Tribunal pune homicidacom 22 anosde prisão

O Tribunal de Vila Real de Santo António condenou ontem o ex-seralheiro Humberto Crispim a uma pena de prisão em cúmulo jurídico de 22 anos e seis meses. Humberto respondia pela acusação da prática dos crimes de homicídio qualificado do companheiro da sua ex-mulher, homicídio na forma tentada e sequestro da ex-sogra, além de uso e porte de arma proibida. Impávido e sereno durante a leitura do acórdão ao longo de cerca de uma hora, o arguido nem reagiu à condenação. Já a ex-mulher Ana Paula Joadas congratulou-se com a decisão judicial.

"Deus fez justiça alguma vez na vida. Vou telefonar à minha filha para lhe dizer que pode estar descansada na escola. Está livre do pai e pode fazer a vida dela normal", dizia emocionada e rodeada por vários familiares, enquanto aguardava nas traseiras do tribunal e junto ao carro celular pelo ex-marido para lhe lançar insultos.

"Assassino! Está feita justiça. Mataste o meu marido, mas a tua filha deseja a tua morte. Nunca mais foi uma criança e ainda anda no psiquiatra", gritava Ana Paula.

Os factos remontam a 10 de Janeiro deste ano, com início pelas 19.20, na localidade de Manta Rota, no concelho de Vila Real de Santo António. Humberto Crispim, de 41 anos, que na altura estaria embriagado e após ter provocado desacatos em vários cafés da povoação, chegou à casa da ex- -mulher, Ana Paula Joadas, de 39 anos, munido de uma caçadeira de canos serrados em riste, com a intenção de a matar juntamente com a filha de ambos, então com 11 anos.

Contudo, quem acabou por morrer foi o companheiro de Ana Paula, Cândido José Gomes Rocha, de 41 anos, manobrador de máquinas de construção civil. Ferido com o disparo da arma a cerca de um ou dois metros de distância à queima-roupa e junto ao portão da habitação, que lhe acertou nos pulmões, ainda resistiu e tentou salvar a família ao subir as escadas a esvair-se em sangue. Mas acabou por sucumbir no corredor do apartamento.

Na residência, situada no primeiro andar, estava também Maria Assunção Joadas, ex-sogra do agressor, que acabou por ficar sequestrada durante hora e meia na cozinha. Humberto Crispim chegou ao ponto de mandá-la sentar-se numa cadeira para lhe dar um "tiro de frente", contou na altura ao DN a senhora. "De frente não me sento. Está frio e faz corrente de ar", ter-lhe-á respondido em tom sereno. "Ele dizia que me matava. Tentei acalmá-lo, falando-lhe calmamente e fazendo-lhe ver as coisas", recordou ainda Maria Assunção Joadas.

A ex-sogra do agressor conseguiu fugir ao aproveitar o momento em que Humberto Crispim pousou a arma, preparando- -se para fumar um cigarro. Ao deparar-se com a fuga, o agressor ainda efectuou um disparo, mas o cartucho apenas atingiu uma parede da habitação, saindo a mulher ilesa.

A filha, Rute Crispim, lembrou então ao DN: "Foram entre 20 e 30 minutos de terror para mim. Apontou-me uma faca de cozinha com uma lâmina de cerca de 30 centímetros. Fugi e escondi-me atrás da porta do quarto. Nem sei como coube lá. Há muito tempo que ele nos ameaçava de morte, mas nunca imaginámos que tivesse mesmo coragem para fazer uma coisa destas".

Só na segunda das três sessões do julgamento, o arguido Humberto Crispim, detido no Estabelecimento Prisional de Olhão, tentou desmontar pelo menos parte da acusação, ao negar a intenção de matar o companheiro da sua ex- -mulher.

Foi um "tiro para o ar", chegou a alegar o arguido. Mas o disparo foi certeiro e atingiu logo a vítima. Ficou, por isso, provado o "tiro intencional disparado a cerca de um ou dois metros de distância", considerou o Tribunal de Vila Real de Santo António. Ainda durante essa mesma sessão, o agressor acabou por pedir desculpa à família da vítima.

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