Mais segurança, mais vida... e mais barulho
Um ano depois da abertura dos quiosques da Avenida da Liberdade, em Lisboa, há nova vida naquela que era uma das artérias mais esquecidas da capital. Mas moradores e turistas queixam-se.
Passava pouco das 17:30 de sexta-feira e a esplanada do 'Posto 4', dos cinco quiosques concessionados à empresa Banana-Café, estava cheia, entre turistas que bebiam uma imperial ou lisboetas numa pausa para café, já com música de dança a fazer de música ambiente.
O ambiente da Avenida da Liberdade mudou pouco depois de os cinco quiosques abrirem. O presidente da Junta de Freguesia de São José, Vasco Morgado Júnior (PSD), disse à Agência Lusa que os quiosques "trouxeram mais movimento e mais segurança", mas também mais barulho, o que motivou "logo pouco depois de abrirem, há um ano, queixas de moradores e de hotéis".
Mafalda Gouveia, de 45 anos, vive na Travessa do Fala-Só, três ruas atrás da Avenida da Liberdade, mas, ainda assim, há um ano que não dorme descansada.
"Foi barulho o ano inteiro, nos fins-de-semana e alguns dias da semana. "Às vezes, mesmo com as esplanadas vazias, porque estava frio ou chovia, tinham a música alta", contou a produtora de espetáculos à Lusa.
Por volta das 22:00, havia de um pouco de tudo nos quiosques da Avenida da Liberdade: de 'stand-up comedy' (comédia), passando por música ao vivo e repetindo a música eletrónica. Os jovens, vestidos a rigor, enchiam as esplanadas e alguns dos bancos da Avenida.
"A animação é porreira, há segurança e mais gente. Mas os fins não justificam os meios. Falta fiscalização para defender quem cá mora", considerou Vasco Morgado Júnior.
Pelas 23:30, a comédia deu lugar ao rock alternativo dos The Smiths e dos Two Doors Cinema Club e à música eletrónica dos franceses M83 no 'Posto 4'. A bossa nova do quiosque vizinho há muito que se foi: por esta hora regressava-se à música de dança.
Filipa Veiga, de 35 anos, vizinha de Mafalda na Travessa do Fala-Só, compara os quiosques a "discotecas ao ar livre".
"Isto não é música ambiente. Não é 'lounge', não dá sequer para estar a conversar na esplanada. Isto são discotecas ao ar livre. A câmara não pode fazer da via pública uma enorme discoteca", afirmou.
Com o avançar da noite, nas esplanadas não há lugar sentado para todos e os jovens -- e turistas -- vão ocupando a avenida, com um copo na mão. Também os carros se amontoam, estacionados em segunda fila.
O horário de funcionamento dos quiosques é das 10:00 às 02:00. Passam dez minutos da hora de encerrar e no 'Posto 4' a música já acabou. Foram atendidas as últimas pessoas. No vizinho 'Posto 3' continua a música eletrónica -- no mesmo volume -- até às 03:00.
Apesar de sublinhar a "grande mudança na vida da Avenida", o vereador do Espaço Público, José Sá Fernandes, admite em declarações à Lusa que os quiosques "não podem ter tanto ruído", apesar da licença para estarem abertos até às 02:00.
"Estamos a fazer medições e a colocar medidores [de ruído] para resolver a situação", afirma à Lusa. Questionado porque é que esta questão não foi acautelada há um ano, Sá Fernandes disse que "de início [os quiosques] não eram para ter música ao vivo".
O problema da música ao vivo, afirma o vereador, "é perceber até que decibéis pode ir", admitindo que a câmara está a estudar várias hipóteses - entre regular o ruído ou reduzir o horário de funcionamento - para resolver a situação até ao próximo mês.