Minipreço atestam a força do temporal. Um carro de bombeiros continua a tirar centenas de litros de água do quintal de uma casa. "Comparadas com as cheias de 67, 83 e 2008, estas foram pequenas", diz José Sardinha.
Na praia da Poça, em São João do Estoril, também são visíveis os sinais do mau tempo. Escadaria para a praia destruída, uma caixa de electricidade e um quiosque de gelados desfeitos, uma estátua arrastada uma dezena de metros.
José Luís Coelho, gerente do restaurante-bar Opíparo, conta que "a prevenção" evitou males maiores: "De nosso, só ficou danificado um corrimão." O hábito de consultar na Internet as previsões das marés deixou-o prevenido: "Às 15.30 evacuámos a esplanada. Como temos grades de ferro ficámos protegidos. Até reabrimos à noite e foi casa-cheia até à meia-noite, com muita gente a querer 'curtir' o espectáculo das ondas."
Só não percebe porque a Protecção Civil não tomou os mesmos cuidados: "Ninguém veio avisar os comerciantes do que se preparava", lamenta. E a resposta não foi melhor: "Aquela caixa da EDP ficou destruída a meio da tarde. Só às 22.00 apareceram os técnicos."
O cenário do mau tempo repetiu-se um pouco por todo o País, obrigando a realojar dois lisboetas com a derrocada de parte de um prédio na Avenida Visconde Valmor. No Algarve, as ondas de quatro a cinco metros cortaram a estrada de acesso à ilha de Faro e colocaram as casas em risco. Na Foz do Douro, ondas gigantes causaram no sábado cinco feridos.