Pena de 16 anos de cadeia por balear homem na esquadra
Arguido vai ter de pagar 300 mil euros de indemnização à vítima, que ficou tetraplégica. Condenado recorre e diz que não merece prisão
O Tribunal de Portimão condenou, ontem à tarde, José João Pereira Tiago, ladrilhador, a 16 anos de prisão efectiva em cúmulo jurídico, por homicídio na forma tentada e posse ilegal de arma, bem como ao pagamento de 300 mil euros de indemnização à família da vítima, que se encontra tetraplégica e em estado de coma no Hospital de São José, em Lisboa, e 58 mil ao filho desta, de oito anos.
O crime ocorreu em Setembro de 2008, na esquadra da PSP de Portimão, quando José João Pereira Tiago baleou Vítor Gomes, empresário ligado ao sector automóvel. Ambos se queixavam um do outro, devido a um negócio mal sucedido de venda de madeira, em 2003, na zona de Marmelete, situada no concelho de Monchique. A vítima, que terá exercido pressões sobre o vendedor para lhe exigir dinheiro, ficou com um intestino perfurado, tendo sido ainda atingido na zona do tórax e no rosto. José João Pereira Tiago, viúvo e residente em Portimão, com um filho, acabou por ser detido por uma agente policial já na rua e a cerca de 20 metros das instalações da PSP.
Na leitura do acórdão, que se prolongou por pouco mais de 30 minutos, a juíza Alda Casimiro, embora reconhecendo que da parte do arguido, sem antecedentes criminais e que se encontra em liberdade a aguardar a tramitação do processo, "não houve intenção de tirar a vida", entende que ao ter entrado com uma arma numa esquadra da PSP, um local "seguro" por norma, José João Pereira Tiago revelou uma atitude "especialmente censurável".
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O advogado do arguido, Silva Brito, que vai apresentar recurso, considerou a pena "pesada" ao ser abordado pelos jornalistas. "Mas isto se calhar tem a ver também com os últimos acontecimentos que têm vindo a ser noticiados e que apontam para uma certa violência. Então, a mão foi pesada. Só isso", acrescentou, lacónico.
"Estou tranquilo. Não percebo nada disto, infelizmente. Esperava qualquer coisa… mas prisão não. A pena é muito pesada. Fiz algum mal a alguém?..." ,desabafava por seu turno José João Tiago aos jornalistas, sendo de imediato retirado pelo filho com um braço do pátio da sala de audiências.
Antes de entrar na sala de audiências do Tribunal de Portimão para ouvir a sentença, o arguido, mostrando-se calmo, garantiu: "Sou contra matar. Quando foi o referendo sobre o aborto, votei contra."
Na esquadra da PSP, ao deparar com Vítor Gomes, José João Tiago diz que ainda começou "a ver se havia no canto lugar para fugir". "Foi o meu pensamento." Pouco depois, "deixei de o ver, deu-me uma paranóia, umas maluquices" - e disparou. Já em relação à pena que iria ser aplicada, manifestou--se adverso a uma condenação à cadeia: "Prisão? Não posso ser preso. O mais indicado como castigo era ser obrigado a trabalhos comunitários."